Rubinho de Souza

Eleições – Desde o Brasil Colônia até os dias atuais (Parte 3)

Depois de nas publicações anteriores, abordarmos sobre as eleições no Brasil colônia e na semana seguinte sobre as eleições na República, hoje à título de curiosidade, abordaremos um tema mais ameno, quando o voto ainda era realizado através de cédulas de papel, e na hora do voto, variadas formas de insatisfação política e social, chegaram à urnas, permitindo que o indivíduo ao invés de votar no candidato de sua escolha, o fizesse até mesmo em candidatos que não existiam, e até mesmo em animais.

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Foto enviada pelo colunista

Vereador Cacareco

Em 1959, também num período de grande insatisfação com os políticos e candidatos a vereador para a câmara da cidade de São Paulo, o jornalista Itaboraí Martins, do jornal “O Estado de São Paulo”, inflamando a sociedade paulistana, lançou a candidatura de um rinoceronte como vereador da cidade.

A tática inicial para alavancar a candidatura do rinoceronte, consistia em pichar muros e divulga-lo em programas de debates na televisão e com isso desmoralizar os políticos da época.

O movimento foi tão bem recebido pela população, que algumas gráficas chegaram a imprimir “santinhos” com o nome do animal. Até um jingle foi feito: “Cansados de tanto sofrer / E de levar peteleco / Vamos agora responder / Votando no Cacareco”.

O rinoceronte apelidado de “Cacareco” havia sido emprestado pelo Rio de Janeiro, para a capital paulista por conta da inauguração do zoológico municipal, e os eleitores da cidade de São Paulo, querendo externar toda a insatisfação nas urnas, o elegeram como vereador naquela eleição.

Na ocasião, Cacareco foi o grande destaque e o animal mais procurado pelas 200 pessoas que compareceram à cerimônia. Jânio Quadros chegou a dizer que “com o cartaz que está, Cacareco seria um forte candidato aos Campos Elíseos” (referência à sede do governo estadual).

A popularidade do animal era tão grande, que o resultado foi surpreendente: “Cacareco” o animal, que apesar do nome, era uma fêmea, quando a apuração foi consolidada, Cacareco estava “eleita vereadora”.

Apesar do Tribunal Regional Eleitoral não ter divulgado oficialmente o número de votos recebidos pela candidata rinoceronte, por tê-los classificados como nulos, estima-se que ela tenha recebido cerca de 100 mil votos, quase 10% do universo de eleitores aptos a votar na capital, e foi notícia até no exterior: a revista americana “Time” chegou a noticiar que “era melhor eleger um rinoceronte do que um asno”.

Prefeito Mosquito

O primeiro caso que aqui vamos relatar, aconteceu no ano de 1987, quando houve um surto de dengue na cidade de Vila Velha/ES, e a insatisfação popular com o poder público municipal era muito alta, visto que, não foram implementadas pela administração daquela época, medidas eficientes contra o transmissor e os focos do mosquito que proliferavam na região.

Nas eleições do dia 14 de dezembro de 1987, como forma de protesto para chamar a atenção das autoridades para o descaso com a população, o povo elegeu o “Mosquito” como Prefeito Municipal, com 29.668 votos em cujas cédulas constavam seu nome depositado nas urnas, superando o candidato que ficou em segundo lugar, com 26.633 votos.

Apesar da vitória, os votos angariados pelo “candidato mosquito” foram anulados pela Justiça Eleitoral do Estado, sendo empossado no cargo de Prefeito Municipal de Vila Velha, o segundo colocado na votação.

Empossado, o novo prefeito, tomou como primeiro ato, as reclamadas medidas de combate à doença e ao transmissor da dengue de forma nunca vista antes na cidade de Vila Velha.

Prefeito Macaco Tião

Em 1988, logo após o fim dos governos militares, os jornalistas dos jornais “Planeta Diário” e “Casseta Popular”, que depois passaram a ser conhecidos como “Casseta e Planeta”, como uma forma de protesto pela insatisfação com os políticos do Rio de Janeiro, lançaram a candidatura do popular Macaco Tião, pela legenda PBB – Partido Bananista Brasileiro, a prefeito da cidade.

O primata era famoso por seu temperamento, de estar sempre de mau humor, e pelo costume de jogar fezes ou restos de comida nos visitantes do zoológico da cidade, mas ainda assim, recebeu mais de 400 mil votos, alcançando a terceira colocação entre os 12 candidatos à Prefeito do Rio de Janeiro, e foi capa da revista Veja.

Reflexão

A postagem acima merece uma reflexão dos atuais postulantes a cargos públicos, para que façam uma autocrítica e revejam as suas atuações como gestor público e fiscal do executivo, visto que a insatisfação, salvo raras e honrosas exceções, é visível, e externada de forma escancarada nas redes sociais.

Contudo, é preciso que haja uma conscientização do eleitor para entender que, para além de um bom processo eleitoral, é preciso haver bons eleitores, ou seja eleitores que não aceite nada em troca do voto, nem mesmo a amizade do eleito, pois podemos muitas vezes até não gostar do candidato, mas talvez seja ele o mais preparado para ocupar o cargo.

O longo e penoso caminho percorrido desde o Brasil colônia até a República para garantir o sufrágio universal e secreto para cargos do executivo e do legislativo, só será válido se cada eleitor tiver a consciência da seriedade e importância do seu voto, procurando conhecer melhor os candidatos, seu passado, suas pretensões caso seja eleito, e se antes de ser candidato, já era atuante na defesa daquilo que hoje defende. Politizar-se é preciso!

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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