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Crônicas – Antes que o tempo nos apague

Bruno Bossolan - www.brunobossolan.blogspot.com

Desespero fatigado. todas as atitudes me parecem nuas. desagasalhadas. decisão de realce. dia nublado apoiando a melancolia. noite chuvosa afogada em queixas. oceano de lamentações. e é só o começo. relembro. as coisas são como pedradas certeiras. asas com rodas. adaptação necessária para o caído correr. bolso furado e os dedos congelam. olhos furados. tudo calmo. o céu é remendado por corvos mecânicos. ao menos aparceirados. detesto o modo frágil de caminhar. o jeito como alguns arrastam os pés. parecem arrastar a vida. aqui não há. me desdobro para cada elemento da natureza. sigiloso como a incisão duma doença letal. me falta o ar. real que sou padeço em tristeza. alimento-me de subjeções moleculares. renego o azeite e o vinho que preserva a saúde contemporânea. pancada. conspiro em cada lata de cerveja. sou ruminativo. delírio de migalhas. meu quarto inabitável. as manhãs brilham em arames farpados. retrógrado. cheiro de mentiras e você me abraça. à vontade. aqui por perto sempre estive. eufóricos bocejos. boa noite. te desejo. esqueci de me dar cuidado. delimitei-me em doer. a luz no fim do túnel é a locomotiva fumaceando sangue contra teu peito. engasgo. as coisas são certamente pedradas na cara. inquilino das sombras distantes. fui despejado do meu corpo. palácio de ossos em ruínas. remontados. catedral de pele ao sol. fonte de órgãos que boiam à vista. jogue uma moeda e faça um pedido. descanse-me em paz. mancho quem me toca. termino rachado. garganta que coça e os dedos não alcançam. soletro minha derrota. ou o poema limboso. destruído. mergulhe em minhas águas mansas. maré alta com ondas furiosas. jogo-te com força contra o castelo de areia. nó no seu estômago. esconderijo da apneia. cansaço. afogue-se. não sou teu salva-vidas. cante para a minha fissura. acalme-me. as pedradas não fazem mais efeito. afundo até o céu. inesgotável de tão leve fluir. sobrevivo ao seu tempo. agarre-se em meus estilhaços. boie na imensidão catastrófica que sou. tranque-me em pássaros migratórios. necessidade nômade de buscar a lua em todos os lugares que te procuro. a inquietação me golpeia. o pôr-do-sol me pôs na cova. sufoco. as coisas e as pedradas nos desviam do caminho certeiro. receio do deslize. desfie a fibra dos teus ouvidos. escute-me. borre a maquiagem com a água da sarjeta. faça-me companhia. o sino da catedral nos avisa. é tempo de tentar. guia estreita. um pé por vez. aproxime-se. não tropece. aqui eu sou o cadáver. vivo com o útero. tua flor não desabrocha sem o meu adubo. meu canteiro é morto. ceifo o trigo e planto o joio. tombo como se nunca tivesse provado o alimento humano. ternura. atrás da escrita te absorvo em espécie. imagino-te ao meu lado. pago com a dormência dos punhos. pulso teu respirar. condenado na solitária do seu desprezo. tão falso ao contrário do que pareço. uma pedra rudimentar atingido pelas coisas. petrificado. casca frágil de interior vulcânico. atormento-me invisível e descalço. desgarrado. desfigurado. repouso no teu lago em imagem do que acredito. do que preservo. da qual me crio. da quantia miserável que não te toquei. sou pedrada no espelho que te engana. já é tarde. ofusca o meu labirinto. emudecer.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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