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Bíblia sem preconceito – 19

Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História

Continuemos um pouco mais com a questão: Se Deus nos ordena que guardemos o sábado por que se observa o domingo? Essa mudança foi por ordem eclesiástica e não bíblica. O teólogo Tomás de Aquino (séc. 13) afirma: “Na nova lei a observância do dia do Senhor tomou lugar da observância do sábado, não em virtude do preceito (quarto mandamento), mas por instituição da Igreja” (Suma Teológica, 1702). No Catecismo do Concílio de Trento (1566) consta: “Pareceu bem à Igreja de Deus que a celebração religiosa do sábado fosse transferida para o ‘dia do Senhor’”. Teólogos católicos exaltaram o poder da Igreja pelo poder de mudar a lei de Deus. A Confissão de Augsburgo reconheceu a origem do domingo pós-bíblico. Calvino considerava o domingo como instituição humana e não divina (Institutas da Rel. Cristã, 343).

O domingo originou-se em Roma, não em Jerusalém, nem no tempo apostólico, conforme Euzébio (260-340). O culto ao sol tornou-se muito comum, quase oficial do Império; os imperadores se faziam deuses portadores do sol, Adriano e Constantino lançaram moedas coroados com raios solares, construíram templos em honra ao sol. Até o séc. 1, os dias da semana tinham os nomes dos deuses em sua honra e sequenciados conforme sua importância: Saturno, Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus e Sol. No séc. 2 o Sol tornou-se mais importante devido à valorização do mitraísmo, e ocupou o primeiro dia da semana. Assim até hoje temos no inglês Sunday (dia do sol – domingo); passou à frente de Saturday (dia de Saturno – sábado). Em 321 Constantino, que era mitraísta, adorador do sol, querendo unir os povos legislou: “Que as cortes da justiça, os habitantes das cidades, e o comércio em geral, repousem no ‘venerabili die Solis’ excetuando-se os que se empenhavam em trabalhos agrícolas” (Edito de 7/3/321) (Enc. Britânica, artigo Domingo). No ano 325, o Imperador, querendo unir o povo, que até então estava dividido pelas religiões, convocou o Concílio de Nicéia e estabeleceu a guarda do domingo e extinguiu a perseguição aos cristãos. A Igreja, então, adotou o domingo como substituto do sábado na lei de Deus, juntando também os dias santos, conforme legisla o mitraísmo.

O Papa João Paulo 2º reconheceu que a Igreja Católica adotou a guarda do domingo em honra ao deus Sol. Ele diz: “O mandamento do decálogo, pelo qual Deus impõe a observância do sábado (Ex. 20:8)…” mais adiante: “De fato… a instituição pastoral sugeriu à Igreja de cristianizar aplicando ao domingo, a conotação de ‘dia do sol”. E ainda: “Só no século IV é que a lei civil do Império Romano reconheceu o ritmo semanal, fazendo com que no ‘dia do sol’… parassem de trabalhar” (Carta Apostólica Dies Domini 31/5/1998). É oportuno, e ou, por excitação, ler Daniel 7:25 e Apocalipse 12:17). Sobre tais fatos a história civil e eclesiástica é farta em documentos. A Igreja Católica tem muitas características, que a identificam como cultuadora do deus pagão, o sol: a tonsura na cabeça dos padres, o disco solar sobre as imagens, o formato da hóstia, os raios solares nas pinturas das igrejas, a comemoração da páscoa num domingo (a bíblica era no dia 14 de Nisan – 1º mês do ano). A igreja de S. João no centro de Capivari é voltada para a nascente do sol, em sua homenagem (não para Itu como diziam); há muitas outras igrejas assim construídas. A igreja de S. Pedro, principal do Vaticano, a de Canterbury, a de S. Paulo em Londres foram construídas sobre antigos templos mitraístas. A Virgem Maria, mãe de Jesus, é uma reminiscência da Anaita a deusa do fogo, e da Virgem Mãe de Mitra, lembra também a Ísis (Lua), (da mitologia egípcia), esposa de Osíris e mãe de Hórus. O sol é o olho de Mitra, constante em várias pinturas nas igrejas e maçonarias, o 25 de dezembro era o dia da comemoração do nascimento do sol (solstício do inverno) com festas e banquetes.

Devido às rebeliões dos judeus contra o Império Romano (70 e 135 a.d.) o judaísmo passou a ser perseguido (mais de 1 milhão de judeus foram executados), os cristãos procuravam distinguir-se do judaísmo. O sábado passou, lentamente a ser considerado um preceito mosaico. Até o séc. 3 celebravam a Páscoa, alguns no domingo, outros no dia 14 de Nisan, guardavam o sábado e mantinham a circuncisão de modo velado. Os sabatistas e judaizantes foram chacinados pela “Santa Inquisição” com crueldade inimaginável, da qual falaremos no próximo artigo.

ARTIGO escrito por Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História
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Jornal O Semanário

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