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Bíblia sem preconceito – 24

Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História

Um pouco mais de curiosidade sobre esses contos mirabolantes dos quais surgiram o vocábulo “conto do vigário”.

O historiador Sérgio B. de Holanda refere-se ao fato de que S.J. João Euzébio Nieremberg pregava que na Sua paixão, Jesus sofreu 6.666 açoites crudelíssimos e verteu 97.305 gotas de sangue e 72.200 gotas de lágrimas.

Anchieta disse que o urro da Anhuma (ave imaginária duas vezes maior que o pavão) era como o do burro; Pe. Fernão Cardin dizia ouvir a 3,3 km de distância. Seus ossos e esporões raspados, bebidos com água ou vinho curavam picadas de cobras e os chifres pendurados ao pescoço como talismã, devolvia a fala ao mudo, e que um menino mudo “entrou a falar” porque usou esse talismã.

Outro conto fantasioso é sobre S. Tomé, discípulo de Jesus. O apóstolo começou a pregar em, Meliapor (leste da Índia), convertendo alguns, mas foi perseguido, fugiu para os montes. Certo dia, um caçador viu um pavão que se destacava do bando pelo tamanho e formosura. O caçador mirou o pavão ao alçar voo. Quando o caçador chegou para recolher a ave, eis que havia se tornado em S. Tomé.

O caçador foi à cidade, contou o ocorrido e vieram o governador e grande número de curiosos. Encontraram na laje, donde saíra voando, duas pegadas, então creram na sua santidade. Levaram-no para a igreja onde o sepultaram, e ao seu lado, a pedra onde estavam as pegadas. A igreja, foi adornada de cruzes e pavões, tornou-se centro famoso, para onde faziam romarias.

Alguém vendo o braço do santo fora da sepultura foi cortá-lo para servir de relíquia, mas o santo puxou o braço para dentro. Em 1150, Henrique de Morungen foi, a mando do rei germano aos cristãos, da agora, S. Tomé e de lá trouxeram muitas relíquias, encontradas, segundo o Prof. Hermann Menhardt, no mosteiro de S. Tomé em Leipzig até 1899.

Em muitos lugares, no oriente, Tomé foi visto carregando enorme cruz como sacrifício, pregando o evangelho de Jesus a quem negara.

Da índia a lenda veio ao Brasil, tão fantasmagórica quanto lá. A “Nova Gazeta Alemã” em 1516, publicava que os índios brasileiros quiseram mostrar as pegadas de Tomé, chamado por eles, Deus Pequeno, pois havia outro maior, que o acompanhava pelo interior onde havia cruzes.

Os indígenas chamam a seus filhos de Tomé. S.J. Simão de Vasconcelos, cronista da Companhia de Jesus, disse ter visto as pisadas de Tomé gravadas nas lajes em 5 lugares diferentes: no norte de S. Vicente; em Itapoã, Baía de Todos os Santos; na praia de Toque-Toque; Itajuru, perto de Cabo Frio e na Paraíba. Em alguns desses lugares havia pegadas de um homem menor e de um maior.

Frei Jaboatão também viu em Pernambuco pegadas na rocha, de um pé esquerdo com os dedos divididos e a “marca era de menino de 5 anos, poderia ser de um anjo”. S.J. Nóbrega também disse que viu essas mesmas marcas. S.J. Simão Vasconcelos ainda aumentou dizendo, que essas pisadas foram gravadas quando o rio se abriu para Tomé fugir dos índios que queriam flechá-lo.

Daí ele foi à Índia. S.J. Antony Knivet relatou que de algumas dessas pegadas brotavam águas puras, perenes e doces, ele conversava com os peixes e os entendia. Viu também uma dessas lajes, enorme apoiada em 4 pedrinhas menores do que um dedo. No Paraguai o santo foi visto com sandálias de 3 solas.

Na sola interna havia marcas do suor de Tomé e da externa escorria lavas do vulcão de Arequipa, por onde ele passou. Uma senhora tinha uma dessas sandálias, vista pelo ‘venerável padre da Ordem Diego Álvares da Paz, que dizia ser muito grato o aroma, e a fragrância dessa sandália deixava longe qualquer outro olor’.

O S. J. Montoya conta o “milagre”: o Arcebispo Dom Toribo Mongrobejo encontrou dois buracos numa rocha, feitos pelos joelhos de S. Tomé enquanto orava. Ali mesmo ele ajoelhou agradecido pelo Santo. S. J. Nícolas Del Techo afirmou que o apóstolo era devotíssimo das chagas de Jesus, por isso carregou por mais de 1200 léguas (7920 Km) uma cruz tão pesada, que 3 cavalos mal podiam carregar.

Pe. Osório disse que em Meliapor, nem uma parelha de elefantes podia carrega-la, dela exalava fragrância peculiar, mesmo após mais de 1500 anos atolada no lodo fétido, donde Tomé tirou com facilidade. O chá da madeira dessa cruz tinha virtude curativa, principalmente de disenteria.

ARTIGO escrito por Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História
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Jornal O Semanário

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