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Cine Paratodos – Parte 2

cine paratodos 2 do fundo do baú raffard 02-08-2019
Foto: Arquivo Do Fundo do Baú Raffard

Nos anos 50 a 70 os filmes eram exibidos, segundo uma classificação da Polícia Federal, em “livre”, 10 anos, 14 anos e 18 anos, quando normalmente às segunda-feira era comum a exibição de seriados com censura livre, ou filmes “mudos” de Charlie Chaplin, para que os pais pudessem levar a criançada se divertir.

Na melhor parte do filme, cortava-se a cena de maior suspense, tipo a carruagem que levava a mocinha, iria cair no penhasco? E vinha a chamada: Não percam na próxima semana! E com isso o público sentia-se atraído a voltar na próxima semana para ver o desfecho da cena.

Os filmes mais lembrados são “Zorro”, “Bat Masterson”, “Roy Rogers”, “O Monstro da Lagoa Negra”, para os aficionados em “farwest” – O Dólar Furado, e para os românticos, “Dio Come Ti Amo”.
Antes de iniciar a sessão, havia o famoso “footing” na Rua Maurice Allain, que era fechada para veículos desde a frente do antigo Correio, até a Praça da Bandeira, onde as moças de braços dados iam ao encontro dos rapazes, e na passagem, olhares eram trocados, namoros eram iniciados, noivados marcados e casamentos consolidados.

Para os namorados, o melhor do cinema não era o filme, mas o refúgio que ele representava, pois naquele tempo, as jovens só conseguiam namorar, escondido dos pais, e somente após estarem seguras da escolha, e que o jovem seria aceito, é que as famílias ficavam sabendo do namoro, e aí se reuniam para marcar data para noivado, pois não existia namoro prolongado, era tudo feito com cautela pelas famílias, para que a moça não ficasse com má fama.

Enquanto os pais somente desconfiavam dos “namoricos”, sim, porque namoro, já era oficial, as moças entravam primeiro, escolhiam lugares bem longe de olhares curiosos, e guardavam o lugar do seu amado, e no apagar das luzes, para início da sessão, cada um ia achando o seu lugar ao lado da amada.

Quando eventualmente quebrava a “fita” do filme, as luzes imediatamente eram acesas pelos operadores para conserto da película, e nesse momento era comum ver rapazes saindo apressadamente de seus lugares em direção ao banheiro que ficava lotado, tudo isso para não serem flagrados pelos pais das moças, salvo aqueles que já haviam chegado “na barba do véio” como se dizia naquele tempo, e até já tinha permissão para namorar “em casa”.

Segundo relata José Maria de Campos, em seu livro, os pedaços de filme quebrados, eram descartados nos latões de lixo, e a molecada que não podia entrar para a sessão por ser filme impróprio para sua idade, corria revirar o latão de lixo na esperança de encontrar nesses pedaços de película ao menos uma cena “picante”.

O terror da molecada “menor de idade” era Carlos Marreto, o Comissário de Menores, nomeado pelo Juiz de Direito da Comarca de Capivari, que se incumbia de fiscalizar e proibir a entrada de menores nos filmes censurados para menores de 18 anos, com integral apoio dos pais, que viam nele um guardião dos interesses da família.

Alguns espertalhões falsificavam as datas de nascimento da Carteira de Estudante, entre outros expedientes para burlar a vigilância do Comissário, o que dificilmente conseguiam, pois o homem conhecia todos moradores de Rafard, e muitas vezes se via na obrigação de falar de forma ríspida, ameaçando ir na casa dos pais do jovem, para confirmar sua idade, fazendo o mesmo desistir de sua empreitada…

Eram assim aqueles dias…

Grato pela companhia de sua leitura. Grande abraço.

COLUNA de autoria de Rubinho de Souza
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Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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