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Após dez meses no Equador, rafardense retorna com bagagem amadurecida e cheia de conhecimento

15/08/2014

Após dez meses no Equador, rafardense retorna com bagagem amadurecida e cheia de conhecimento

Gabrieli Martimbianco, 17, cursou o último ano do ensino médio em Quito, com bolsa oferecida pelo Rotary Club

RAFARD – O blazer azul marinho carregado com 130 pins (ou broches) não era o mais adequado para a tarde ensolarada que fazia em Rafard, mas a oportunidade de compartilhar um pouquinho da experiência que viveu compensava qualquer desconforto. O sorriso estampado no rosto da jovem, acompanhado do riso fácil, não deixava dúvidas: faria tudo de novo, disse logo, “quantas vezes pudesse”.

Foto: Laila Braghero/O Semanário
Gabrieli ganhou a bolsa de estudos do Rotary em abril de 2012 (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Gabrieli de Cássia Martimbianco, 17, acaba de voltar de um intercâmbio que durou dez meses na cidade de San Francisco de Quito, capital do Equador, que fica na província de Pichincha. Ela cursou o terceiro ano do ensino médio numa instituição particular, aproximadamente 35 km a sul da linha do Equador, por meio da bolsa de estudos “Sebastião Santos Oliveira”, do Programa de Intercâmbio de Jovens do Rotary.

“Eu ganhei a bolsa em abril de 2012. Até ir viajar frequentei todas as reuniões do Rotary para saber o que era. Antes, eu não fazia ideia de que o Rotary existia. Em fevereiro, o José Carlos Darros e o Angelo Piazentin foram a minha casa para falar do intercâmbio, saber se meus pais concordavam, se eu poderia fazer a prova; aí eles concordaram e eu também, claro. Quem não quer uma oportunidade dessas?”

Gabrieli fez a prova em março e, um mês depois recebeu, na escola, a notícia de que havia sido selecionada. “Eu cheguei no Jeni [Escola Estadual Professora Jeni Apprilante], aí apareceu o Túlio [Darros], o José e o Angelo na sala da coordenadora. Eu assustei porque foram me chamar e, assim, descer naquela parte da diretoria só se fosse coisa muito séria. Mas eles foram pra dizer que eu tinha passado. Tem até um vídeo no qual eu faço um escândalo, grito, começo a chorar”, lembra.

Ao todo, os Rotary Clubs enviaram ao país 130 intercambistas de uma só vez, de várias nacionalidades – alemães, franceses, japoneses etc., os quais ficaram hospedados em casas de famílias distribuídas entre as províncias equatorianas como Guayas (Guayaquil) e Azuay (Cuenca), por exemplo. Como exigência do programa, cada estudante levou uma quantia de pins para trocar entre si, dando origem aos blazers enfeitados de bandeiras e outros símbolos representativos.

Foto: Laila Braghero/O Semanário
Antes de viajar, a estudante participou de todas as reuniões do clube de Rafard, que integra o Distrito 4310 (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Entre as responsabilidades, Gabrieli conta que os intercambistas também precisavam seguir quatro regras impostas pelo Rotary: não dirigir, não tomar álcool, não usar drogas e não namorar. “Pra mim não foi problema nenhum”, garante. E, claro, participar de todas as reuniões do clube. “Eu tive que fazer algumas apresentações sobre o Brasil, sobre a minha família e sobre o Rotary daqui, e ajudar nos trabalhos voluntários.”

No início, a interação entre os jovens acontecia em inglês, mas, segundo Gabrieli, os brasileiros eram bem excluídos nessas situações, porque poucos sabiam o idioma. A comunicação melhorou com o tempo, quando todos passaram a falar espanhol. Ainda de acordo com a intercambista, o aprendizado depende muito da família com a qual o estudante está vivendo.

A filha do técnico em Eletrônica Edinilson Aparecido Martimbianco, 46, e Cleuza da Silva Martimbianco, de mesma idade, encontrou em Quito uma família tão amorosa quanto a verdadeira. O casal Carlos Drouet, 47, e Maria Fernanda Baca, 42, recebeu Gabrieli de braços abertos e, prontamente, aceitou ser chamado pela estudante de papá e mamá. “Em espanhol é padre e madre, mas eu acho um pouco estranho falar desse jeito.”

Além disso, ela conta que teve ainda um abuelo (avô), Roberto Ponce Baca, 67, o qual também era chamado de abuelito ou “avozinho”. “Meu avós daqui morreram quando eu era criança, mal cheguei a conhecê-los. Lá eu tinha um avô pelo qual me encantei. Todos os dias ele ia almoçar com a gente”, diz.

A jovem acredita ter sido a mais sortuda entre todos os intercambistas, pois passou os dez meses na mesma casa. “Essa família foi muito carinhosa comigo. Eu tinha até um irmãozinho de 12 anos, Estéfano Drouet, ele ficava mais no vídeo game e, às vezes, quando tinha prova pedia pra eu estudar com ele”, continua Gabrieli. O irmão de sangue, Kauan Breno Martimbianco, é quatro anos mais novo.

Foto: Laila Braghero/O Semanário
Rafardense exibe os pins que trocou com 130 intercambistas de vários países (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Conhecimento

Ao contrário do que acontece com algumas pessoas que vão estudar um ou dois semestres em outro país, a rafardense não perdeu o ano letivo no Brasil. Em vez disso, voltou “como se nunca tivesse saído da escola”. Gabrieli, que morria de medo de ter que cursar o terceiro ano novamente, o que a impediria de ingressar numa universidade no ano que vem, teve equivalência de notas e vai se formar com os amigos.

“Nos primeiros meses eu fiquei meio parada, na minha, com medo até de falar, mas depois fui considerada uma das melhores alunas da sala. No começo você fica mais quietinha, porque não sabe como funcionam as coisas, mas depois que aprende… porque você passa a ser uma observadora, né? Em qualquer lugar você observa tudo: os detalhes, como as pessoas agem.”

Sobre estudar em outra língua, ela conta que antes de viajar cursou quatro meses de espanhol numa escola de idiomas de Capivari, contudo afirma que “poderia ter ido sem fazer o curso”. A rotariana recorda que nos primeiros dias fingia entender o que as pessoas falavam. “Mas na segunda semana eu já entendia tudo, e sempre que eu falava alguma coisa errada alguém da minha família de lá dizia ‘não é assim que se fala’. Eles viviam me corrigindo e isso é ótimo para aprender”, enfatiza.

Foto: Laila Braghero/O Semanário
Gabrieli fez amizades e ganhou uma segunda família no Equador (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Amizade e turismo

“Micaela Ordoñas. Essa foi a que desde o começo passou mais tempo comigo”, diz firme quando questionada sobre os amigos que fez lá. A equatoriana, que tem a mesma idade de Gabrieli, esteve sempre junto na escola e morava bem perto da jovem. Fazer amizade com pessoas do país facilita muito, segundo Gabrieli. Além de conhecer vários lugares, a dupla ia ao shopping quase todos os dias. “Lá tem muito shopping.”

Com a família e com o próprio clube rotário, a rafardense também visitou diversos pontos turísticos da região. “Primeiro conheci a maior parte da Costa, Manabí conheci quase inteira, e meus pais me levaram para conhecer a neve, os vulcões; acho que uma das experiências mais gostosas que tive foi a de passear na neve”, conta.

“A parte do Oriente, que é como se fosse a Amazônia daqui, também foi uma viagem muito legal. Passei por muitos hotéis, uma coisa que às vezes cansa. E na última viagem quase não fui porque não aguentava mais ir à praia. Fui o ano inteiro desde que cheguei, a cada dois meses. Teve uma viagem em fevereiro que fiquei quase duas semanas na praia. E olha que eu morava na Serra”, continua Gabrieli.

Crescimento

Mais do que conhecimento, sair da zona de conforto para viver um tempo em outro país, com outra cultura, costumes e crenças, proporciona crescimento pessoal. “Você muda completamente, parece que se sente mais velha. É amadurecimento. Você sai de um jeito e quando volta percebe como agia, como pensava.” Para Gabrieli Martimbianco, até em casa as coisas mudam.

“Depois que você fica longe da família, você percebe o quanto ela é importante. O motivo de às vezes seus pais proibirem alguma coisa ou não. Quando você viaja, acaba percebendo tudo isso, refletindo muitas coisas”, admite. Por outro lado, a intercambista, que tem problemas de bronquite, diz ter rezado para não ficar doente, caso contrário precisaria se virar sozinha. Com sorte, Gabrieli teve apenas um resfriado dias antes do Natal. Segundo ela, o clima de lá fez bem.

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‘Você muda completamente, parece que se sente mais velha. É amadurecimento’, define a estudante que viveu dez meses em outro país (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

“As pessoas não acreditavam que eu aguentaria ficar. Tem gente que não aguenta mesmo, porque a pressão e a distância – 5.500 km – são grandes. Quando você está doente não tem sua mãe ou seu pai ali, fazendo carinho”, comenta. No mais, “passou super bem”. Todos os meses, Gabrieli recebia uma mesada do Rotary de Rafard e outra do clube do qual participou em Quito. “Então foi muito tranquilo.”

Agora, fica o dever de cumprir a missão que ela mesma se destinou: passar adiante o conhecimento adquirido. A jovem acredita que é preciso “abrir um pouco mais a mente” de quem mora no interior paulista, para que essas pessoas “vejam que há muito mais do que isso aqui, esse pedacinho que a gente vive”.

Do mesmo modo, a equatoriana de coração afirma que irá estudar muito, a fim de se tornar no futuro uma “grande profissional”. Gabrieli quer cursar Economia e, para isso, vai prestar vestibular em algumas instituições públicas. “E quero poder viajar de novo, quem sabe? Uma vez que você viaja, quer ir outras vezes. Eu quero conhecer outros países e, com certeza, um dia vou ver minha família de novo no Equador.”

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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