Opinião

A importância de ser alfabetizado em dois idiomas

Cíntia Maria Falaschi

(*) Cíntia Maria Falaschi

A comunicação móvel torna o mundo cada vez mais globalizado e saber falar inglês hoje é um pré-requisito e não mais um diferencial. Pensando no futuro dos filhos, muitos pais acham que é importante “internacionalizá-los” o mais cedo possível. E, quanto maior a expectativa dos pais, mais cresce a procura por escolas bilíngues e internacionais e aumenta também o número de instituições que oferecem esses serviços.
O primeiro passo a ser dado pelos que buscam esse tipo de educação é entender a diferença das propostas, pois uma escola bilíngue deve seguir as exigências do nosso Ministério da Educação e, portanto, ter currículo e calendário nacionais. Já as escolas internacionais seguem os padrões de seus países de origem – embora algumas também já atendam aos requisitos da política educacional brasileira.
Nas escolas bilíngues, as aulas são ministradas em português e na língua estrangeira, sendo, em geral, o número de aulas no idioma nativo ligeiramente maior. O que a maioria delas propõe é um currículo forte e diferenciado que proporcione a imersão do aluno no idioma estrangeiro, a fim de que haja desenvolvimento natural da sua habilidade com a segunda língua. Nelas, os alunos têm contato com a cultura do outro país, com novas referências e metodologias de ensino internacionais.
Já as escolas internacionais surgiram para atender à demanda de famílias estrangeiras residentes no Brasil, mas não são exclusivas para alunos estrangeiros. Tanto que, atualmente, são compostas por um número maior de alunos brasileiros. O seu corpo docente é misto e o inglês não é apenas objeto de estudo, mas, sim, um instrumento diário de estudo. Geralmente, escolas assim exigem alguma proficiência em ambas as línguas na admissão do aluno. Nelas, há a coexistência paralela das duas línguas e culturas, com o objetivo de tornar a criança fluente em ambas e também capaz de perceber os contrastes linguísticos e diferenciar os valores culturais de cada uma delas.
É importante ressaltar que, se for alfabetizada em outro idioma, a criança não vai ter a sua identidade cultural abalada. Isso porque as preferências culturais se baseiam muito mais na percepção que ela tem das pessoas que a rodeiam, como pais, amigos e educadores. A construção de sua identidade cultural apóia-se nos valores atribuídos pela sociedade às línguas e culturas relacionadas a elas.
O alto custo das escolas internacionais e bilíngues pode ser um empecilho para muitos, que acabam optando por investir em uma escola convencional e em um curso de idiomas feito à parte. Essa opção também é válida se levarmos em conta que aprender outra língua é um processo complexo e muito individual e que, quando se fala em desenvolvimento infantil, tudo é muito variável.
Outra dúvida frequente é sobre a idade ideal para o ensino bilíngue. Estudos recentes confirmam que existe, sim, uma diferença na organização cerebral de quem é bilíngue desde cedo – antes dos 3 anos – e de quem aprendeu a segunda língua depois dos 10 anos, já alfabetizado na língua pátria. As tendências mais atuais indicam que na primeira infância o aprendizado é mais simples, sem esforço; o cérebro da criança é como uma esponja e ela, na fase da curiosidade, aprende brincando. Portanto, se for possível, é bom começar cedo, mas sempre levando em conta que o ensino deve acontecer com naturalidade, respeitando o tempo da criança.
Caso seja feita a opção pela educação internacional ou bilíngue, o essencial é ter em mente que o ritmo de aprendizado é próprio de cada pequeno. Portanto, não se deve exagerar nas cobranças nem haver sobrecarga de tarefas e tensão. A criança deve estar à vontade e relaxada (sem alterações no sono e na alimentação), gostar de ir à escola e se divertir com seus colegas (sinais de boa adaptação) e também apresentar um desenvolvimento normal da linguagem, sem nenhum distúrbio aparente de aprendizado. É fundamental perceber que seu filho esteja feliz na escola, seja ela qual for.
Todos nós sabemos que bons costumes, valores e educação são e serão sempre motivos de destaque das pessoas, em qualquer lugar do mundo. Cada família deve controlar a sua ansiedade, pensar e refletir bastante sobre os valores que julga essenciais na escola dos filhos e também ponderar se a bagagem cultural que virá junto com a aquisição do segundo idioma encontra eco nos valores cultivados dentro do próprio lar.

(*) Cíntia Maria Falaschi é suporte pedagógico de língua inglesa do Ético Sistema de Ensino (www.sejaetico.com.br), da Editora Saraiva

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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