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Crônicas – Estar, apenas

Bruno Bossolan - www.brunobossolan.blogspot.com

Suponho que seja assim esse caos aureolado, de vítimas sorridentes em transes quiméricos, realidades vislumbradas por abraços, afeições paralisantes, pancadas aveludadas, apenas uma brincadeira intrínseca de levezas, seriedade de criança, ciranda uníssona, cantiga de dois corpos, ritual sincronizado das vontades, pega-pega em retrair-se, expandir-se no outro, sê-lo, desdobramento do ser, pluralidade dos avessos, uma terceira cria atômica que se dá nessa junção, conjunção das preces, um brilho corrosivo, saliva que cura, medo que impulsiona, mãos que bendigam a carne colapsada, voz que rasga, goela que sopra, lábios que tremem, tormento das sinagogas que choram, silêncio pós-sono, fúria pré-enlace, o risco na carne, calmaria de aconchegos, valor que se paga por morrer além de si, no abismo aquém do querer, centrado nas bordas do mesmo, nas margens da imensidão, submerso nas profundezas férteis do cultivar-se, um tanto disso tudo incrustrado no coração que pulsa se ritmando com o espírito. É o trilhar como uma locomotiva descarrilhada sempre ao mesmo destino incerto, certo de si, cheio de fome, quiçá um equivocar-se em cada desvio e mesmo assim continuar tocando, perder-se, achar-se no esconde-esconde da reavivação, a ansiedade do bem-me-quer, sublimação de mananciais líricas, dedos que se tornam laços, consistência invertebrada para localizar-se onde quiser, irracionalizar os sentidos, amanhecer-se pelos caminhos, não mais pegar o atalho, se ralar pelo inteiro, contemplar a singularidade do ato, fascinar-se … suponho que seja o efeito da pura carícia em estar, apenas.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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