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Crack vira epidemia e ataca classe média

06/04/2018

Crack vira epidemia e ataca classe média

Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é especialista em dependência química pela USP/SP-GREA

ARTIGO | Droga surgida no início dos anos 1990 já é usada por milhares de pessoas no país e preocupa por viciar rapidamente, como ocorreu com o advogado doutor Quaresma, defensor do goleiro Bruno, ex-Flamengo.

“Sou dependente de crack há sete anos. Estou me tratando e tive algumas recaídas, mas nunca entrei num plenário doidão”, afirmou o advogado ao Diário de São Paulo.

A cocaína, e especialmente o crack, deixou de ser usado só por pessoas de baixa renda. Pela facilidade da compra, por ser barato e oferecer prazer imediato, difundiu-se entre todas as classes; mergulhados no mundo da “pedra”, médicos, empresários e profissionais liberais estão entre as vítimas que procuram ajuda, juntamente com a grande massa de desempregados.

Uma reportagem antes da Copa de 2014, registrada na revista Veja (12/2012), mostra o envolvimento da classe média quando o governo paulista desejava fazer uma limpeza no centro da cidade, numa operação anticrack:

“Nessa procissão sem rumo, a degradação exibida em fila indiana igualava ricos e pobres. Um estudo feito pelo Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Drogas mostrou que, de 178 ocupantes da região, 17 tinham curso superior completo e 24 estavam matriculados em faculdade. Dois (2) deles estudavam medicina.”

O programa de assistência social “De Braços Abertos” completou 1 ano, em 2015, implementado pela Prefeitura de São Paulo na Cracolândia, e reduziu em 80% o fluxo de dependentes químicos no Centro de São Paulo, segundo dados da Secretaria da Saúde: “1.500 usuários por dia circulavam na região, e agora são 300”, diz Prefeitura.

Esse programa social, no primeiro ano (2014), pagava R$ 15 por dia trabalhado aos dependentes químicos da Cracolândia: os usuários fazem trabalho de zeladoria, moram em hotéis da região e fazem três refeições diárias.

Esse programa de redução de danos é semelhante ao dos CAP’s AD, que na verdade é apenas um paliativo ao tratamento, porque os usuários continuam no uso e abuso fora do expediente.

Em 2018 vimos que o programa mascarou, mas não resolveu, o problema. Sem internação voluntária e ou compulsória com abstinência, desintoxicação, conscientização e aplicação de valores sociais e espirituais, aliados ao recurso da medicina, todo trabalho é infrutífero.

Na recuperação em dependência química, nada é mais perigoso que uma ideia, se você tem apenas uma: a ideia de tomar um gole ou só mais uma dose.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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