Coragem
A palavra latina “coracticum” (“cor”- cordis), coração + “acticum”, com o significado de ação, ipsis litteris, seria coração que age. Era traduzida como coração valente, bravura, coração forte, e por derivar de “acticum,” é também cor, contrário de pálido, doentio. A língua francesa recebeu do latim, como “courage” que quer dizer firmeza, ousadia … A língua portuguesa recebeu o termo, via francês, “coragem” com o sentido de bravura, audácia. Coragem é o antônimo de medo.
Segundo o dicionarista Aurélio B. de Holanda Ferreira, coragem e bravura em face do perigo, intrepidez, ousadia, resolução, desembaraço, franqueza, perseverança.
Na mitologia grega, Ares era o deus, típico espartano, de grande vigor físico, deus da beleza, da coragem e da guerra. Era também um deus que tinha o sangue guerreiro, sempre pronto para o combate e briga pessoal. Os gregos o consideravam muito corajoso, intrépido para enfrentar batalhas sanguinolentas, tragédias com muita matança e desenfreada violência, Ares era o deus da religiosidade grega antiga.
Ares tinha seu lugar no Panteão grego, porém a mitologia diz que ele nasceu na Trácia, lugar de povo guerreiro e não na Grécia. Os espartanos, afeitos à guerra, admiravam-no, enquanto os atenienses, mais apegados às artes e à cultura, tinham-no como deus estrangeiro.
Para o estoicismo, fundado por Zeno (século 3 a. C.), a coragem era, juntamente com a sabedoria, a temperança e a justiça as quatro virtudes essenciais.
Sócrates tinha a coragem como uma espécie de persistência mental para resistir e vencer o perigo e o medo.
Platão disse: coragem é conhecer o que não se deve temer. É uma virtude indispensável na atualidade, se quiser vencer nossos temores inibidores.
Aristóteles disse que a coragem é que garante todas as outras qualidades humanas. É a força interior essencial para enfrentar os desafios da vida. Aristóteles também dizia que para ter coragem é necessário que haja o medo, sem o medo não há porque haver coragem. Para enfrentar os perigos da vida há que ser por razões corretas.
Para Aristóteles, é necessária a coragem para reconhecer as imperfeições pessoais (de caráter) a fim de mudá-las.
Antigamente o coração era considerado o órgão sede da inteligência e dos sentimentos: amor, ódio, inveja, ira, e obviamente, a coragem. Até hoje, diz-se: odeio de coração, ou, eu amo de coração; fiz isso de coração para você.
Os neurocientistas dizem que, na realidade, tudo é percebido e realizado no cérebro, pelos seus neurônios e neurotransmissores.
Todos os animais, irracionais e o homem racional, têm medo, medo diante de um perigo iminente, de uma catástrofe, ou ante ameaça de assassinos cruéis.
Coragem é a capacidade que caracteriza os sábios e virtuosos para enfrentar o medo, suas ameaças e riscos.
A humanidade vive freneticamente, de maneira assaz competitiva, com valores morais invertidos, exalta-se a imoralidade e ridiculariza-se a moral; a precariedade está tão alargada que grande parte dos habitantes se acostumou ao submundo. No Japão, um dos países mais ricos, muitas pessoas, da classe média, moram em quartos, que mal cabem a cama e alguns poucos móveis; o teto é tão baixo, que é necessário abaixar a cabeça se quiser ficar em pé. Nos países europeus o viver não difere quase em nada. No Brasil há 277 mil moradores de rua e o número é crescente (935% em 10 anos). É necessário ter coragem e muita coragem para sobreviver. A concentração da riqueza nas mãos de poucos torna mister que a grande maioria permaneça na pobreza.
Esta situação gera medo do “amanhã”, aumenta a criminologia, entre os pobres e de classe média, e a insegurança entre os abastados. Sócrates já dizia: “O mundo envelhece apodrecendo.”
Aristóteles tinha alguma razão: coragem é a maior de todas as virtudes, é uma força essencial interior, mas ainda creio, que o amor, como disse S. Paulo, é a melhor virtude, (1Coríntios 13:1-3).