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Carlos Cavalheiro publica livro sobre João de Camargo

O milagreiro João de Camargo ganha nova biografia pelas mãos do historiador Carlos Carvalho Cavalheiro em livro publicado pela editora A. R. Publisher com o título “João de Camargo, o Homem da Água Vermelha”. Mas, diante de tantos livros e artigos sobre essa personalidade, qual poderia ser a novidade nesse livro?

Pensando nisso, Carlos Cavalheiro procurou analisar a vida de João de Camargo sob outra perspectiva, desfocando o seu lado místico e de liderança religiosa para evidenciar o sujeito histórico, capaz e consciente de criar uma territorialidade negra na Sorocaba do começo do século XX. O título do livro já destaca a perspectiva dada por Cavalheiro nessa obra.

“Em plena época do ufanismo industrial, do discurso da ‘modernidade’ e do ‘progresso’, João de Camargo desafia a idealização burguesa da cidade e propõe a criação de um território de resistência onde a cultura e as tradições negras e caipiras pudessem sobreviver”, defende o historiador.

Ademais, conforme Cavalheiro, João de Camargo pretendeu criar bases para a elevação material e social dos negros de Sorocaba, criando escolas, empregos, banda de música, fazendo girar em torno da sua igreja toda uma economia que favoreceu aqueles que estavam ligados a ela.

Para Carlos Carvalho Cavalheiro, essa perspectiva recupera a imagem de liderança negra consciente dos embates e de sua época. “João de Camargo demonstra, em vários momentos, a consciência do embate entre a cosmovisão defendida por ele e o ideário da cidade industrial, da Manchester Paulista”, completa o historiador.

Uma das passagens evidenciadas por Cavalheiro sobre essa consciência do embate é o fato de João de Camargo insistir em realizar uma procissão em pleno centro de Sorocaba tão logo se viu absolvido do processo em que fora acusado de curandeirismo em 1913.

“Essa foi a mais grave acusação da qual João de Camargo teve que enfrentar. Ele foi preso, instado a derrubar a sua capela, processado e por pouco não recebeu uma sentença condenatória. A despeito de tudo isso, em vez de se esconder, ele preferiu a exposição provocativa de realizar uma procissão com santos católicos nas ruas do centro da cidade, à vista da Igreja católica e daqueles que o acusaram de curandeirismo. Essa ousadia, digamos, demonstra a posição dele disposta para o embate. E ele faz isso conscientemente”, informa Cavalheiro.

Apesar da novidade atribuída ao livro, Cavalheiro afirma que o texto foi escrito em menos de 20 dias.

“Havia muita pesquisa acumulada há muitos anos. Quando me senti estimulado a escrever foi relativamente fácil o nascimento do texto, pois muitas das reflexões ali presentes já estavam elaboradas há tempos”, revela o autor.

O prefácio da obra foi escrito pelo também historiador Rogério Lopes Pinheiro de Carvalho, que destacou:

“Carlos Carvalho Cavalheiro empreende uma análise que procura recuperar João de Camargo como um sujeito histórico consciente das suas escolhas e suas lutas. O historiador mostra que geralmente estudos sobre o Homem da Água Vermelha mostram uma pessoa que se deixa levar pelo divino e pelo misterioso, quase como se não tivesse voz própria. Há aí inclusive um perigo de manifestação de um racismo velado que parece dizer que um ex-escravo não teria condições de agir de maneira consciente e de utilizar estratégias de luta contra uma sociedade racista e excludente. Ao recuperar a figura de João de Camargo como um sujeito histórico concreto, Cavalheiro se articula com a melhor produção da historiografia recente, que busca recuperar as práticas culturais e estratégias de resistência das classes populares. Especialmente na transição da monarquia para a república onde se tentou apagar a existência desses sujeitos históricos”.

O livro “João de Camargo, o Homem da Água Vermelha” será comercializado ao preço de R$ 40,00. A obra possui 150 páginas, com diversas ilustrações. A obra foi realizada com recursos do próprio autor e a tiragem de comercialização será de 90 exemplares.

 

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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