Há exatos 60 anos passados, o jornalista José Miguel Bósio, em seu editorial comemorava mais um aniversário do seu jornal que fora fundado em 07 de outubro de 1923.
O editorial que trago abaixo na íntegra é para degustar, haja vista a gramática usada por seu fundador e redator ser um deleite sem igual para os amantes da boa leitura:
Reflexões a propósito da entrada d’ “O Progresso” no 39º ano de sua existência real
“Estamos hoje no limiar do 39º ano de existência ininterrupta d’ “O Progresso”.
Rafard pode orgulhar-se de possuir o mais antigo jornal da zona, onde existem municípios que nunca tiveram jornal e outro que de há muitos anos o perdera. O que nos leva à conclusão: “O Progresso” é parte do patrimônio de Rafard.
Coisa que a não poucos poderá parecer banal ou ingênuo, supérflua, ou, mesmo exagerada, se não julgarem que este modestíssimo jornal, desde o primórdio, leva o nome de Rafard para numerosíssimos rincões, longe de Rafard, de Capivari, fora até das fronteiras da Pátria.
Nesse ponto chegamos precisamente num dos momentos mais angustiantes, mais difíceis, para a pequena imprensa do interior. Priva de todo recurso. Quase não existe publicidade. Anúncios da Capital ausentes há anos. Os locais pouco podem garantir.
Não bastasse isso, sobreveio em Agosto a sobrecarga das tarifas postais, privando-nos também da regalia da taxa especial para os editores, passando a cobrar um cruzeiro de 50 gramas (taxa mínima comum). A isso, acrescente-se a medonha majoração do preço do papel e outros materiais indispensáveis, numa ascensão de 150% (cento e cinquenta por cento)!!!
Tudo isso bota no caminho de maior dificuldade a já assaz amargurada vida de um pequeno periódico interiorano.
O que há, é uma avalanche de pedidos de publicações gratuitas (mesmo por parte de certas repartições públicas, esquecidas que só os grandes jornais abocanham os bons proventos), como se nos viessem os recursos para sustentar a folha nas rajadas de vento…
Contudo, no meio desse tropel de contratempos e contrariedades, que surgem seguidamente, consola vêr-se a perseverança com que nos seguem e coadjuvam numerosas assinaturas, uns desde a fundação e outros de longa data; a benévola colaboração que ao “O Progresso” dispensa a Usina Rafard, pela generosidade dos seus ilustres Gerentes e Administradores; a cooperação valiosa da Egrégia Câmara Municipal de Capivari, com a publicação dos seus atos.
Generosidades que cativam, sugestionam e reduzem o peso do fardo, tornando-o suportável e encorajando a prosseguir na reta da rota mestra, sempre e de longa data palmilhada, dentro da ética profissional, do respeito à profissão, sem críticas ásperas ou jactanciosas, ineducadas, contraproducentes. No nosso jornal jamais tiveram espaço diatribuss e nem pseudônimos descamisados, daqueles que gostam da patinha do gato…
E, in cauda venenum, diante daquilo que expusemos, temos de tomar uma atitude drástica, para reduzir as despesas e conservar a publicação. E, tal resolução consiste em diminuir o tamanho d’ “O Progresso”, voltando ao formato antigo que constava duma folha”.
Atente o caro leitor para as dificuldades que enfrentava os periódicos de pequenas cidades interioranas naquele tempo, e creio não ser muito diferente nos dias atuais. Por isto é que devemos prestigiar ainda mais nosso “Jornal O Semanário” pois tal e qual o jornal “O Progresso” também é motivo de muito orgulho para nossa cidade.
Semana que vem, se Deus permitir, tem mais. Abraço.
