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Fundador recorda como tudo começou

Neste mês de maio, o jornal O Semanário comemora 30 anos. Fundado em 15 de maio de 1991, a primeira edição circulou no dia 25 de maio do mesmo ano.

O empresário do ramo gráfico, que também é jornalista e fundador do jornal, José Carlos Darros, conta um pouco desta história de três décadas do único jornal impresso de Rafard.

“Quantas noites foram passadas em ‘branco’, sem dormir, somente para concluir a edição em tempo hábil para a distribuição”, recorda Darros, que não se arrepende de nada, e vê com orgulho o resultado de todos estes anos de superação, dedicação e vitória semanal em cada exemplar.

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José Carlos Darros, fundador do jornal O Semanário, faz um paralelo entre o passado e o presente, além de votos para o futuro (Foto: Túlio Darros/O Semanário)

O Semanário – Como nasceu a ideia de fundar um jornal em Rafard?

José Carlos – Toda ideia nasce de uma necessidade. Comigo não foi diferente. Na época, com 23 anos, sem experiência em comunicação social, prestes a me casar, houve a necessidade de obter um negócio para o sustento da família e, com um estudo de campo em Rafard, observando as necessidades comerciais, políticas e sociais, decidi, com meu sócio na época, João Eduardo Proença, lançar um periódico independente que oferecesse informação ao povo da cidade.

Tudo começou seis meses antes da fundação, com a abertura da empresa jornalística Linocapi, instalada na rua Jornalista José Miguél Bósio.

João Proença tinha a experiência em elaboração editorial de um jornal e eu, a parte financeira para a compra de equipamentos e o local para instalação da gráfica que faria a impressão das edições.

Até então, editávamos o Jornal de Capivari. Foi aí, que em 15 de maio de 1991, três dias antes do meu casamento, foi lançado O Semanário de Rafard.

Sua primeira edição, com uma folha impressa frente e verso de encarte ao Jornal de Capivari, circulou no dia 25 de maio de 1991.

O Semanário – O que motivou a escolha do nome: O Semanário de Rafard?

José Carlos – O nome “Semanário de Rafard” foi instituído e registrado em cartório para oferecer notícias e acontecimentos ocorridos durante a semana (Semanário) e o nome do município incorporado por causa da empresa e sua circulação (Rafard). O jornalista responsável que assinava pela nossa linha editorial de lançamento foi o saudoso Altino Lorena Machado – grande incentivador e colaborador. Desde sua fundação, o periódico é semanal.

Um acontecimento interessante, e que deve ser corrigido na história da fundação, foi o nome impresso errado na capa da primeira edição: no lugar de Claudio Machado, o correto é José Carlos Darros e João Eduardo Proença como diretores, igual ao que foi inserido no Expediente da mesma edição. Claudio Machado foi apenas colaborador, igual outros que incentivaram e colaboraram como colunistas.

Primeira sede do jornal O Semanário (Foto: Arquivo)

O Semanário – Quais foram as principais dificuldades enfrentadas na época da fundação do Jornal?

José Carlos – Uma das principais dificuldades foi aprender a trabalhar com as máquinas tipográficas da época. Uma Linotipo movida a chumbo e estanho numa caldeira de 380 graus fundiam as linhas digitadas com muitas dificuldades. Os erros ortográficos eram frequentes, pois não tínhamos suporte de correção; uma vez chumbado a linha da coluna, identificava o erro e, a correção era através da troca da linha toda. Era aí que aconteciam os erros de encaixe, mas isso foi sanado com o tempo e a experiência.

A digitação dos textos e montagem das páginas com títulos e fotografias tipo clichês em madeira, duravam toda a semana de trabalho. A impressão era feita em uma máquina manual, folha a folha e a dobra com a intercalação feitas pelos entregadores durante a madrugada da sexta-feira, antes da circulação.

Quantas noites foram passadas em ‘branco’, sem dormir, somente para concluir a edição em tempo hábil para a distribuição. Cada semana era comemorada com vitória, guaraná e salgadinhos para os entregadores que não titubeavam em gritar na frente das casas “olha o Jornal O Semanário”, assim o assinante saia para pegá-lo antes que espalhasse como o vento ou molhasse com as possíveis chuvas.

O Semanário – Como foi o posicionamento das autoridades políticas da época? Houve apoio para a fundação do jornal em Rafard?

José Carlos – A chegada de um jornal impresso em Rafard transformaria, em registro, tudo o que viria acontecer na semana, abrindo espaço ao povo para reclamar e aos responsáveis para justificar os fatos.

Com isso, os políticos ficariam mais vulneráveis e a proposta do impresso não foi muito bem recebida pela maioria deles. Na época, o prefeito era Rubens Simões Pelegrini. Muitas vezes, as informações chegavam minimizadas através dos releases da prefeitura, mas, com nosso trabalho sério de informar, íamos atrás da própria notícia e dos depoimentos colhidos pela nossa reportagem. Isso nos transformou em um jornal de credibilidade, transcorrendo ao longo dos anos, e se mantendo até os dias de hoje.

O Semanário – Quem foram os primeiros colaboradores do jornal O Semanário? Quais nomes você destacaria?

José Carlos – A primeira equipe de colaboradores a se consolidar foi: Pedro Silveira Rocha, Bernadete Colombo Valadêz, (colunista de Poesias), Carlos Albertini Jr. (colunista Coisas & Tal), José Benedito Pagliardi (Esportes), Claudio Machado (notícias diversas), Débora Rego (colunista Decoração), Altino Lorena Machado (colunista Política), Cristiano Savagin (coluna Sociais), além de outros nomes que faziam suas publicações esporadicamente.
Mas, destaco ao longo dos anos que dirigi os trabalhos, além dos meus colegas jornalistas, Claubijeine Cavalcante, Ivanete Cardoso, Daniela Fontolan. Também meus colaboradores que atuaram na produção semanal, como os linotipistas Cleber, Gustavo, Chico, professor Messias (este nos ensinou tudo sobre produção de jornal), a colaboradora Nani Moreira, e também os entregadores da época, como muitos jovens: meus sobrinhos Túlio e Renato Darros, Beto, Andorinha, Marçolinha, Brito, Betão e seu irmão Kleber, Ortolani, Jefferson, Leandro Lourençon, entre outros… Todos estão em meu coração e guardo boas lembranças.

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José Carlos Darros durante impressão em máquina off-set (Foto: Arquivo/O Semanário)

O Semanário – Quais as principais diferenças entre o início do projeto, há 30 anos, e as formas de produção de um jornal impresso nos dias de hoje?

José Carlos – Sei que os tempos são outros, as tecnologias são outras, a cultura de leitura é outra, mas, não se compara a legitimidade do trabalho do repórter de campo, aquele que se fazia presente na notícia, como se fosse testemunha dos fatos.

Na época, utilizávamos gravador de bolso, máquinas fotográficas com negativos. Por exemplo, para registrar um fato, tínhamos que utilizar um filme todo com 24 ou 36 fotos clicadas e reveladas para saber qual era a melhor foto para publicação.

Quantas alegrias presenciamos em festas e inaugurações, mas também presenciamos tristezas, mortes, tudo registrado pelas lentes e a presença pessoal do repórter, ali a ‘olho nu’.

A transposição do gravador para o papel através de composição para a máquina datilográfica, a revelação das fotos, a formatação do texto da matéria, a digitação, a montagem da página, até a impressão e a distribuição, tudo hoje considerado artesanal. Foi muito bom participar desta época. Atualmente, o celular, o tablet e o computador trazem formas de interação com os fatos sem a presença do repórter, basta acionar uma câmara do telefone e tudo o que está ocorrendo está ao vivo e em cores. Uma tecnologia que revolucionou os meios de comunicação, o que enfraquece os jornais impressos no papel, mas não faz com que eles acabem de vez.

O Semanário – Do seu tempo à frente do jornal O Semanário, quais foram os fatos noticiados, que você se recorda, que mais repercutiram na cidade?

José Carlos – Neste período considero que todas as notícias tiveram sua importância, principalmente quando se trata do passado.

Destaco as inaugurações no município, as benfeitorias ao povo rafardense e os fatos registrados, que hoje, servem de estudos para os mais novos. Os resultados das eleições, as prisões de bandidos que atormentavam a população, a história e relatos do ‘Chupa-Cabra’ – repercussão nacional com destaque do jornal nas mídias, as conquistas esportivas, as entrevistas de pessoas importantes na sociedade e os destaques sociais.

O Semanário – Em algum momento destes anos vividos à frente do jornal O Semanário você pensou em desistir?

José Carlos – Jamais pensei em desistir do jornal O Semanário, tanto é que em 1996, ingressei na faculdade de Jornalismo para me formar em Comunicação Social, e poder continuar investindo com segurança, qualidade e confiabilidade.

Minha esposa Roberta e minhas filhas Iara e Ieda, jamais deixaram de me incentivar e fortaleceram diariamente meu trabalho. Tive momentos felizes e também preocupantes. Já fui ameaçado de morte, perseguido e até desrespeitado por aqueles que se sentiam ofendidos pela verdade exposta, mas, graças à Deus tudo isso passou e continuamos com a caminhada.

Os momentos difíceis somente me fortaleceram durante esses anos de experiência. Não posso deixar de dizer que nos anos em que fui diretor e proprietário d’O Semanário, muitos deixaram de ser meus colegas, mas também conquistei muitos amigos de verdade.

O Semanário – Por quanto tempo ficou à frente do jornal? Como foi tomar a decisão de passar o comando do Semanário para seu sobrinho Túlio?

José Carlos – Estive à frente do Jornal O Semanário de Rafard, da fundação em 1991 até 2007, ou seja, 16 anos. Depois passei o bastão ao meu sobrinho Túlio Ricardo Darros dos Santos, que aprendeu e vivenciou comigo tudo sobre a empresa, seus princípios e valores.

Neste meio tempo veio José Maria de Campos, que somou as forças para o fortalecimento editorial e informativo do periódico.

A decisão de passar o bastão para meu sobrinho foi confirmada quando descobri nele, o apreço e a vontade de continuar o trabalho de uma ideia que teve sua participação deste o início. Ele se preparou, vivenciou, ajudou, estudou, implementou e merece o sucesso atual desse aniversário de 30 anos de existência do jornal.

O Semanário – Como você define a importância d’O Semanário para Rafard, nestes 30 anos de existência.

José Carlos – A mesma importância que vejo quando os alunos procuram informações dos acontecimentos que já ocorreram nestes 30 anos. O registro escrito é bem mais valioso do que todos os outros órgãos. É nele que as provas são inconfundíveis. Tenho plena ciência de que o jornal impresso poderá não mais existir no futuro. Por isso, peço que continuem incentivando com as assinaturas, que garantem o recebimento do informativo em suas casas. Rafard ainda é uma cidade pequena, com um meio jornalístico atuante e sério. Muitas coisas podem ser resolvidas com a participação da mídia legítima e honesta. Nesses 30 anos de existência, jamais o jornal denegriu ou articulou algo que prejudicasse a cidade. Podemos dizer que há 30 anos colaboramos com o crescimento da cidade.

O Semanário – Para você, que foi o fundador do jornal, como é ver a chegada dos 30 anos?

José Carlos – Ver as inovações d’O Semanário é um privilégio e uma alegria para mim. Hoje, além de ler o impresso, participo das lives, confiro as notícias diárias pelas redes sociais do jornal. Muitas vezes, encontro com o Túlio e conversamos sobre as repercussões noticiadas e seus editoriais escritos com muita sabedoria. Sei que o meu trabalho durante 16 anos foi importante, mas fico ainda mais feliz porque há uma continuidade deste projeto.

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Registro do fundador na redação d’O Semanário (Foto: Arquivo)

O Semanário – Com a velocidade que as notícias são produzidas, através da internet e redes sociais, qual é a sua opinião sobre o futuro do jornal O Semanário?

José Carlos – Acredito que o futuro é uma con- sequência da inovação. Estamos neste momento de transição, e as redes sociais oferecem um conteúdo de informação importante para a sociedade. A diversidade de canais d’O Semanário, com certeza, deverá acompanhar a evolução, e quando quisermos informação de Rafard e região, acharemos, seja no impresso ou nas páginas oficiais da internet, no Instagram, no Facebook ou até mesmo em lives com notícias ao vivo, será como um canal direto ao leitor, sem perder aquele ideal lá de trás, onde tudo começou.

O Semanário – Qual o seu desejo para o jornal O Semanário neste aniversário?

José Carlos – Meu desejo maior é o reconhecimento do leitor com O Semanário. Desejo também o fortalecimento comercial para que continue sendo forte, independente e transparente para com o leitor.

O Semanário – Qual sua mensagem para o atual diretor e proprietário do jornal, Túlio Darros?

José Carlos – Ao meu querido sobrinho, Túlio Darros, que tenho muito orgulho do seu trabalho, empenho e inteligência, a mensagem que deixo é: “Quando pensares em desistir, busque o passado para seu fortalecimento. Jamais a vitória é alcançada com poucos esforços. As pedras que tropeçamos, os tombos que levamos, os machucados que cicatrizam no corpo e na mente, são ferramentas cruciais para o desenvolvimento lúcido do seu trabalho e da sua vida”.

Ivanete Cardoso

Jornalista - MTB 57.303

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