Opinião

Atos dos Apóstolos

Padre Antônio Carlos D’Elboux é pároco de Rafard (Foto: Arquivo pessoal)

Artigo | Por Padre Antônio Carlos D’Elboux

O livro Atos dos Apóstolos não corresponde em seu conteúdo e estrutura a este nome. Foi a partir do século II que começou a ser chamado de Atos dos Apóstolos ou simplesmente Atos. O livro não fala sobre a história dos doze apóstolos de Jesus. É um livro que fala muito dos discípulos Pedro, Paulo e João. O livro foi publicado sem o nome do autor. A tradição procurou dar uma fisionomia e nome ao autor, tendo convergência de que o autor seja Lucas, mencionado na carta a Filêmon, verso 24, e em duas cartas da tradição paulina (Cl 4,14; 2Tm 4,11). Lucas é cristão da segunda geração, médico, admirador e discípulo de Paulo.

No Novo Testamento somente os Atos e o terceiro Evangelho são precedidos de um pequeno prólogo, onde são especificados os objetivos, o método e a finalidade do escrito (Lc 1,1-4). No início dos Atos ele remete ao primeiro livro, o Evangelho, resumindo seu conteúdo (At 1,1-2). Também menciona Teófilo, a quem dedica a obra, dando a entender que ambos os livros façam parte de uma única obra, em dois volumes. O estilo literário é homogêneo em ambas as obras, como também a estrutura teológica. Lucas faz parte da narração de muitos trechos dos Atos (At 16,10; 16,10-17; 20,5; 21,18; 20,17-36; 27,1-28,16. Existe também a hipótese de que o autor tenha usado o “diário de viagem” de algum colaborador de Paulo.

O bom nível de sua língua grega e a imitação dos modelos estilísticos e literários dos autores helenísticos; o bom conhecimento da tradição e da cultura da Diáspora judaica; a predileção pela atividade missionária e pelo anúncio da Palavra nos levam para um retrato do autor dos Atos. Os Atos se enquadram no gênero literário da história religiosa com objetivo teológico-espiritual. Além das partes narrativas, Atos contém discursos (Pedro, Paulo, Estevão) que ocupam 1/3 da obra. Os discursos tem unidade de estrutura e de tema, adequação dos mesmos às situações onde foram pronunciados e aos seus autores.

Admitida a autoria dos Atos a Lucas, deve-se ter presente a ordem de sucessão dos dois volumes indicada no próprio Atos 1,1. Se o Evangelho de Lucas foi composto mais ou menos por volta dos anos 75/80, os Atos teriam sido escritos por volta dos anos 80/85. Alguns autores, porém, indicam os anos 60/62, antes de terminar o biênio romano de Paulo, já que Lucas nada refere ao desfecho do processo contra Paulo.

O modelo ou forma literária de Lucas tem três elementos claros: trechos narrativos, discursos e esquemas de resumo. A narração constitui a parte sólida dos Atos. Os discursos são a interpretação dos episódios. Os resumos são as passagens de ligação de um elemento para o outro. Os três elementos se fundem para falar dos protagonistas, dos quais os principais são Pedro e Paulo, e os menores: Estevão em Jerusalém, Filipe na Samaria e na costa mediterrânea, Tiago como responsável em Jerusalém. Este Tiago é chamado Menor, filho de Alfeu e Maria e irmão de Judas Tadeu.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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