Opinião

Artigo – Homens e animais – 2

Por Leondenis Vendramim - Professor de Filosofia, Ética e História

Há fatos históricos da humanidade que revelam o porquê e o modo como pensamos e agimos com nossos semelhantes, com os animais e com o meio ambiente.
Desde a “colonização” do Brasil, até o séc. 18, não permitiam aos negros e seus filhos a entrada nas suas escolas; nem eram objetos de catequese, diziam que a África era o inferno, o Brasil o purgatório e Portugal o paraíso. A Igreja ensinava que o negro não tinha alma, era como os animais. Pe. Antônio Vieira só dava o sacramento aos negros fugitivos se voltassem à escravidão. Não eram considerados humanos, nem mesmo pelas ordenações dos reis portugueses, pertenciam ao reino animal. Pe. Barléu considerava o negro um animal ferocíssimo, o mulato, semiferoz. “Sabido é que diferentes homens foram feitos para diferentes cousas, nós, brancos, para introduzir a religião para eles, e eles, para nos servir,… trabalhar para nós” Disse Manuel Guedes Aranha, Procurador do Maranhão (1634). Os negros eram tidos como animais brutos, os mulatos, menos brutos que os primeiros e mais preparados para certos trabalhos da fazenda. Um negro era avaliado em 39,00 cruzados; uma negra 45,50 cruzados; um mulato 65,00 cruzados; uma mulata 78,00 cruzados. Isto motivou os jesuítas a incentivarem o cruzamento de brancos e índios com negras. José Bonifácio, homem de larga cultura (botânico, mineralogista, cria na superioridade dos brancos, mas defendeu os negros, criando leis que os favoreciam. Ele disse: “Se os negros sentem como nós, e não forma uma espécie de brutos animais, se sentem e pensam como nós, que quadro de dor e miséria apresentam eles à imaginação de qualquer homem sensível e cristão? Se os gemidos de um bruto nos condoem é impossível que deixemos de sentir também certa dor simpática com as desgraças e misérias dos escravos, mas tal é o efeito do costume e a voz da cobiça, que veem homens correr lágrimas de outros homens, sem que estas lhes espremam uma só gota de compaixão e ternura. Mas a cobiça não sente nem discorre como a razão e a humanidade.” Bonifácio legislou em favor dos negros, para que pudessem testemunhar, embora, não contra seus senhores; que a escrava com 3 meses de prenhez não poderia ser usada em trabalhos violentos, ao 8º mês só poderia trabalhar na casa do senhor e após o nascimento, por um ano, só poderia trabalhar perto da cria; que o “governo procurará convencer os párocos e outros eclesiásticos, que tiverem meios de subsistência, que a religião os obriga a dar liberdade a seus escravos, e a não fazer novos infelizes”). (José Bonifácio. Projetos para o Brasil, p. 27 e seguintes; Leondenis Vendramim. Do Imaginário à Santa Inquisição, ps. 208-213).
Para os intelectuais desse tempo, com raras exceções, animais e negros eram insencientes e irracionais, portanto, inferiores aos brancos.
O crescente distanciamento de Deus, a degeneração moral e o afrouxamento dos princípios levam o homem à egolatria, ao esfriamento do amor ao próximo e aos animais. Jesus disse: “Por aumentar a iniquidade o amor de muitos se esfriará de quase todos” Mat. 24:12.
Na Finlândia, jovens cercam centenas de golfinhos e os matam tingindo a água com o sangue, só para mostrar sua maioridade. Na Espanha, os touros recebem choques elétricos, aguilhoadas, antes das touradas, e enfurecidos, são espetados com espadas e quando caem, sangrando, semimortos, são arrastados para, então, serem mortos, só para divertir os espectadores e glorificar o toureiro. O que dizer da farra do boi, das cavalgadas gauchescas na qual derrubam o bezerro em disparada, muitas vezes quebrando-lhe o pescoço? E os chocantes os transportes de frangos, porcos e bois pelas estradas sob o sol escaldante, sem água, em direção aos matadores! A crueldade de amarrar cão no carro e arrastá-lo até que morra dilacerado! É “desumano” deixar animais de “estimação” passar fome e sede e tratá-los com gritos e chutes!
Os animais se alegram com a alegria dos donos, entristecem-se, se tristes, sentem medo dos gritos e balança o rabinho, gratos pelos carinhos. Um dia haverá acerto de contas com o Juiz do Universo. A religião também nos ensina tratar bem dos animais.

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Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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