Leondenis Vendramim

A imprensa e a nossa língua 14

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Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)

Um pouco mais sobre a palavra inferno, palavra como já escrevemos, muito curiosa, recebida do latim. Como diz a filosofia bíblica o homem foi criado por Deus do barro e do fôlego divino tornando-se alma viva (Gn 2:7) condicionado à obediência à lei divina, desobedecendo, morreria (Ro. 3:23), podendo pela fé (Ef. 2:5-8) na morte de Cristo (Ro. 5:6-9), retornar à condição edênica na ressurreição ((1 Cor 15:51-54).

 

As filosofias hindu, persa e platônica influenciaram a cultura romana e o cristianismo (sécs. 1 a.C. e 4 d.C.). A adoração ao deus Sol (guarda do domingo, dias da semana) e a imortalidade da alma são inerentes aos catolicismos, espiritismo, maçonaria e a quase todo protestantismo.

 

Linguisticamente inferno significa profundidade, lugar dos mortos, como vimos no artigo anterior. Além das palavras estudadas no artigo da semana passada, a língua grega possui a palavra “hades”, correspondente ao hebraico “sheol” e à sepultura no português. Falando aos judeus de Cafarnaum Jesus disse que eles não iriam ao céu, mas desceriam ao hades e haverá mais rigor para eles do que para os de Sodoma (Mt. 11:23-24).

 

Pedro disse (Atos 2:27,31) que a alma de Jesus não permaneceria no hades. Jesus ressuscitou, Ele tem as chaves da morte e do hades (Ap.1:18). A morte e o hades entregarão seus mortos para serem julgados (Ap.20:13). Se hades fosse o inferno de fogo e castigo eterno, Jesus não teria sido colocado nele! Os justos não iriam para lá, nem mesmo os ímpios, antes de serem julgados. É óbvio que hades é sepultura, mas às vezes é usada como figura de linguagem, com tudo, não há na Bíblia, doutrina de fogo e castigo eterno.

 

Os gregos criam no “tartarós”, referência a uma profundidade bem abaixo do “hades”, lugar de trevas onde os maus recebem castigos dos seus deuses maus. A palavra “tartarós” significa arrojado, lançado (no “tartarós” ou no “abissos” – abismo). Deste vocábulo vem o nome “tartaroûkhós”, isto mesmo, tartaruga.

 

Pior, o nome do quelônio designa os demônios, ou, deuses maus dos “tártaros”. Muitos criam que elas eram criadas no “tartarós”, inferno (a tartaruga, que nada tem a ver com o diabo, põe ovos debaixo da areia, e de lá saem os filhotes). Machado de Assis diz que talvez, por viver no lodo, os antigos tomaram esse animal como “personificação do mal e da heresia”.

 

Você já ouviu sobre alguém que tem tártaros. Tártaros é usada desde o séc. 17 para designar a substância ácida abrasadora que se forma nas bordas dos tonéis, assim também é conhecido o vermelhão escuro que se forma na gengiva devido à acidez causada, especialmente pelo fumo.

 

Esses tártaros podem desprender os dentes. A palavra latina inferno corresponde a sepulcro, lugar onde são lançados os mortos, porém os defensores da teoria mitraísta abrigam a ideia de um inferno em fogo, onde o diabo atormenta os maus dia e noite (ver artigo anterior).  

 

A língua grega antiga chamada “koiné” tinha o termo “koimeterium” (lê-se koimeteriu) Como os romanos sofreram forte influência da cultura grega usavam a palavra latinizada, na forma culta “coemiteriu”, na portuguesa é cemitério.

 

Um dos mais respeitados dicionarista e etimologista Antenor Nascentes diz que os (gregos) antigos acreditavam que a morte era um sono. Atualmente o grego usa necrocorume (lê-se necrocúrime) ou necroterium (necrotérium) – traduzida para o português erudito como necrotério.

 

Necro é cadáver, morto; térium é lugar, portanto necrotério é o lugar dos mortos, usada também na forma erudita necrópoles. O termo grego “pólis” é cidade, necrópoles é cidade dos mortos – são muito usadas as palavras compostas por polis: Petrópolis (Cidade de Pedro), Fernandópolis (cidade de Fernando), polícia, política, polido, soteropolitano, cidadão de Salvador…

 

O vocábulo necropsia (exame de cadáver), necrose (parte ou organismo morto). Os cristãos, seguidores da filosofia bíblica sabem que a morte é apenas um sono, um lapso de tempo no qual os falecidos permanecem inconscientes, inertes e insensíveis.

 

Como Jesus afirmou aos Seus discípulos “Nosso amigo Lázaro dorme, mas vou despertá-lo”. Ele estava falando da sua morte. Depois falou claramente Lázaro está morto” (João 11:11-14). Eclesiastes 9:5,6,10 explica que os mortos não participam de coisa alguma do mundo dos vivos, nada sabem, não têm amor, ódio nem inveja. Esta é a filosofia de Jesus Cristo. (Muitos que dormem no pó da terra ressuscitarão – (Mat. 27:52; e 1 Cor 11:30; 15:6,18,20…).

 

ARTIGO escrito por Leondenis Vendramim, professor de Filosofia, Ética e História. Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal. São de inteira responsabilidade de seus autores.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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