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Conversa ao pé do lampião

Que saudades das conversas ao pé do lampião, só quem teve o privilégio de participar delas sabe como eram boas! As crianças rodeando os adultos, tentando ouvir “conversa de gente grande”, e os adultos contando “histórias de medo”! Seja para afugentar, ou mesmo assustar os pentelhos que não saiam de cima.

Fui uma época que as pessoas tinham tempo de prosear, televisão era “coisa de rico”, mesmo depois dela se tornar algo mais acessível, e a gente ter uma em casa, não perdia a chance de ouvir os causos dos trabalhadores na venda que eu morava, eram sagrados, depois do final do dia de trabalho eles paravam na venda tomar uns goles para lubrificar a garganta e botar a prosa em dia.

Para os adultos um pentelho prestando atenção nas conversas era motivo de botar uns fatos inexplicáveis, reais ou não, para colocar medo nele. E foi assim que tomamos gosto pelos “causos de medo”, acho que a nossa atenção aos casos narrados sem demonstrar medo deviam deixar os narradores um pouco desapontados, pois pro contador de causo o olhar espantado, demonstrando medo, é como o aplauso para o artista.

Hoje em dia, contando nossos próprios causos sentimos a mesma coisa ao ver o olhar num misto de medo e a dúvida se é fato ocorrido, ou só um causo inventado. Muitas coisas inexplicáveis acontecem todos os dias, e os velhos contadores de causos usavam fatos reais com pinceladas de imaginação, fato que dava mais credibilidade aos causos contados.

Sinto nos causos que crio, uma forma de homenagem aos adultos de antigamente que contavam estórias de medo para afugentar os pentelhos de sua volta, uma espécie de volta nos meus tempos de criança, e nessa volta, me lembro da “Rodinha”. Esse nome foi dado aos encontros noturnos que meu nono Leandrin ia, na esquina da casa do tio Rique Moreira, onde eles discutiam assuntos da política local e nacional, meu nono era leitor assíduo do estadão, e sempre tinha a pauta dos assuntos que seriam debatidos na ponta da língua.

Os adultos que participavam desse debate eram, como já citei antes, meu Nono Leandrin, o Tio Rique, que era o anfitrião, emprestando a calçada da casa para as reuniões, Gico Ferrari, Nené Ferrari, Tóne Beato, tio Alcides Bresciani, o Joaquim França, as névoas do tempo me fizeram deixar alguém de fora, então pedimos desculpas!

Agora do lado dos pentelhos temos esse que vos escreve, o saudoso Zé Antônio França, Deco Ferrari, Vanderci Qualiato, Vitorião de Cleise, esses eram os mais assíduos, às vezes Tal e André Qualiato, a gente brincava na rua, mas sempre prestando atenção no assunto de gente grande e era para mim uma ciência oculta entender os assuntos da politica que eles conversavam, mas muitas vezes eles armavam pegadinhas conosco, como um dia que apareceram com um tubo, onde colocava um ganchinho para puxar um elástico de dinheiro que tinha dentro, só eles que conseguiam puxar, mas não podia puxar muito pra não quebrar, aqui nos deixou ocupados por um bom tempo, depois que a gente voltava para casa meu nono contou que o elástico era só na parte de fora, não tinha dentro, então só fingiam, puxar, e como não poderia puxar até o fim pra não quebrar.

A Luz da rua já era de lâmpadas de mercúrio, mas era a forma moderna dos causos á luz do lampião, causos esses que contei para meu filho, sobrinhos, filhos de amigos e alguns amigos “corajosos” que não sabem se ficam ouvindo ou saem correndo. Fica aqui meu agradecimento aos antigos contadores de causos, que sob a luz do Lampião tornavam a vida mais curiosa.

Jr. Quibao – Rafard, 14/03/2017, 09h45min

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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