Opinião

Artigo – Coragem para enfrentar as reformas

Marcos Cintra

Os protestos foram espontâneos e tiveram início nas redes sociais. Logo ganharam as ruas das grandes e médias cidades brasileiras. Suas causas ainda não foram bem digeridas e explicadas pelos analistas.

A motivação das manifestações vai muito além do modo como elas foram expressas. Por trás da insatisfação dos brasileiros está a saturação da estrutura social, política e econômica do País. Creio que há dois eixos principais nesse sentido: Um é a sensação de que há um enorme distanciamento entre os interesses da sociedade e as instituições que deveriam representá-la. O outro é a falta de correspondência entre os anseios da população e o modelo de Estado em vigor.

Em relação à representatividade, a resposta poderia vir através de uma reforma capaz de “desprofissionalizar” a política, desmantelar as organizações criminosas incrustadas no governo e aproximar o cidadão de seus representantes. Esse processo deve ter como principal diretriz o combate aos políticos de carreira, que deixam seus afazeres privados e se ajustam aos interesses de minorias em detrimento do bem comum.

No tocante ao modelo de Estado cumpre dizer que o País está preso a uma visão da década de 50, que combina o Estado empreendedor com a ampliação da rede de proteção social. Nos últimos dez anos o Brasil expandiu programas de seguridade e passou a intervir fortemente na atividade econômica.

Durante as eleições presidenciais de 2010 o atual governo manifestou-se claramente em defesa desse modelo intervencionista, propondo intensificá-lo. O discurso era que um Estado “grande e forte” seria capaz de implantar um novo “desenvolvimentismo”. Na ocasião afirmei no artigo “Bordão démodé”, na Folha de S.Paulo em maio de 2010, que isso implica tolher o desenvolvimento do País, além de custar muito caro ao contribuinte.

O modelo intervencionista se sustentou enquanto a economia cresceu. O fim da bonança a partir de 2011 mudou tudo e mostrou a insatisfação social. O brasileiro intuiu que era preciso algo novo.

O modelo está em xeque. O Estado brasileiro se agigantou a tal ponto de absorver quase 40% da renda dos brasileiros e destinar cerca de 93% desse montante para manter a rede de proteção social e financiar seu próprio custeio. O poder público tornou-se um sorvedouro de recursos públicos nos níveis dos países ricos em troca de serviços de qualidade sofrível.

A sociedade mandou um recado aos políticos. O brasileiro quer ações concretas que resolvam seus problemas do dia a dia e passou a se importar com a eficiência administrativa porque percebeu que ela influi na qualidade de vida. Capacidade de formular e executar um novo modelo de desenvolvimento que atenda essa exigência é o desafio que se coloca aos gestores públicos e que, felizmente, será levado em conta nas próximas eleições.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo
Abrir bate-papo
Olá
Podemos ajudá-lo?