Primeiro dia de aula, a nova professora se colocou diante dos alunos querendo impor respeito, disse: — Tratarei todos vocês com muito carinho e respeito, pois todos são especiais para mim, desde que retribuam, me respeitando também!
Mas, logo nos primeiros dias de aula, percebeu que não seria tão fácil assim como imaginava, pois, um aluno em especial, chamava a atenção dela. Era o Rafael.
O menino que vinha à aula com roupas pouco cuidadas, não trazia feitos os deveres de casa e muitas vezes, cochilava durante a aula, atrapalhando os colegas.
Ela fazia tudo que podia para ajudá-lo, mas nada parecia funcionar, até que desanimada com ele, procurou a diretora para relatar a situação, e desabafou: — Não sei mais o que fazer com o Rafael. Ele parece não ter interesse em aprender como os demais. Eu vim aqui para dar aulas, mas é difícil suportar birra de aluno que não quer aprender!
A diretora, sem dizer uma palavra, pegou em sua gaveta um envelope e entregou à professora – era o histórico escolar de Rafael.
A professora começou a ler e conforme lia o histórico escolar do menino, seu coração apertava:
Primeira série: “Rafael é um menino brilhante, prestativo e muito querido pelos colegas”.
Segunda série: “Rafael, apesar de andar um pouco triste, continua a ser um ótimo aluno”.
Terceira série: “Rafael perdeu o interesse pela escola depois da morte da mãe e o seu pai, parece se importar pouco com ele, se entregando à bebida depois que perdeu a esposa”.
Quarta série: “Rafael está ficando cada vez mais isolado dos colegas. Não quer conversar com ninguém, parecendo querer se esconder dentro de si mesmo”.
A professora não conseguiu segurar as lágrimas que escorreram pelo seu rosto e pela primeira vez, passou a ver Rafael de forma diferente. Ele não era um menino problemático, era apenas uma criança machucada, perdida, sem apoio e pedindo ajuda da única forma que sabia fazer…
No dia seguinte, os alunos chegaram animados para oferecer presentes no Dia dos Professores. Todos traziam embrulhos bonitos, com laços bem feitos e coloridos. Rafael, muito timidamente, colocou o seu presente sobre a mesa.
Era um saco de papel de embrulho todo amassado. Os alunos riram, mas a Professora, abriu com carinho e o mesmo cuidado, com que abriu os outros presentes. Dentro, havia uma pulseira velha, faltando algumas pedrinhas, e um frasco de perfume quase vazio.
As risadas foram ainda maiores e somente cessaram, quando a professora, sem hesitar, colocou a pulseira em seu pulso e pegando o frasco, borrifou um pouco do perfume em seu pescoço.
Terminada a aula, Rafael foi o último a sair e olhou todo orgulhoso para sua professora e, com a voz meiga, disse: — Hoje, a senhora está cheirando igual minha mãe.
Naquele momento, ela entendeu como estava partido aquele coraçãozinho e chorou.
A partir daquele dia, tudo mudou e ela decidiu se dedicar a transformar a vida de Rafael, dando-lhe o carinho que tanto ele precisava e fazendo-o acreditar novamente no amor.
Ao voltar à aula, após o final de semana, ela ainda usava a pulseira e o perfume e Rafael notou, pois pela primeira vez, ela percebeu um sorriso em seu rostinho.
Com o passar do tempo, ele começou a se esforçar mais. Voltou a prestar atenção nas aulas, fazer os deveres, tirar boas notas e ao final do ano, a sua professora a tinha certeza de que Rafael era novamente aquele aluno que toda professora quer ter em sua sala de aula.
Passaram-se muitos anos, e um dia, a professora recebe uma carta e ao abrir viu que era um convite de casamento. Era de Rafael.
“Querida professora, me formei advogado e vou me casar. Não consigo pensar em ninguém melhor para ser minha madrinha de casamento, que não seja a senhora”
No dia do casamento, ela foi e usava a mesma pulseira e o mesmo perfume da mãe de Rafael, que quando ele a viu, seus olhos brilharam e sem pensar duas vezes, correu a abraçá-la.
Com a voz embargada, disse: — Tudo o que sou, devo à senhora.
Mas, com lágrimas nos olhos, ela respondeu: — Não, Rafael. Foi você quem me ensinou a maior lição da minha vida: me ensinou a ser uma verdadeira professora. “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.”
Texto de Coruja Profa.
