J.R. Guedes de Oliveira

A casa de Júlio Ribeiro

Um dos mais célebres monumentos históricos de Capivari, compreendendo moradia, é a casa de Júlio Ribeiro, situada na rua Bento Dias, no. 173 (onde funciona hoje, por concessão municipal, o restaurante Tarê Pizza e Sushi), bem na entrada da cidade, quase que com cruzamento da Rua André de Mello.

A certidão de aquisição dessa propriedade foi passada no Cartório do Primeiro Ofício de Capivari, no dia 18 de agosto de 1883, com os seguintes dizeres:

“Escritura de Compra e Venda de uma morada de casa, situada na rua Bento Dias, nesta cidade de Capivari, que fazem Joaquim Caetano Gomes Carneiro e sua mulher Ana Cândida de Almeida ao comprador Júlio Ribeiro”.
Na época dessa aquisição, a vizinhança dessa moradia era constituída pelas propriedades seguintes:

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Foto: JR Guedes

“Aos vendedores e ao comprador, foi dito, pelo tabelião José Alves Moreira, na presença das testemunhas Aprígio Cezarino e Antônio Guilherme Hoppe, que eles são senhores e possuidores da morada de casa cita na rua Bento Dias, nesta cidade, dividindo pelo lado de cima com a casa e terreno de José Caetanho Nunes, com terreno de José Pereira de Araújo, e lado de baixo com casa de Joaquim Borges de Almeida e terreno de Ana de Siqueira, com Matias Faustino Libório, com terreno de Serafim José de Horto e Melo, Carmo de Almeida Dias, casa de Higino de Sampaio e com o de Luiz Antonio dos Santos, e nos fundos com o Ribeirão, de cuja casa faz venda efetiva ao comprador Júlio Ribeiro, pela quantia de seiscentos mil réis”.

Num interessante artigo de Homero Dantas, publicado no jornal Correio de Capivari, edição de 16 de março de 1985, o insígne historiador capivariano, nos contempla com interessantes dados sobre a cidade, relatando, inclusive, sobre a escola fundada pelo próprio Júlio Ribeiro.

A estada de Júlio Ribeiro em Capivari foi de 1882 a 1886. Neste último ano, após célebre concurso, o então chamado “o solitário de Capivari”, mudou-se para São Paulo, onde foi nomeado lente da Escola Normal”.
Segundo se sabe, Júlio Ribeiro possuia um talento multiforme, sendo natural da histórica Sabará, em Minas Gerais. Viveu a maioria de seus anos de existência em cidades do interior de São Paulo: Lorena, Taubaté, São Roque, Sorocaba, Campinas, Santos e Capivari.. Quem o conheceu de perto, era um gênio, bondoso de coração, bravura de suas atitudes francas até a rudeza e as suas esquisitices pessoais. Segundo o professor Cherubim Sampaio, ele costumava passear ao longo da via férrea (trilhos da Sorocabana), sendo o seu lugar preferido a “Ponte do Pinho”. Segundo, o mesmo relato, certa feita os seus vizinhos ouviram, em pleno meio dia, vários tiros na sua casa. Lá ocorreram e encontraram-no deitado de costas em sua cama, com o revólver ainda fumagante à mão. Havia disparado tiros no teto da casa. Sobre este acontecimento, o poeta Rodrigues de Abreu, assim escreveu:

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Foto enviada pelo escritor

“Júlio Ribeiro, assombroso estilista e assombroso gramático, ia além; pontificava na aula dos mais “taludos”, armado de revólver, e, muita vez, depois do cântico da vara se a classe se punha em atitude agressiva, debandava-a neurastgênico e violento, alvejando o pacífico forro da sala de aula… E isso tudo que anda em lenda na minha terra, tem os seus visos de verdade: ainda lá está, como a deixou, a casa de Júlio Rieiro, com sinais salientes de tiroteio pelas tábuas do forro, sinais que muita vez eu vi, visitando aquela casa construída com tanto carinho pelo mestre querido…”

Na época em que Júlio Rieiro residiu em Capivari, a cidade estava no auge das festividades, com concertos musicais, bailes, conferências de figuras ilustres, etc. Foi ai que o ilustre escritor, viúvo então, conheceu Belisária do Amaral, prima de Amadeu Amaral, considerada uma das mulheres mais lindas não só de Capivari, como de toda a então Província de São Paulo.

Eis, pois, em síntese, algo em torno de Júlio Ribeiro na Terra dos Poetas. Temos, agora, a ideia (e vamos apresentar à Câmara de Vereadores de Capivari) de se colocar uma placa nesta casa, com os dizeres: “Aqui residiu o escritor e filólogo Júlio Ribeiro”. Já na Ponte do Pinho, uma placa com os dizeres: “Aqui, sob a Ponte do Pinho, Júlio Ribeiro escreveu “A Carne”.

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