Leondenis Vendramim

A música, ciência e Bíblia

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Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)

Música é uma palavra de etimologia curiosa, ela se originou do termo mitológico grego Mousa (musa); recebemos via latim mousa e desta temos museu (era o templo das musas, destinado a estudos das ciências e das artes), músico, musicista… Na mitologia helena, Mnemósine, esposa de Zeus, tinha nove filhas, solteiras (tinham filhos), deusas citadas por Homero na Odisseia, inspiravam e protegiam as artes.

O historiador Hesíodo nominou-as e descreveu suas tarefas: Calíope inspirava a poesia trágica, Clio acurava a História e o harpismo; Éuterpe, a tragédia e a poesia lírica; Terpsícore cuidava da dança, canto e flauta; Urânia, da astronomia e matemática; Tália, da comédia; Érato, da poesia do amor; Polímia, do hino e dança religiosa e Melpômene, tragédia.

Essas deusas eram veneradas e festejadas no monte Hélicon, em Piéria e na Trácia, mais do que em todas as terras helênicas. As estátuas e pinturas dessas deusas com harpas, pergaminhos são símbolos artísticos. Sei que os leitores são instruídos, mas é bom lembrar que mito pode ter um núcleo de verdade. Mitos são narrativas heroicas, fantasiosas e geralmente, de tempos fabulosos (de fábulas mesmo), contos que não correspondem à realidade.

Esse conto de Homero, Hesíodo e outros, embora crido por muitos, não são reais. Portanto, quando na antiguidade, e mesmo na Idade Média, se proferia a palavra mousikós (grego), mousicos (latim), ou música (português), seria entendida como referência às artes de modo geral. Só na segunda metade da I.M. é que o vocábulo passou a designar a arte musical especificamente.

Música é a arte de emitir e combinar sons de tal forma que se torne agradável ao ouvido e de efeito estético. Por agradável entende-se aprazível, que não agride, e por estético, o que causa no homem um sentimento suave e de beleza. Pode ser música de câmara, de programa, de banda, eletrônica, mas precisa ter um resultado artístico agradável ao ouvido e estético no âmago dos ouvintes.

A música é calmante, é terapêutica, eleva os sentimentos e aspirações, enobrece o caráter, torna os ouvintes suscetíveis às afetividades e mais aptos à conectividade com Deus. Neste século não se pensa a música inspirada pelas musas, mas com certeza, as benfazejas músicas, como as demais artes e ciências, são oriundas daquele que tudo sabe e ama suas criaturas.

A música é, segundo alguns enciclopedistas, expressão cultural, a priori, composta para a nobreza e realeza, espelha particularidades étnicas de um povo. Apesar desta definição verdadeira a música é também formadora de cultura. Com o fim do nacionalismo exacerbado a música deixou de ser regionalista; a música popular e a erudita conviveram em todas as classes sociais, contudo, a popular, impulsionada pela indústria do entretenimento, suplantou a música erudita.

Elas sempre se influenciaram mutuamente. As músicas populares eram de alta qualidade, religiosa, poética, dramática, ou romântica, compostas por músicos eruditos como Carlos Gomes, Schubert, Beethoven, Wagner, Villa-Lobos. Na realidade, o que distingue a popular da erudita, como as demais conceituações, são o conhecimento e a popularidade das músicas.

Assim, as músicas dos compositores supracitados são populares, assim como as de Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha, Ary Barroso, Noel Rosa, Adoniran Barbosa, Luiz Gonzaga, Vinícius de Moraes, Tom Jobim e muitos outros.

Há uma linha cronológica conhecida, embora oscilante, das músicas: medieval (476-1400); renascentista (1400-1600); barroca (1600 – 1750) clássica (1750 – 1820) romântica (1820-1910); modernista (1922-1945); pós-modernista (1945-1960); contemporânea (1960-).

A religião xintoísta, budista, hinduísta, no oriente, o catolicismo e o protestantismo, no ocidente, exerceram fortes influências na música, e se entrelaçaram através do tempo. Há, ainda, a influência africana com o maxixe, samba, e outros ritmos. A música cantochão foi inspirada na grega clássica revigorada pelos monges beneditinos, séc. 19.

Por definição, o amontoado de sons, palavreados chulos, agressivos aos ouvidos e ao íntimo do ser, quer no significado, quer pela altissonância, deixa de ser música. Embora ritmado, acompanhado de agitação corporal é tendente a rebaixar os sentidos morais, embrutece e aniquila o que é nobre, torna moucos os ouvidos, irritadiço, belicoso, o gentil, pode enlouquecer o lúcido. Portanto, separe o trigo (música dignificante) do joio.

ARTIGO escrito por Leondenis Vendramim, professor de Filosofia, Ética e História. Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal. São de inteira responsabilidade de seus autores.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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