Rubinho de Souza

Fazenda Itapeva – Do Fundo do Baú Raffard

Vendo a foto da sede da Fazenda Itapeva, um filme passou em minha mente, e lembrei-me de que numa dessas visitas de família, o meu irmão Elias e eu estávamos recordando dos anos passados, em que minha família morava no bairro dos Padovani, e meu pai tinha barbearia ao lado do Banco Bandeirantes, na Mauricio Allain, em Rafard, onde eu, com 10 anos já engraxava sapatos e ajudava meu pai.

Nessa época, a maioria dos homens usavam sapatos e gostavam de vê-los sempre brilhando, então havia serviço para mim e outros meninos que disputavam quem deixava os sapatos mais brilhando. Bilo Pacheco era meu freguês mais assíduo, e ainda dava gorjeta pelo bom serviço prestado.

Voltemos à barbearia do Carmo, onde trabalhavam meu pai, e meus irmãos Elias e Gerson. A clientela era grande, tanto que os moradores da Fazenda Itapeva começaram a achar que estava difícil vir para a cidade, depois de um cansativo dia de trabalho e ainda trazer os filhos para cortar cabelo.

Bem, diante da dificuldade em vir para a cidade e ainda na maioria das vezes, encontrar o salão do meu pai superlotado de clientes, os moradores da Fazenda Itapeva deram uma sugestão ao meu irmão Elias, para que ele fosse pelo menos um domingo de cada mês até a Fazenda para cortar o cabelo dos moradores, e assim facilitar para eles.

Meu irmão, sempre muito prestativo, concordou, dizendo que faria isso pelos moradores, sendo combinado para ir até a Fazenda, o domingo mais próximo do recebimento do pagamento da Usina, pois assim todos estavam com dinheiro.

Um dos moradores que deram a sugestão ao meu irmão foi Vadô Pereira, dizendo que, se fosse possível, ir já no próximo domingo, ele providenciaria para que o administrador da Fazenda, Joaquim Frasseto, liberasse a sede para ser usada como salão de barbeiro. E assim foi feito, e como Elias falou que não tinha condução para ir até a Fazenda, Salvador disse que a título de contribuir ao que haviam combinado, venderia facilitada, uma lambreta ao meu irmão, para servir de condução.

Nesse tempo, Itapeva mais parecia uma cidade pelo grande número de moradores e pelo seu movimento nos finais de semana, com jogos e eventos que eram realizados patrocinados pelos donos da Usina.

O fato é que meu irmão, entusiasmado com a ideia, para minha alegria, visto que onde meu irmão ia me levava junto, comprou a Vespa de Salvador, e lá fomos nós, logo de manhãzinha rumo à Itapeva. Meu irmão Elias pilotando a lambreta, sem habilitação e sem nenhuma prática, e eu na garupa, segurando a bolsa de ferramentas de barbeiro.

Assim que pegamos o ‘descidão’, faltando pouco para chegar na Fazenda, caiu o pezinho que dava a partida na lambreta. Meu irmão, percebendo que havia caído, sem experiência, freou muito rápido e a lambreta derrapou na terra solta, misturada com areia e pedregulho. E lá fomos os dois ao chão, rolando, e a lambreta desceu até cair numa vala, por onde corriam as enxurradas nos tempos de chuva, e lá ficou.

Levantamos, rindo muito, batemos a roupa, e meu irmão perguntou se eu tinha me machucado, mas disse que não, que foi mais o susto e uma ‘ralada’ no joelho, mas que estava tudo bem. E dizendo isso, já tinha voltado correndo na estrada para pegar o pezinho da partida, que Elias voltou a encaixar na “Vespa”, e seguimos destino.
Chegando na Fazenda, fomos direto na ‘sede’, local onde eram realizados os bailes e eventos pelos moradores, onde improvisamos a barbearia para meu irmão atender o pessoal. Ao contar o que tinha acontecido na estrada, era só risada.

E assim, por um bom tempo, meu irmão e eu fomos juntos à fazenda Itapeva servir seus moradores, que eram da família Pereira, Godoy, Ribeiro, Carvalho, Ventura, Maia, Santos, Barbosa, Anacleto, Machado, Caproni, Frasseto, Ortolani, Orlandin, Souza, Drigo, Veroneis, Fontolan, Domeneghete, Zatti, Hugolino, dentre tantos outros que no momento não me vem à memória, e que infelizmente a maioria já se foram antes de nós. No entanto, seus filhos, netos ou sobrinhos talvez não se recordem, mas ouviram alguém de sua família falar dessa época em que os domingos eram assim…

Grato por nos prestigiar com sua leitura, e grande abraço.

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