J.R. Guedes de Oliveira

Fortuna perdida em HD

Achei, deveras interessante, a recente notícia de que o milionário britânico James Howells, vai intensificar a sua busca ao HD que jogou no lixo por um erro, contendo 7,5 mil bictoíns, avaliado em milhões de dólares. Porém, desde 2013 vem se esforçando para recuperar tal HD que ele acredita estar no lixão de Newport, no País de Gales, onde reside.

O que achei também extraordinário é que, ele, contará com o apoio de aparelhos e pessoal tecnicamente competente para esta busca em meio a 400 mil toneladas de lixo. Algo que demandará trabalho intenso e de bom tempo para que, talvez, encontre este objeto tão precioso em termos financeiros.

Se o milionário Howells tivesse estudado a história do mundo e estivesse buscado, nos compêndios e enciclopédias, o que o passado nos legou de importante, poderia estar, nesta hora, despreocupado com a sua fortuna.

A explicação é bem simples.

Quem estudou a história política do mundo, sabe o que representou, em determinado tempo, o anarquismo. A concepção desta forma de governo é que não há dirigentes. Tudo se move por si só. Na definição clássica Anarquismo é uma ideologia política que se opõe a todo tipo de hierarquia e dominação, seja ela política, econômica, social ou cultural, como o Estado, o capitalismo, as instituições religiosas, o racismo e o patriarcado.

Os anarquistas aprenderam que a preservação de toda a sua história, de toda a sua documentação de feitos e registros, deveriam ser preservados para sempre. Então criaram uma técnica simples e poderosa: sempre que um feito se dava, o registro era produzido em várias cópias. Estas eram distribuídas para diversos componentes, em diversos locais, mas, todos, de absoluta confiança. Com isso, quando se perdia uma determinada cópia, existiam outras com outros de absoluta confiança. Nisto ganhavam fôlego com as chamadas buscas policiais.

Uma das maiores figuras brasileiras, anarquista no início de sua vida, foi Octavio Brandão (1896-1980), alagoano de Viçosa. Este, sim, empregou toda o seu conhecimento de sobrevivência do seu farto material de estudos, através da disseminação de cópias, em lugares estratégicos e pessoal altamente confiáveis. Com isso, nada perdeu de suas anotações, suas obras e seu pensamento. Para tal fim, existia o carbono, próprio para estas cópias fielmente reproduzidas.

Tive a oportunidade de conhecer o seu trabalho, deixado no Rio de Janeiro, em Maceió, em Moscou (depois trazido para o Brasil), pelas minhas pesquisas no AEL – Arquivo Edgard Leuenroth da Unicamp. Há, ainda, por ai, algumas outras cópias de tudo o quanto escreveu, guardou com especial cuidado.

Penso, assim, que se o tal milionário Howells tivesse se preocupado em reprdozir cópias do seu acervo¸ em outros HDs ou coisa parecida (CD , DVD, etc.), não estaria ele, hoje, com todo esse aparato que lhe custará muito pelo número enorme de pesquisadores que terá que mover no lixão de Newport, no País de Gales.

O fato é que quando se trata de situações de tal importância, não se deve depositar a confiança numa só fonte, mas, contudo, buscar outros meios confiáveis e que, certamente, lhe darão todo apoio necessário à preservação do seu bem. Jogar num HD tão somente uma cópia é, na verdade, querer se dispor de tal acervo. A prudência nos pede que sejam cópias deixadas em locais estratégicos e por meio de pessoas altamente confiáveis. Mas isto é um problema que certamente deve encarar nas circunstâncias de cada qual.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo
Abrir bate-papo
Olá
Podemos ajudá-lo?