Em idos tempos, a Rádio Cacique de Capivari tinha os seus estúdios na rua Padre Fabiano, parede-e-meia com o Armazém Maluf, do benemérito Bichara e seus irmãos (este localizado bem na esquina, com a rua Padre Bento Pacheco).
Entre os anos de 1960 a 1962, o Prof. Ernesto de Mariz Nogueira Neto criou o programa radiofônico “Enciclopédia pela Cacique”. Era o dístico de todos os domingos, às 12:00 horas. O referido professor de português e inglês fazia a apresentação, respondia as perguntas e comentava sobre a nossa língua. Tudo, é claro, baseado nas lições e no ensino do Prof. José de Almeida.
Para as questões de saúde, recaia ao farmacêutico Florival de Andrade, que discorria sobre este aspecto, levando à coletividade a higiene de um modo geral, os cuidados com os remédios, as inovações na medicina, etc.
Da minha parte, mesmo sendo jovem, fui designado a apresentar a secção “biografia de homens ilustres”. Tinha os meus 15 minutos, descrevendo, principalmente, a vida e as realizações das figuras nacionais da nossa história.
Para a parte do pensamento filosófico, fazia a sua vez o Prof. Dr. Carlos Lopes de Mattos, com as suas explicações sobre “História da Filosofia”. Tanto assim que, anos depois, em 1989, ele publicou o livro “História da Filosofia – da Antinguidade a Descartes” que, em sua íntegra era a sua voz pela Rádio Cacique, também nos 15 minutos que lhe era concedido. O próprio filósofo fez questão de descrever, na introdução da obra: “Este livro é o resultado de uma série de palestras radiofônicas, entre 1960 a 1962, na Rádio Cacique de Capivari. Convidado a participar de um programa com fins puramente culturais, discorrendo sobre temas filosóficos, procuramos, dentro do limite do horário, sintetizar ao máximo nossa exposição”.
Contudo, mesmo sendo o programa de fins culturais, sem qualquer ganho financeiro para os apresentadores e colaboradores, a direção da rádio acabou por suspender o programa, alegando nada render à emissora. Foi uma pena, justamente quando estávamos com boa audiência, mas, infelizmente, não sendo a vontade de seus patrocinadores. Na época, os programas de auditório e sertanejo, ganhavam mais adeptos. Parece que nada mudou passado tanto tempo.
Cartas e ligações telefônicas foram tantas, buscando informações, com pedidos de explicações sobre inúmeros assuntos. Era, na verdade, um programa voltado para a cultura e com todo o rigor de levar o que era de melhor para os ouvintes da Rádio Cacique de Capivari. Não deu certo, lamentavelmente, pela total falta de apoio, muito embora levado com toda dedicação, pelos que compunham a programação em questão.
ARTIGO escrito por J. R. Guedes de Oliveira, ensaísta, biógrafo e historiador. Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal. São de inteira responsabilidade de seus autores.
