ArtigosJ.R. Guedes de Oliveira

Correia de Mello

Eu conheço homens puros entre os contemporâneos dos meus 32 anos de idade, mas nunca vi, tão elevadamente como o poeta das “Espumas”, a suprema idealização da virtude humana. Toda a vida do fino escritor é um hino inalterável à bondade e à probidade, ao afeto e à correção. As suas obras expõem, com brilho fulgurante intenso, essa feição característica da sua alma. Em todos os seus livros, quer na poesia ou na prosa, lateja um coração de ouro e de cristal, sem similitude nestes tempos em que é difícil não ser corrupto. Neles palpitam não só o carinho e a meiguice da mais suave brandura, que alenta e vivifica como o otimismo e a fé dos que creem e dos que perdoam, dos que não tem o “ontem de fel” no coração. Lendo-o ou ouvindo-o, eu, que sou um fraco, sinto que me fortaleço e me revigoro, que ganho milagres psíquicos de ressurgimento. Amadeu Amaral não se me impõe somente à admiração como o maior prosador moderno, que apraz ao meu gosto de literário. Impõe-se principalmente como o eleito da bondade, como o cristal do caráter, como o gênio do bem, do amor e da poesia. Três vezes gênio, tem um encanto e uma irradiação todo o seu ser. É preciso lê-lo, vê-lo e ouvi-lo para compreender que nele se resume, numa cristalização perfeita, a essência de tudo quanto é bom e honesto. A sua própria poesia não atroa, nem ressalta. Desliza, vai correndo a fio, murmura e contente, evocando, a cada momento a epopeia singela da felicidade cristã, que continua a ter bálsamos infinitos, mau grado a fúria iconoclasta dos incréus. Não existe em todas as suas páginas uma só, única, que vele uma intenção. Transparentemente, todas elas nos dizem o que o poeta sente, o que o pensador pensa, o que o filósofo busca. Exercendo a crítica, nunca o vi desanimar um principiante. Pelo contrário, estimula-o sempre. Amadeu Amaral, alma verdadeira de eleito, acha que neste mundo há lugar para todos. Disse-o, um dia, num discurso de agradecimento ao almoço que amigos e admiradores lhe ofereceram quando da sua eleição para membro da Academia Brasileira de Letras para a cadeira de Bilac, que ele substitui como ninguém. Foi esta a sua frase: “O meu mérito, se algum o tenho, consiste em ter trabalhado muito e em ter deixado trabalhar os outros”. Sublime espírito!

Esta luz bendita derrama-se por todos os seus atos e obras, esclarece o seu passado e ilumina-lhe o presente. Jamais alguém o viu capaz de agilizar-se e ceder às injunções do momento. Não tem casuísmos, não tem mercancia, não faz transações com a consciência. A reta é o seu destino para onde caminha de cabeça erguida e coroada, como um dos maiores triunfantes.

Verdadeiro poeta, como poeta vive, sonhando sonhos bons, para si e para os seus, para a sociedade e para a Pátria, para o povo e para a humanidade. Quer bem ao que é frágil e ao que é forte, a criança que balbucia e o adulto que trabalho, a pedra que rola para o vértice e a pedra que se arroja para o vértice. Ama, perdoando; perdoa amando. Não sofre a vertigem dos deslumbramentos que ofuscam. Inteligência superior, distingue infalivelmente as nuvens que descem das nuvens que sobem as que vem do Céu e as que sobem da Terra.

Publicidade

1920

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo
Jornal O Semanário Regional
Visão geral de privacidade

Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.