Opinião

A TV e a formação da família

24/11/2014

A TV e a formação da família

Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)
Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Arquivo pessoal)

Artigo | Por Leondenis Vendramim

Menino, deixe-me sossegada, preciso arrumar a casa! Vá assistir TV. É a sociedade moderna, consumista, que exige mais dinheiro. Pai e mãe têm de sair para o trabalho enquanto os filhos ficam diante da TV. O Brasil tem perto de 200 milhões de habitantes, e segundo o IBGE, 89% dos lares possuem TV, mais do que os que possuem geladeira (85%), apesar de estas serem essenciais para a alimentação e saúde, enquanto a TV pode ser prejudicial. Isto mostra a importância que as famílias brasileiras atribuem à televisão; é um fenômeno cultural. O Brasil é o país em que as crianças assistem mais TV. Segundo o Ibope 99% delas têm a mídia televisiva como a principal fonte de entretenimento, em média assistem 4 horas diárias (1460 h/ano), mais do que em sala de aulas (1200 h/ano, sem levar em conta os minutos entre entrada e saída dos professores e chamadas…). As crianças brasileiras são as que mais assistem à TV por dia. Vê-se por 4 horas, nos EUA, 3 horas e 16 minutos; na Indonésia, 3 horas e cinco minutos; na Itália, 2 horas e 43 minutos, no Japão, 2 horas.

O Brasil é marcado por alta taxa de analfabetismo, sistema público de educação deficiente, profundas desigualdades sócio econômicas, e altíssima e progressiva taxa de criminalidade. Haveria alguma correspondência?

Em 2002 foi lançado o Baby First TV na Europa, em 2003 nos EUA e no Brasil em 2005, canal voltado às crianças de 6 meses a 3 anos. Segundo a Kaiser Family Foundation, um dos mais importantes institutos de pesquisa americano sobre comportamento familiar 83% das crianças entre 6 meses e 6 anos assistem à TV por mais de 2 horas todos os dias, e muitas têm aparelho ligado 24 por dia.

A Sociedade de Pediatria e Neurociência Norte-americana criticou duramente esse lançamento pelos malefícios que trariam às crianças, física, espiritual e psiquicamente. Sharon Rechter, vice-presidente do canal “Crescer” diz que os pais devem analisar, de fato, a questão de qualidade e que a TV serve de estímulo positivo e educativo. Mas será que as crianças podem ser expostas à TV? Muitos defensores do aparelho dizem que não há uma conclusão inconteste a respeito dos efeitos sobre crianças e adolescentes. A professora de psiquiatria da Harvard concorda que não há certeza “Mas enquanto não se tem certeza, não podemos arriscar” disse ao jornal The Washington Post. A psicanalista infantil Ana Olmos diz que “para a criança de 2 anos ou menos não é o mais indicado, pois o bebê aprende por experimentações, precisa mexer, tocar as coisas, brincar com água. Tudo o que pega é traduzido em informações para ela entender o mundo. O neuropediatra Luiz Celso Vilanova, da Unifesp diz: “Não se aprende só vendo, mas também fazendo”.

O poder de influência da TV sobre principalmente crianças e adolescentes, é incontestável. Estudo da Universidade de Stanford comprovou que as crianças que passam mais tempo em frente da TV são propensas a pedir aos pais que comprem o que viram no comercial da tela. O Conar, órgão que regula a publicidade no Brasil vetou a frase “peça para a sua mãe” nas propagandas dirigidas às crianças. Fernanda Roche, psicóloga do espaço Criança em Foco, de Curitiba diz que o que uma criança vê pode achar normal, portanto deve evitar que elas vejam telejornais, novelas, programas policiais, filmes violentos e ou “picantes”.

A TV é formadora de opiniões e através de luz e imagens, incute na mente dos telespectadores, imperceptivelmente, aquilo que transmite. Quão importante é nosso caráter para ser formado pela TV? Somos responsáveis pelo que assistimos e deixamos nossos filhos assistirem.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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