Rubinho de Souza

Artigo de Pedro Silveira Rocha no “O Progresso” edição de 05/11/1944

“Rafard, este promissor distrito, este belo e fecundo palmo de terra, situado à margem esquerda do Capivari e ladeado por majestosas plantações de cana, vai também caminhando, a passos tardos é certo, mas vai em direção ao progresso.

Ainda ontem mesmo, era uma acanhadinha vila com poucas casas, rua Maurício Allain denuda, poeirenta à sêca e alagadiça às chuvas, o que infortunava e desconfortava os seus moradores.

De quinze anos a esta parte, tem progredido sensivelmente, entretanto. Aumentou grandemente o número de prédios – entre os quais, alguns bem elegantes que lhe deram aspecto mais característico de cidade – assim como também a população que já está atingindo os dois mil habitantes, calculadamente, só no perímetro urbano.

A Usina Açucareira, não era o que é hoje, magnífico edifício, maquinários todos modernos, mais eficientes e mais fáceis de manejá-los; não tinha, como agora, um excelente prédio de escritório, muro separando o engenho ao mesmo tempo que lhe empresta algum embelezamento. E, quase pronto, o imponente prédio do Refeitório, onde à hora do “lanche” os operários, em íntima camaradagem, reunir-se-ão, e passarão nessa hora doce de descanso, alguns instantes mais agradáveis e mais seguros das intempéries.

Possui ótima praça de esportes; comunhão mais fraternal de ideias entre os seus filhos; bares e cine – teatro melhorados; igreja matriz otimamente reformada, e a agência do correio igualmente; o seu modesto, mas bem arranjadinho jardim; a limpeza das ruas que outrora não se fazia tão a miúdo; o calçamento, que lhe foi um dos maiores benefícios jamais prestados. É verdade que está inacabado, mas cremos, que o digno Governador de Capivari, sr. Mário Bernardino, breve ordenará que se lhe complete. Será uma grande contribuição, pois nas ocasiões de sêca é simplesmente horrível o pó que se acumula e se espalha ao passar qualquer veículo, e não menos é o sofrimento dos moradores dalí.

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Foto do artigo publicado no jornal O Progresso

E, para muito logo, graças ao esforço coletivo – isto é, do sr. Prefeito, sr. dr. P. Resmond, dos professores locais e deste Semanário – terá dado mais um passo avante. Rafard terá, ao alto, à esquerda, num apropriado terreno e aprazível recanto, grata e nobremente cedido pelo saudoso Vitório Talassi – o seu já muito esperado Grupo Escolar. Não há dúvida nenhuma de que é de grande necessidade, dado o aumento de alunos, o conforto que este já não dispensa etc. Gesto esse do falecido Talassi, que não deve ser esquecido. Vitório Talassi era morador velho daqui. Aqui encontrou hospitalidade, estabeleceu-se, viveu muito tempo e, antes de falecer, deu prova de gratidão a este lugar que tão bem o acolheu e que ele tanto gostava, doando-lhe o terreno para a construção de um novo Grupo Escolar. Fez como aquele homem que na derradeira hora, ao examinar-se a consciência, lembrou-se que nada ia deixar de útil, e, inspirado por um formoso pensamento, levantou-se do leito de morte e, tropegando, foi ao quintal onde plantou um arbustozinho. Não quis morrer sem que antes prestasse um benefício à humanidade. E prestou-o de fato. Mais tarde aquele arbustozinho cresceu, tornou-se árvore, deu fruto e sombra. Tal como o homem da lenda, Vitório Talassi prestou um ótimo benefício a Rafard. O arbusto que ele plantou há também de crescer, ficar árvore, de dar bom fruto e boa sombra. Há de ser a luminosa árvore que há de encher de luz muitos espíritos infantis, encaminhando-os para a grande jornada da Vida…

E, então, – sem desviarmos do caminho que tomamos – podemos dizer com júbilo, que o Progresso, esse velho peregrino, não tem esquecido de Rafard. Uma vez ou outra, não deixa também de descansar o bastão em solo rafardense e estender-lhe o olhar cooperador. Se ontem Rafard era, digamos, uma pobre garotinha, atutelada por pais indiferentes que não se incomodavam tanto com o seu desenvolvimento físico e até mesmo intelectual, hoje, embora pobre ainda, está, todavia, mais bem aparecida, mais saudável, melhor vestidinha, graças à Usina que, pela pessoa do sr. dr. P. Resmond, tem procurado beneficiá-la, – prova-o, as inúmeras benfeitorias que já lhe tem feito – ao esforço deste jornal que não mede espaço para cooperar e elevar-lhe o nome; e, finalmente, à sadia administração do prefeito Bernardino que, estamos certos, não lhe há de volver os olhos nunca, ao menor benefício que venha a carecer.”

Rafard, 5/11/44.logotipo do fundo do báu raffard

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