Leondenis Vendramim

Festas Juninas

As tradicionais festas juninas e suas fogueiras são cantadas e comemoradas com comes, fogos de artifícios, brincadeiras e casamento ‘caipira’. Cantiga antiga já dizia “Pula a fogueira Yá Yá, pula a fogueira Yô Yô…” Yá Yá e Yô Yô eram abreviaturas de Sinhá e Sinhô pelos quais os negros chamavam aos filhos dos fazendeiros.
Qual é a origem desses festejos?

Era 9 de março, segunda-feira, e já cedo eram expostas bandeiras ao longo da rua, as naus enfeitavam o porto com suas velas. Então desfilaram Pedro A. Cabral muito bem vestido, ao lado do rei Dom Manuel, o Venturoso e os capitães das naus numa procissão exibicionista sob os aplausos, laudatórios e gritos do povo assistente.

Cabral tinha na cabeça um barrete enviado pelo Papa e colocado pelo rei. O Comandante das 13 naus era um ilustre cavaleiro da Ordem dos Cavaleiros da Cruz de Cristo, antiga Templários.

Essas procissões, segundo consta, eram praticadas no mitraísmo hindu, um desfile com imagens de seus deuses e de lá trazido para a República Romana, tendo como intermediária a civilização grega. Na Grécia, esses rituais precediam os jogos olímpicos, as práticas da assembleia geral e outras cerimônias. Em Roma as procissões em honra aos deuses Júpiter, sua esposa Juno e a seus filhos Vulcano, deus do raio e Febo, deus do sol, marcavam a abertura dos jogos e iam desde o Capitólio até o Circo Máximo.

Os jesuítas passavam em procissão, pelas ruas atapetadas de folhagens, com todo luxo e aparato (roupagens, tambores, bandeiras e muito barulho) para influenciar e imporem-se aos índios, negros e colonos inclusive nas visitações inquisitoriais e encantavam como serpentes, no dizer de Southey e Capistrano de Abreu.

Promoviam muitas festas, quase todos os dias em homenagem aos santos padroeiros, nas semanas santas e até em funerais (ver Capítulos da Hist. Colonial, p. 238); impregnando os nativos com suas doutrinas e contos “milagreiros” (Do Imaginário à S. Inquisição, p. 164).

O Padre Nóbrega conta que em certa ocasião tentou pregar, mas ninguém lhe dava ouvidos, um dos presentes blasfemou, e saindo foi fulminado por uma faísca elétrica, “aí ouviram com outra melhor atenção”. Padres contavam que S. Tiago apareceu onze vezes, a Virgem Maria seis vezes, S. Pedro, S. Francisco e S. Brás uma vez cada, montados em corcéis e visíveis aos soldados auxiliando os padres nas guerras contra os índios.

Agni, deus do sol hinduísta, era honrado nos dias 22 e 23 de junho com fogueiras (agni em sânscrito é fogo e passou para o latim “ignis”). Agni é segunda divindade mais importante para os hindus). Essa celebração ao deus sol Agni se dava no solstício, quando o sol começava a voltar para o hemisfério norte.

Segundo a antropóloga da USP-SP Maria Montes celebravam esse culto ao calor do fogo, com sacrifícios de animais e com cereais para obter fertilidade e abundância na agricultura. O padre espanhol João Perestrello V. Spíndola introduziu, em 1745, em Goiás, a procissão do fogaréu para representar a perseguição e prisão de Jesus.

O Vaticano adotou esse ritual pagão para comemorar o nascimento de S. Antônio no dia 13, S. João Batista, no dia 24 e S. Pedro no dia 29, todos no mês de junho (não se sabe o dia do nascimento de João Batista, nem de Pedro). Fernão Cardin em 1583, disse que a mais alegre era a festa da fogueira de S. João porque suas aldeias ardiam em fogo, e para saltarem as fogueiras, não os estorva a roupa, ainda que algumas vezes chamusquem o couro. (Citado do Tratado da Terra e da Gente do Brasil, por Leondenis Vendramim – Do Imaginário à S. Inquisição, p. 165).

Com a chegada da Família Real, em 1808, os aristocratas adicionaram a esses festejos as contradanças, e mais tarde introduziram os casamentos, batizados e padroeiros (ver revista Super Interessante, nº 6, ano 9, junho de 1995).

Desde então as festanças idolátricas vão se adequando com vestes “caipiras”, cantigas, comidas típicas, casamento e quadrilha na roça, mas a real origem está nas cerimônias e homenagens aos deuses – os devas do hinduísmo da Índia e nos deuses romanos.

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