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Apaixonada por selos revela seus tesouros

08/08/2014

Apaixonada por selos revela seus tesouros

Juliana Noveletti, 36, não perde a oportunidade de ampliar suas pastas cheias de história
(Foto: Laila Braghero/O Semanário)
Filatelista capivariana tem mais de mil selos de vários países distribuídos em três pastas (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

CAPIVARI – A comerciante Juliana Noveletti, 36, descobriu a filatelia, paixão pela arte de colecionar selos postais, há dez anos, quando o ex-marido transferiu a ela uma herança de gerações. A prática foi inserida na família por Geraldo Delasnieves, e passada ao neto quando ele tinha 15 anos. “Eu tenho muitos selos de fora do país porque ele era espanhol, então tem muita coisa da Espanha, de todos esses lados.”

A capivariana organiza os 1.156 selos por coleção: época, música, países, insetos, profissões, obras de arte e por aí vai. O maior cajueiro do mundo, um selo lançado em 2006, é seu preferido. De tão grande, a parte destacável que seria destinada à correspondência fica pequena, contornando apenas o cacho da fruta. “É difícil colocar esses em carta. Eles fazem apenas para colecionadores.” São os chamados selos comemorativos.

Com uma pinça, dessas de remover pelos, e um pingo de cola, ela manuseia belezas e curiosidades do mundo inteiro em três pastas. “O bisavô da minha filha nunca veio para o Brasil. Quem veio foi a filha dele, quando ainda era adolescente, só que meu ex-marido sempre ia visitar os avós. Aí nessas idas e vindas teve a história do selo”, explica Juliana. Ela conta que o avô de Rafaela, 18, também viajava bastante para outros países e trazia muitos selos internacionais para o filho.

“E meu pai tem uma transportadora, ele recebe diversas cartas de Minas e lá tem uns selos diferentes. Daí o pessoal guarda pra mim. E fora as outras pessoas que sabem que eu gosto e guardam; além dos que eu mesma vou comprando, toda vez que tem novo”, diz. “E quando a Lúcia tem, ela me liga. O pessoal do correio lá de cima [da Barão do Rio Branco] guardava muitos pra mim também, quando chegava selo diferente.”

Vera Lúcia Campanholi de Paula, 40, é gerente da agência dos Correios Caminhos do Sol, da Rua Tiradentes, em Capivari, e dá o maior apoio ao hobby desenvolvido por Juliana. Além de separar os selos para a colecionadora, ajuda a vender, a trocar, e fez parte, inclusive, da quase impossível missão para conseguir um selo comemorativo do calendário lunar chinês.

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Selo impresso em 2001, ano da serpente no calendário lunar chinês, foi o mais difícil de conseguir (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

“Esse aqui, olha”, disse apontando um pedaço de papel vermelho com uma serpente dourada em relevo. Datado de 2001, o selo é maior que o convencional: 3,5 cm por 7,5 cm. “A Lúcia conseguiu, guardou pra mim, mas depois entregou para o meu sobrinho, que não queria me dar porque falou que era bonito. Aí eu tive que comprar dele, não lembro quanto paguei na época; faz uns sete anos isso. Foi um rolo. O que mais deu trabalho”, lembra.

A primeira série de selos brasileiros, conhecida como Olho-de-boi e impressa no dia 1º de agosto de 1843, por determinação do Governo Imperial, foi comercializada em três valores: 30, 60 e 90 réis. O primeiro selo foi criado na Inglaterra três anos antes, ou seja, o Brasil foi o segundo país do mundo a utilizá-los em carta. Portanto, anualmente neste dia, é comemorado o Dia Nacional do Selo.

E, desde então, filatelistas do mundo inteiro, assim como Juliana, alimentam o gosto por esses papéis adesivos, os quais, mais do que comprovar o pagamento de uma taxa por serviços postais, carregam história, cultura e conhecimento de suas origens. “Mas dizem que colecionador tem que pegar carimbado; outros dizem que não, que tem que pegar o lote inteiro. Não sei. O meu é mais amador: eu pego um aqui, outro dá ali, e assim vai”, comenta.

Um dia perguntaram à capivariana se ela já havia avaliado a coleção. Porém, o valor comercial está longe de ser o que mais importa para os filatelistas. O que vale é o prazer em manipular cada selo, tirar o papelzinho de trás – “às vezes precisa até colocar no vapor” – e passar o gosto de geração em geração. “Eu nunca tive curiosidade. Prefiro deixar quieto. Quem sabe um dia meus bisnetos resolvam levar adiante”, brinca.

Isso porque importante mesmo é encontrar alguém para trocar as “figurinhas” repetidas. “Eu tenho um saquinho só para trocas. Tem uns até que eu comprei; comprei de novo pensando que não tinha, queria morrer quando chegava em casa.” Somente uma vez a esposa de Reinaldo Marangoni, 36, conseguiu achar outro filatelista na cidade.

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Juliana passa os dedos sobre um selo em braile, lançamento em homenagem à Fundação Dorina Nowill para Cegos (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

“O pessoal do correio lá de cima me falou de um mocinho que se chama Bráulio. Ele tinha uma coleção razoável de selos, e muitos repetidos. Ele me deu tudo e hoje nem mora mais aqui. Deu certo porque, além de ficar com novos, fiquei com mais alguns repetidos para trocar. Eu ia adorar se você tivesse pra eu poder trocar meus repetidos”, convida.

Até no Mercado Livre a colecionadora já tentou comprar algumas edições diferentes, que demoram ou nem chegam a Capivari – como os da Copa do Mundo 2014, por exemplo, ou do Corinthians, que é de tecido aveludado. Mas nem ela, nem Lúcia obtiveram sucesso porque, segundo Juliana, essa categoria do site “é uma bagunça”. Foi na época em que morou em Indaiatuba, conta, quando conseguiu mais selos. “Lá tinha um monte.”

Mas e quanto custa ser filatelista, mesmo que amador, como se intitula a colecionadora? De acordo com Juliana Noveletti, cada quadradinho vale, em média, R$ 3. No entanto, ela explica que não tem como comprar apenas um pedaço. O colecionador gosta de levar a cartela inteira. E isso não fica tão barato. “Aí eu chego lá e tem quatro cartelas, então acabo levando tudo.” Com isso, uma ida ao correio pode chegar a R$ 20.

Ao mesmo tempo, ver todos aqueles desenhos e fotografias em miniatura compensa qualquer tipo de gasto. Afinal, os selos de Juliana são uma fonte de conhecimento inesgotável. “Se eu abrir a pasta uma vez por dia, uma vez por dia vou encontrar um novo detalhe que não vi, vou recordar alguma coisa. Eu não lembrava que tinha o papa”, disse olhando para Francisco, todo sorridente, acenando do rodapé da página.

A pasta preta é a que Juliana mais gosta, 'porque os selos são mais modernos e coloridos', explica (Foto: Laila Braghero/O Semanário)
A pasta preta é a que Juliana mais gosta, 'porque os selos são mais modernos e coloridos', explica (Foto: Laila Braghero/O Semanário)
A filatelista tem um saquinho só de selos repetidos, como esses do Jorge Amado (Foto: Laila Braghero/O Semanário)
Para retirar o papelzinho de trás, às vezes é necessário colocar o selo no vapor (Foto: Laila Braghero/O Semanário)
Os selos de Juliana são organizados por coleção: época, música, países, insetos, profissões, obras de arte etc. (Foto: Laila Braghero/O Semanário)
Os selos de Juliana são organizados por coleção: época, música, países, insetos, profissões, obras de arte etc. (Foto: Laila Braghero/O Semanário)
Os selos de Juliana são organizados por coleção: época, música, países, insetos, profissões, obras de arte etc. (Foto: Laila Braghero/O Semanário)
O selo estilizado que apresenta o maior cajueiro do mundo é o preferido da filatelista. O 'Cajueiro de Pirangi' está localizada em Parnamirim, no Rio Grande do Norte (Foto: Laila Braghero/O Semanário)
Juliana mostra os selos lançados em homenagem às obras de Romero Britto; a direita, série assinada pelo cartunista Ziraldo e impressa no Dia Mundial de Combate a Aids, em 2011 (Foto: Laila Braghero/O Semanário)
No rodapé de uma das páginas, a filatelista se depara com um selo de 2013, lançado em homenagem ao papa Francisco (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

 

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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