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A tragédia anunciada do Santos

Marcel Capretz, colunista esportivo

O ano de 2018 do Santos até aqui é um manual de como não se deve conduzir um clube de futebol profissional. Comando diretivo vacilante, brigas internas, escolha de um treinador por disponibilidade de mercado e não por convicção, elenco mal formado. Enfim, o péssimo desempenho que a equipe demonstra em campo é consequência de todo esse processo. Jair Ventura era uma peça mal colocada dentro de uma engrenagem ainda pior.

A escolha de um técnico deve obedecer critérios muito rigorosos. O perfil do profissional deve estar de acordo com o histórico do clube. E aqui não falo das conquistas obtidas por ambos. Até porque me parece óbvio contratar um profissional que tenha sido minimamente vitorioso em suas atribuições. Mas me refiro especificamente a como essas vitórias foram construídas. De que jeito o time historicamente se comporta. Como a torcida aceita melhor a atitude dos jogadores com e sem a bola. Qual modelo de jogo funciona de maneira mais eficaz dentro do ambiente e cenário do clube.

Por exemplo, Santos e Corinthians tem um passado de troféus. Porém claramente podemos identificar as diferentes maneiras que essas conquistas foram alcançadas. Mundo afora, também é assim: Barcelona e Real Madri tem DNAs diferentes. Juventus e Milan, Boca Juniors e River Plate. Etc.

Tudo isso para contextualizar como o trabalho anterior de Jair Ventura, que no Botafogo, dentro do contexto que lá existia foi brilhante, não cabia no Santos. Aquele jeito físico, reativo e de contra-ataque jamais foi aceito na Vila Belmiro.

O resultado de um clube de futebol é fruto de todas as relações que nele existem. O treinador tem um papel decisivo no resultado final. Na Europa se calcula que a liderança técnica responde por cerca de quinze por cento do resultado final de um time. Isso em pontos corridos pode determinar ou um título ou um rebaixamento por exemplo. Porém, se em volta do técnico as coisas não estiverem bem dificilmente vai acontecer um trabalho bem sucedido.

O último suspiro do Santos veio com o bicampeonato paulista 2015-2016. Antes, o último grande título foi a Libertadores de 2011, ainda com Neymar. De lá para, problemas financeiros, contratações equivocadas, brigas internas, troca de técnicos – desde o ano passado foram quatro – Jair Ventura, Elano, Levir Culpi e Dorival Júnior. Há algo de errado com o clube. Demitir Jair agora foi um erro. Deixa-lo a inter-temporada toda e dispensa-lo após dois jogos não é inteligente. Mas contrata-lo também se mostrou um equívoco. O trabalho dele não foi bom. Ofensivamente, chega a ser constrangedor ver o Santos atuar. Mas o problema santista é maior. O buraco é mais embaixo.

ARTIGO escrito por Marcel Capretz
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Jornal O Semanário

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