Rubinho de Souza

Carmo Barbeiro – meu pai

Hoje não poderia de modo algum, deixar de prestar minha homenagem ao meu pai, meu herói, meu amigo, de quem só tenho boas lembranças pelos seus inesquecíveis ensinamentos, e até pelas suas broncas, quando no meu tempo de menino aprontava alguma coisa, que hoje é até considerada normal, mas os tempos são outros, e a educação de lá para cá, evoluiu tal como o andar do caranguejo.

Carmelindo Luís de Souza, nasceu aos 05 de agosto de 1914, no “Sítio Soamim”, no município de Porto Feliz, e veio morar para cá no ano de 1948, onde começou a cortar cabelo de clientes na sala de visitas da casa em que morava, que ficava no bairro Paulino Galvão, de frente para antiga Estrada velha de Capivari, hoje, chamada de Avenida Brigadeiro Faria Lima.

Tornou-se conhecido no bairro exercendo o ofício de “barbeiro”, porém ficou muito mais conhecido na região por ser o primeiro barbeiro, a atender clientes afrodescendentes, o que não era comum nessa época por haver muita discriminação. Por causa desse seu desprendimento, pessoas de outras cidades vinham para conhecê-lo, e utilizavam seus serviços profissionais, e acabavam ficando amigo do “Seo” Carmo Barbeiro, como ficou enfim, conhecido.

Anos depois passou a residir em Villa Raffard, numa casa para já demolida, que ficava na esquina da rua IV Centenário com a Abolição, onde eu nasci em 1958, onde ela atendia seus clientes durante o dia e à noite trabalhava na Padaria e Confeitaria de “Dito padeiro”. Foi também padeiro e confeiteiro, na Padaria e Confeitaria de Otaviano Rodrigues da Silva.

Foi ainda professor de música, e ensinou a muitos alunos essa nobre arte, dentre eles Jorge de Souza, que foi vereador em Rafard, e que sempre nos encontros casuais, lembrava com saudades do “Seo” Carmo.

Foi um dos primeiros crentes, e integrantes da orquestra da “Congregação Cristã no Brasil” em Villa Raffard, onde também exerceu por muitos anos, o cargo de Encarregado de Orquestra.

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Carmo Babeiro (Foto enviada pelo colunista)

Quando meu pai mudou para a rua Castro Alves, na casa vizinha ao do Sr. Adão Santucci, no bairro dos Padovani, eu tinha 7 anos, mas lembro-me de como ele foi recebido pela vizinhança, pois sempre foi muito querido por todos que o conheciam, por sua facilidade em construir amizades, por ser prestativo, e tratar todos com lealdade.

Era comum nessa época eu ver num balcão que existia em seu salão de barbeiro, nas horas de sua folga, meu pai consertando ferro elétrico, liquidificador, e até enceradeira, que os vizinhos levavam para o Carmo Barbeiro consertar. Até mesmo quando precisavam de serviços de eletricidade em alguma casa, lá ia o Carmo Barbeiro fazer o reparo, ou alguma instalação, e sem cobrar nada pelo serviço. Emprestar ferramentas, gancho para tirar balde que caiu no poço, era na casa do Carmo. Verduras, alface, couve, salsinha e cebolinha, era com Dona Benedita.

Há trinta e quatro anos, aos 73 anos de idade, quando então residia no bairro de Casas Populares, em Rafard, meu herói ficou muito doente, vindo a falecer aos 21 de abril de 1987, deixando viúva minha mãe, Dona Benedita Antunes de Almeida, com quem teve 09 filhos.

Como podem ver, trata-se de uma simples biografia, de um homem igualmente simples, que não deixou bens materiais aos seus descendentes, mas deixou um grande legado, um nome honrado até hoje lembrado, mesmo tendo passado tantos anos de sua partida.

Onde quer vamos, eu e meus irmãos, somos logo reconhecidos por “filho do Carmo”, e assim somos chamados, e assim somos conhecidos – filhos do Carmo Barbeiro, o que nos enche de orgulho, por nosso amor filial.logo do fundo do baú raffard

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