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Empresário dedica tempo livre fotografando o céu e seus mistérios

27/07/2015

Empresário dedica tempo livre fotografando o céu e seus mistérios

Leandro Fornaziero, de 32 anos, construiu um pequeno cômodo com telhado removível no terreno da fábrica da família para registrar paisagens estelares
Nebulosa NGC 6188 (Foto: Leandro Fornaziero/Arquivo pessoal)
Nebulosa NGC 6188 (Foto: Leandro Fornaziero/Arquivo pessoal)

RAFARD – O empresário Leandro Alex Fornaziero, de 32 anos, certamente olha para o céu mais vezes do que qualquer outro rafardense. Com o auxílio de equipamentos astronômicos e de fotografia de última geração, o jovem revela incríveis paisagens estelares até então escondidas na escuridão da noite.

O pequeno cômodo construído no terreno da fábrica da família, na estrada sentido Tietê, o recebe quase todas as noites e até remove seu telhado por algumas horas, na esperança de oferecer alguns bons registros. Por outro lado, não é sempre que as nuvens colaboram. Volta e meia elas aparecem aos montes para acabar com a diversão do empresário, formado em Administração de Empresas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gestão Financeira e Controladoria pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), e que disse considerar a astrofotografia “um hobby sério”.

Coincidência ou não, o jornal O Semanário conversou com Fornaziero em pleno mês da Astronomia Amadora, para conhecer um pouco sobre essa atraente modalidade da fotografia, mas pela qual poucos ousam se aventurar. Uma galeria do aficionado, além de várias dicas sobre astrofotografia, pode ser conferida em seu blog: observatoriolupus.blogspot.com.br ou no site: astrobin.com/users/leandrof58.

Leandro Fornaziero tem paixão por astronomia desde criança (Foto: Laila Braghero/O Semanário)
Leandro Fornaziero tem paixão por astronomia desde criança (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Jornal O Semanário Regional: A astrofotografia é um hobby?

Leandro Alex Fornaziero: Sim. Posso dizer que é um hobby que levo muito a sério. Só não posso chamar de trabalho, porque não sou remunerado.

O Semanário: Quando você teve o primeiro contato com a área?

Fornaziero: Paixão por astronomia eu tenho desde criança. Não posso especificar uma data. Sempre gostei de observar o céu e de qualquer assunto ligado ao cosmos. Todo astrônomo amador, seja ele observador ou astrofotógrafo, inicia com observações sem equipamentos, lendo cartas celestes para identificação do céu. E não demora a querer um telescópio, instrumento fundamental para um estudo mais aprofundado.

Creio que, nos dias atuais, 99% das pessoas que o compram imediatamente tentam fazer algum tipo de registro astronômico, utilizando celulares, webcams ou qualquer outro tipo de dispositivo disponível. Comigo não foi diferente. No entanto, não me recordo exatamente quando comecei a levar a sério a astrofotografia especificamente. Talvez há aproximadamente seis anos.

Registro do planeta Saturno em abril de 2014 (Foto: Leandro Fornaziero/Arquivo pessoal)

O Semanário: Onde você faz as fotos? Fale sobre o Observatório Lupus.

Fornaziero: No início eu realizava os registros do meu quintal, no Centro de Rafard. Porém, as cidades não são lugares próprios para praticar astrofotografia. É possível, mas não é o ideal. Na cidade existe muita luz (poluição luminosa ou PL). Em cidades pequenas, como Rafard, ela também está presente, atrapalhando o trabalho dos astrônomos amadores.

Outro empecilho que havia era montar e desmontar o equipamento toda vez que quisesse fotografar, sem contar que meus equipamentos ocupavam muito espaço dentro de casa. Foi aí que decidi iniciar a construção de um local próprio para isso. Um local afastado da cidade e onde eu pudesse guardar todo o equipamento montado, sem interferência de luzes. E, em agosto de 2013, iniciei a construção do meu observatório particular, posteriormente denominado Observatório Lupus.

O que nós amadores chamamos de observatório está longe daqueles que vemos na TV, com cúpulas gigantes etc.; não passa de um quarto ou uma construção similar. Serve para abrigar os equipamentos montados, prontos para o serviço. Quando necessário, basta abrir o teto ou cúpula para ter visão do céu. O Observatório Lupus é um tipo de observatório conhecido como “roll-off roof”, cujo nome vem da maneira com que o telhado é aberto, pois fica sobre trilhos.

Observatório Lupus tem telhado sobre trilhos, proporcionando a abertura do teto (Foto: Laila Braghero/O Semanário)
Observatório Lupus tem telhado sobre trilhos para facilitar abertura (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

O Semanário: Com que frequência você fotografa? Quanto tempo você demora, em média, para tirar uma foto? Ela é editada depois?

Fornaziero: Fotografo sempre que possível, sempre que o clima está propício e desde que não tenha compromissos mais importantes. Existem dias, como os de lua crescente-cheia, que dificilmente fotografo, porque assim como as luzes da cidade, a luz refletida por nosso satélite atrapalha o registro de objetos tênues.

Para registrar um objeto no espaço, seja ele uma galáxia, uma nebulosa ou um planeta, utilizamos uma técnica chamada “integração de imagens” ou “empilhamento de imagens”. Explicando de forma bem básica, nada mais é do que fazer dezenas, centenas ou até milhares de fotos e, por meio de softwares específicos, colocar uma sobre a outra para que os detalhes que não são visíveis em apenas uma foto se tornem visíveis.

Outra técnica que utilizo para o registro de objetos do espaço profundo (nebulosas, galáxias, aglomerados estelares, entre outros) consiste em fazer longas exposições: deixamos a câmera com o obturador aberto durante minutos para que ela capte a pouca luz desses objetos que chega à Terra. Resumindo, para conseguir uma boa imagem é preciso várias fotos com um bom tempo de exposição cada uma.

Nas minhas imagens, costumo usar tempos de exposição de dez minutos por foto e fazer o máximo de fotos que conseguir. Geralmente, faço entre 60 e 120 fotos com dez minutos de exposição cada uma. Portanto, em horas corridas leva-se de dez a 20 horas para fazer uma única foto. Porém, essas dez ou 20 horas têm de ser divididas em vários dias, levando, às vezes, até um mês ou mais para terminar um trabalho.

Toda a astrofotografia passa por um tratamento chamado “processamento”, que consiste em unir as fotos e aplicar ajustes de curvas, níveis e cores. Entretanto, esses ajustes nunca podem modificar a imagem, apenas ajustá-la de maneira que fique mais visível e com cores mais próximas da realidade.

Galáxia Cata-vento do Sul (Foto: Leandro Fornaziero/Arquivo pessoal)
Galáxia Cata-vento do Sul (Foto: Leandro Fornaziero/Arquivo pessoal)

O Semanário: É possível fotografar durante o dia?

Fornaziero: O único objeto que pode ser fotografado durante o dia é o sol, pois ele ofusca o brilho de qualquer outro objeto no céu. Astrofotografia solar é uma modalidade fantástica, mas que eu não exploro muito. Aproveitando, deixo um alerta aos leitores: nunca olhem diretamente ou através de qualquer instrumento, como telescópios ou câmeras fotográficas, para o sol. Isso pode acarretar danos graves à visão e até cegueira.

Essa modalidade de observação pede um filtro solar apropriado, que filtre 99,9% da luz solar. Filtros que acompanham telescópios baratos (de má qualidade) são perigosos. O vidro aquece e pode quebrar. Para se ter uma ideia do que pode ocorrer com os olhos ao observar a luz do sol concentrada através de um telescópio, basta se lembrar das formiguinhas que matávamos com a lupa quando éramos crianças.

O Semanário: Você tem acesso remoto a seus equipamentos?

Fornaziero: Sim. Todo o meu observatório possui controle remoto, através de softwares e hardwares que eu mesmo escrevi e construí ou adquiri de terceiros. Isso significa que não preciso estar dentro do observatório para controlá-lo. Posso fazer tudo da minha casa, pelo computador ou até mesmo pelo celular. Mas prefiro acompanhar pessoalmente. Só utilizo o acesso remoto se houver necessidade.

Crateras lunares registradas em agosto de 2014 (Foto: Leandro Fornaziero/Arquivo pessoal)
Crateras lunares registradas em agosto de 2014 (Foto: Leandro Fornaziero/Arquivo pessoal)

O Semanário: Você utiliza uma câmera ou um telescópio? Ou os dois?

Fornaziero: Utilizo ambos. Para iniciar na astrofotografia é necessário pelo menos uma câmera. As melhores são as DSLRs (Reflex), pois elas possuem uma gama enorme de possibilidades. Contudo, é possível utilizar muitas outras opções, desde webcams para imagens planetárias e lunares até câmeras de segurança para espaço profundo. O uso do telescópio em conjunto com a câmera é o mais comum, mas não é necessário e acredito que nem seja a porta de entrada para a astrofotografia.

O uso de câmeras digitais compactas ou DSLRs que possibilitam controle manual total (tempo de exposição, abertura e ISO) é uma ótima opção para começar. Todas as informações detalhadas sobre como iniciar de forma simples na astrofotografia podem ser encontradas no meu blog: observatoriolupus.blogspot.com.br.

O Semanário: Você já atuou profissionalmente na área ou participou de algum concurso, congresso etc. sobre astrofotografia?

Fornaziero: Não existe muito espaço para atuação profissional na área. Existe um grande contato com observatórios e instituições nacionais e internacionais, até mesmo troca de informações, mas não posso dizer que seja algo profissional. Sempre que possível participo de eventos relacionados à modalidade. Mas nem sempre posso, pois tenho pouco tempo dedicado para a astronomia e quase todo ele é consumido pelo meu observatório e pela astrofotografia.

Grupo Compacto de Galáxias Hickson 44 (Foto: Leandro Fornaziero/Arquivo pessoal)
Grupo Compacto de Galáxias Hickson 44 (Foto: Leandro Fornaziero/Arquivo pessoal)

O Semanário: Onde você aprendeu sobre corpos celestes pra conseguir identificar os “pontinhos” no universo? É possível utilizar suas fotos para pesquisas científicas?

Fornaziero: Para identificar qualquer objeto no céu, assim como na terra, utilizamos pontos de referência. São as constelações: figuras imaginárias formadas por estrelas. Por exemplo, se eu pedir a você para apontar a Nebulosa Cabeça de Cavalo (só visível através de registro fotográfico), pode parecer uma tarefa difícil, mas se eu te disser que ela fica na constelação de Orion, próxima ao Cinturão de Orion, famoso asterismo conhecido como as Três Marias no Brasil, as coisas não ficam mais claras?

Então, o conhecimento das constelações e suas estrelas pelo astrofotógrafo é fundamental para localizar objetos que não são visíveis a olho nu. Obviamente que existem coordenadas para cada objeto (eu as utilizo hoje em dia), similares à latitude e à longitude utilizadas na Terra, mas para utilizá-las é necessário um conhecimento mais avançado e equipamentos específicos.

Todo registro pode ser utilizado para pesquisa, porém, com o avanço dos grandes telescópios, o tipo de registro que eu faço não seria de muita ajuda. Existem poucas áreas em que a astrofotografia amadora pode colaborar, significativamente, com a ciência. São elas: a caça por Cometas, por Supernovas (explosões de estrelas) e o registro de meteoros, áreas que pretendo explorar em breve.

Empresário começou a levar a astrofotografia a sério há aproximadamente seis anos (Foto: Laila Braghero/O Semanário)
Empresário começou a levar a astrofotografia a sério há uns seis anos (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

O Semanário: Que dica você dá para quem quer se aventurar pela astrofotografia?

Fornaziero: Comece estudando o céu. Inicialmente, não há necessidade de comprar um telescópio. Não adianta ter um telescópio e não saber para onde apontá-lo. Hoje em dia temos cartas celestes digitais e simuladores em tempo real que possibilitam a aprendizagem de forma rápida. Quem tiver interesse pode pesquisar pelo software Stellarium para PC/Mac ou Google SkyMap para Android.

O segundo passo é estudar um pouco sobre fotografia, sobre como controlar uma câmera. Garanto que para quem gosta de astronomia e de fotografia vai ser muito divertido e gratificante. Para quem gosta do assunto, a página do observatório no Facebook é Observatório Astronômico Lupus. Temos também dois grupos fantásticos e muito sérios: Astrofotografia Amadora e Equipamentos Astronômicos.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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