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Campo de futebol da Fazenda Sobrado é destruído pela Raízen

Colônias de casas e construções antigas, espalhadas por cidades do interior, onde a usina de cana-de-açúcar abrigava seus trabalhadores no passado, correm o risco de desaparecer. Relatos de moradores de antigas colônias, como da Fazenda São Francisco, conhecida como Fazenda Sobrado em Capivari, alertam que o fim destas vilas centenárias caminha a passos largos.

Uma destas demolições, sem aviso prévio, e que em poucas horas põe tudo no chão, aconteceu, a menos de vinte dias, com o a destruição do campo de futebol e dos vestiários da Fazenda Sobrado.

A empresa Raízen, proprietária de todas as áreas da usina em Capivari e cidades vizinhas, determinou a demolição de toda área do campo localizado na vila da Fazenda São Francisco.

Para os moradores, que afirmam terem sido pegos de surpresa, foi uma triste perda, inclusive, o campo era um dos únicos espaços de lazer da comunidade, bastante frequentado por times de futebol da Fazenda Sobrado e também por visitantes. A última vez que o campo reuniu os times foi para final do Campeonato Amador de Futebol, poucos dias antes de tudo vir ao chão.

Outras demolições já marcaram este dilema na colônia São Francisco. Em 2019, o prédio que abrigava a escola municipal foi demolido. Na época, contam os moradores, que a justificativa da Raízen foi de que o contrato com a prefeitura tinha sido encerrado, e em poucos dias o prédio ‘foi para o chão’. A partir daí, os alunos passaram a ser transportados para escolas em bairros de Capivari.

Atualmente, a vila da Fazenda Sobrado possui cerca de 70 casas, das mais de 150 que já existiram. Restam ainda em pé, as construções que abrigam a venda e a capela.

Um morador, que não quis se identificar, conta que muitas casas já foram demolidas, e que isso acontece quando a família resolve ir embora da colônia. “Por enquanto, eles [empresa] não mandaram nenhuma família sair, e nem passaram nenhum comunicado sobre prazos para mudarmos daqui, mas quando uma casa é desocupada, na mesma hora já é demolida, assim vai acabando tudo, muito triste”, lamenta o morador.

Gramado do campo de futebol foi destruído pela usina (Foto: Gelinho Tedeschi)
Gramado do campo de futebol foi destruído pela usina (Foto: Gelinho Tedeschi)

Movimento em defesa

Um movimento contrário aos atos de demolição, que podem acabar com um dos patrimônios históricos da cidade, ganhou voz na Asturba/Barca, Associação sem fins lucrativos de Capivari. Membros da associação fizeram uma sequência de vídeos e fotos das casas que ainda existem na Fazenda Sobrado. Também foram registrados os espaços vazios que ficaram depois das construções demolidas, e a pilha de entulhos do campo recém destruído.

O movimento pede providencias do Poder Público e um diálogo entre as famílias da vila, grupos de ações voluntárias, prefeitura e a empresa Raízen, para que se encontre alternativas de preservação e projetos de incentivo cultural e turístico para Colônia São Francisco.

Com a esperança de que o que ainda resta seja preservado, são citadas como exemplos, antigas colônias de municípios vizinhos, que eram, inclusive, de propriedade do mesmo grupo empresarial.

É o caso das construções e moradias que ainda resistem nas Colônias como nas Fazendas Capoava, em Porto Feliz, e São Bernardo em Rafard. Ambas possuem projetos de preservação do patrimônio e incentivo ao desenvolvimento cultural e turísticos destes locais.

O que diz a Raízen

A Raízen, empresa proprietária das terras onde está a Fazenda Sobrado, afirmou em nota que a decisão de demolir o campo de futebol, está em acordo com suas ações de políticas de Saúde, Segurança e Meio Ambiente.

“A empresa, após análises criteriosas, entendeu que a manutenção do local deveria ser descontinuada. Adicional a isso, a ação foi efetuada após a identificação do não cumprimento do Decreto Estadual 64.881/20, que proíbe a realização de eventos esportivos em respeito às regras de isolamento social da pandemia de Covid-19”, diz a nota enviada pela Assessoria de Imprensa.

Diz ainda a declaração da empresa, que a mesma sempre manteve um diálogo aberto com as comunidades, e que durante todo o processo de desativação do campo, a companhia fixou placas no local com referência ao Decreto e a proibição do uso do espaço, bem como as orientações quanto a interdição. A nota diz ainda, que está previsto o plantio de árvores no local, mas não informou quando isso será feito na prática.

Outros questionamentos sobre o assunto foram feitos à empresa, como por exemplo, se está prevista a desocupação total das famílias que ainda residem na Fazenda, e como se daria este processo. Ou ainda, numa linha oposta a esta, a reportagem do O’ Semanário indagou se há interesse, ou se já existem possíveis projetos, de preservação do local com seus imóveis e moradias, construídas a tantos anos. Sobre essas questões, a Raízen não se pronunciou até o fechamento desta edição.

A Prefeitura de Capivari também foi procurada pela reportagem, mas não quis comentar o caso.

Ivanete Cardoso

Jornalista - MTB 57.303

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