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Frozen

Pois é. O frio finalmente chegou e as blusas começaram a sair do guarda-roupa. Esses dias eu estava saindo para trabalhar e, como amante dessa época gelada do ano, coloquei minha cacharrel, meu casaco, minha bota e saí para pegar meu ônibus.

Confesso, abri um sorriso enorme. O nascer do sol arroxeado, aquele ventinho frio, aquelas roupas em estilo europeu… Eu amo, de verdade.

Mas enquanto eu sorria, conversando com uma amiga por mensagens, percebi algo que me fez refletir bastante e que resolvi compartilhar com você, leitor.

Como sempre, eu e minha amiga compartilhávamos nossas experiências do dia-a-dia da vida adulta, o salário que caiu, as contas a pagar, os afazeres da vida de casada, etc.

E foi conversando sobre o clima, que ela descreveu para mim como ela via o frio e, de forma simples, ela conseguiu me comover. Como ela, sou casada. Marido sai cedo para trabalhar, tenho casa para cuidar, problemas a resolver.

E nessa frente fria, me vi enrolada nas cobertas, matutando que, enquanto eu tomava meu café, minha amiga provavelmente já estava na rua, levando seu menino para a creche. Dito e feito, ao conversar com ela, ela me descreveu com detalhes as interrupções do sono na madrugada para agasalhar melhor seu filho, a preocupação de ele estar bem quentinho.

Na hora de ir para creche, a importância de vesti-lo com duas calças, blusas, touquinha e, insistentemente, com luvas que ele se recusa a usar. Colocá-lo no carrinho, que para ele é seu próprio automóvel, enrolado em uma coberta enquanto, como mãe, as mãos congelam e se avermelham.

“Eu odeio o frio”, disse ela, e naquele momento pude ver uma mãe de verdade falando. Muitas pessoas não gostam do frio apenas pela preguiça em levantar cedo. Muitos não gostam, por não terem como se agasalhar. Andarilhos, pessoas que vivem na rua… É triste, e muito, ver alguém sem agasalho, sem ter onde se aquecer na madrugada. Vi logo cedo as notícias do Sul, a quase neve chegando, a natureza sendo prejudicada por um fenômeno tão natural.

Mas foram as palavras dela que realmente me emocionaram, pois naquele “eu odeio o frio”, eu vi uma mãe preocupada com seu garotinho. Uma mãe que, ainda esses dias, também me contou a emoção de quando descobriu a gravidez, de quando se viu na obrigação de se tornar responsável por alguém, por uma vida.

Comprar fraldas, ter uma casa melhor, ter condições de dar àquele que ela geraria, uma vida confortável. “Eu penso em ter outro filho, sabe?”, ela também me disse e, por isso, nesse friozinho, estou compartilhando essa incrível visão que tive de como duas opiniões podem ser diferentes e, ao mesmo tempo, partilhadas.

Isto é, a compreensão do pensamento diferente. O bem que nos faz ter a mente aberta e entender o que dizia Voltaire: “Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo.”

Em resumo, para mim, que sempre abominei o calor e admirei o clima europeu, a neve, as belas roupas e o aconchego de uma coberta quentinha, agora sempre penso duas vezes e respeito quem prefere o calor do verão.

O frescor do clima, o solzinho logo cedo, as noites estreladas. Aprendi que, muitas vezes, enquanto para mim aquilo é maravilhoso, é completamente bom e confortável, para muitos não vai ser tão fácil, tão agradável. E vice-versa.

Então, leitor, deixo aqui não só minha experiência, como também o incentivo. Sabe aquele agasalho, aquela coberta, aquele cachecol que para você não tem mais utilidade? Pois é, acho que você já sabe o que fazer. Doe, antes que a Elsa chegue primeiro!

Por Sara Figueiredo

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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