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Caboclo lavrador

Sou caboclo sim sinhô, sou caboclo lá da roça.
Sou caboclo lavrador!
Conheço tudo que vem da terra. Sei como plantar, orientado pela lua, que brilha lá no espaço gigante.
Espero a chuva que vem do céu e procuro plantar na minguante.
Fiz minha cabana ao lado de um cambará. O cabo da minha enxada, fiz de cabreúva – madeira boa, que dura, vai longe pra se acabar.
Fiz o cocho da criação usando machado e formão, com madeira sem nó, conhecida por chimbó.
Meu martelo tem cabo de madeira. Ficou bonito e leve, porque cortei de um galho quebrado que encontrei perto do ribeirão. Madeira conhecida por marfim.
As tramelas da cabana fiz com pedaços de peroba.
Agora, tem uma madeira que eu evitava bater o machado… dura, tão dura que o machado chega a quebrar. É o danado do guarucaia.
Se o sinhô aparecer por lá, na roça onde eu vivo, pode até achar que sou um mendigo.
Mas eu vou te mostrar!
Vou te mostrar as arvores de aroeira, o pé de goiabeira, o jatobá!
Tem tanta madeira que eu vou dizendo os nomes, e o sinhô pode até anotar:
O pé de ipê.
Maminha de porca – cuidado que tem espinho, pode lhe cutucar!
O cedrinho, a sapuva, ficam perto do rio, onde sempre vou pescar traíra, debaixo da guaiuvira.
Vou te levar onde o rio faz uma curva.
Tem tanto peixe que, se achegar quietinho, vai escutar a buia.
Tem uma touceira de bambu e uma sombra gostosa do pé de imbuia.
Mas se eu for te mostrar tudo e dizer o nome das árvores, o sinhô vai ficar tão cansado que nem andar vai conseguir!
Porque eu vou te mostrar…
Vou te mostrar onde nasceu um pé de gergelim.
A árvore de jataí, que dá sombra boa, nem precisa carpir.
Fiz um banco de jacarandá. Ali eu sento pra fazer o covo e o samburá.
Pertinho tem um pé de sassafrás – árvore que a gente vê de longe – e a sabaúna.
Tem que andar bem no trio e tomar cuidado com a urtiga.
Quando a arvore tá seca, cuidado quando tirar a casca!
Principalmente da maçaranduba – remédio pra dor de barriga –, sempre tem formiga!
Mais pra andar no mato tem que tomar cuidado!
Principalmente onde pisa!
E, se tive de manga de camisa, vai começar a se coçar!
Tem que ver o tamanho do jequitibá!
Essa madeira também é forte, é a cheirosa peroba-do-norte.
Eu não gosto de cortar.
Sou capaz até de brigar se vejo alguém derrubando madeira de lei.
Pertinho da cabana, dá pra ver da janela uma pitangueira.
Onde eu moro, tudo é de madeira!
O bigolo, o banquinho e até as cadeiras!
O suporte do coador de café, fiz de uma taiuveira!
Mais aqui, no meu cantinho, eu fico sossegado.
O único barulho que às vezes incomoda é o danado do grilinho!
Fico aqui na porta, sentado num banquinho, e fico apreciando tudo na natureza.
Vou dedilhando as cordas da minha violinha que eu mesmo fiz de uma velha árvore que com um raio quebrou.
Aproveitei bem a madeira do pé de pinho.

Toninho Junqueira

Toninho Junqueira é locutor há mais de 40 anos, escritor e restaurador de cadeiras antigas e imagens sacras. Desde 2021, conduz sua própria rádio, a São Gonçalo, com 24 horas de programação sertaneja raiz. Fale com o autor por telefone ou WhatsApp: (19) 99147-8069.

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