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A história de Dona Emília

Aquela mulher!

Dona Emília.

Acabou por ficar sozinha naquela casa que um dia foi um belo sítio de uma grande família.

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Com o passar dos anos, foi vendendo pedaços — ou partes — de suas terras, até casas com mobília.

A cada dia, mês, ano que ia passando, foi se acostumando.

Ela mesma cuidava da casa, do quintal.

Ia buscar água lá embaixo, no bambuzal.

A lenha para queimar no fogão.

Passava por debaixo da cerca de arame do velho curral.

Assim era a vida dessa senhora.

Aos poucos, a família foi se desfazendo.

Filhos: uns seguindo seus caminhos, outros partiram desta vida. Alguns se casaram e foram embora.

Mas a mãe, Dona Emília, seguia sempre alegre.

Os vizinhos eram poucos, e ainda assim um pouco distantes.

Com coragem e fé, Dona Emília ia levando sua vida adiante.

Tinha por companhia seu canarinho na gaiola — ela com ele conversava.

Suas galinhas, o cachorrinho que a acompanhava.

Era Dona Emília quem fazia e consertava a cerca, plantava milho, tinha horta e, da criação, também cuidava.

Certa manhã, ao buscar água lá no bambuzal, encontrou uma senhora sentada numa pedra, que no chão escrevia com um pedaço de pau.
Ficou assustada, ou até cismada.

Ninguém ia lá.

Afinal, aquele lugar fazia parte do seu quintal.

A vizinha, mesmo distante, era a mais próxima: Dona Cecília.

Preocupava-se com Dona Emília.

Visitava, conversavam, mas não havia muito o que fazer.

Hora ou outra, Dona Cecília aparecia para bater um papinho e tomar um cafezinho.

Falavam da família, dos filhos, netos, da casa que já foi tão movimentada.

Mas Dona Emília não reclamava nem um pouquinho.

Dona Cecília vigiava de longe.

Na verdade, não descuidava. Tratava Dona Emília como se fosse da família.

Mas, neste dia, Dona Emília viu aquela mulher ali sentada… como se estivesse esperando por ela!

Passou, cumprimentou, e desceu até a bica d’água, como fazia todos os dias.

Na volta, a senhora acenou com a mão, como quem diz: até logo.

Dona Emília correspondeu e seguiu para casa.

Lá em cima, perto da varanda, ela não percebeu, mas Dona Cecília viu de longe quando ela passou com o balde de água.

Chegando em casa, Dona Emília viu de novo — a mesma mulher —, agora no jardim, acariciando as rosas.

Antes, no bambuzal, achou normal. Pensou que a senhora tivesse ido beber água, ou parado para descansar.

Mas agora?
Vendo de outro jeito…

Não se assusta, mas pensa ligeiro: parece minha mãe!

Tanto tempo que nos deixou…

A mulher se vira e vem ao seu encontro, com um botão de rosa na mão.

Dona Emília fica parada.

Mas não está com medo.

Está… sem entender.

A mulher chega bem pertinho, e oferece aquele lindo botão de rosa.

Dona Emília aceita e exclama:
— Mãe?!

— Sim, filha. Sou eu.

Enquanto todos te deixaram, eu nunca te abandonei.

Todos esses anos todos estive ao seu lado.

Caminhando com você.

Nesse instante, ouve-se a voz de Dona Cecília:
— Está tudo bem, Dona Emília?

— Avistei de longe… parecia que estava falando com alguém. Está falando sozinha?

E Dona Emília, ainda com o botão de rosa na mão, respondeu:
— Não, é que eu lembrei da minha mãe… gostava tanto desse pé de rosas. Foi ela quem plantou.

Dona Cecília comentou:
— Que linda está a roseira!

Sabia que hoje é Dia das Mães?
— Nem estava lembrando. Para mim, todos os dias são iguais…

— Parece que não, Dona Emília.

Vi como a senhora estava… e agora parece mais feliz.

Dona Emília a convida para entrar e vai à procura de um vaso para colocar o botão de rosa.

Ao colocá-lo, Dona Cecília diz:
— Feliz Dia das Mães!

Dona Emília respondeu duas vezes, com um sorriso nos lábios e os olhos marejados:
— Obrigada… obrigada!

Toninho Junqueira

Toninho Junqueira é locutor há mais de 40 anos, escritor e restaurador de cadeiras antigas e imagens sacras. Desde 2021, conduz sua própria rádio, a São Gonçalo, com 24 horas de programação sertaneja raiz. Fale com o autor por telefone ou WhatsApp: (19) 99147-8069.

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