Homenagem à família Purgato
Um dia desses, quando me dirigia a Piracicaba para alguns compromissos, como estava com tempo de sobra, resolvi passar no trajeto, passar por dentro das cidades para apreciar seus casarios antigos – o que para meus olhos é um colírio – pois faz-me retornar ao tempo e recordar o tempo em que viajava de trem para a “Noiva da Colina” e ao passar por Mombuca, o comboio fazia uma parada naquela estação.
E resolvi parar e entrar na Casa Purgato, onde encontrei meu amigo “Marinho” entretido no balcão da casa comercial, ao que cumprimentei com um Bom Dia. Ele me respondeu desejando o mesmo.
Logo entabulamos uma conversa que durou o suficiente para eu relembrar de quando o pai dele – já falecido – era representante dos jornais Folha de São Paulo e Estadão, e, que, muitas vezes eu levava até ele os exemplares dos jornais que muitas vezes eram deixados em Capivari, pelo fato de ter havido algum problema na entrega e o tempo não permitisse passar por Mombuca. E dessa forma, fiquei conhecendo o sr. Mário Purgato e ficamos bons amigos.
Muitas vezes, o sr. Mário quis me recompensar as minhas idas até lá para levar os exemplares que os leitores, avidamente, esperam em suas casas e muitos pela demora, iam até nós para saber o porquê do atraso. Eram outros tempos…
Em conversa com o Marinho, prometi que assim que encontrasse algo relacionado à sua família, iria colocar nesta coluna – o que faço hoje – pois encontrei uma justa homenagem que foi feita quando dos 100 anos da Casa Purgato, que tenho o honroso dever de trazer até os leitores desta coluna:

“As escadas separam a rua das grandes portas, que quando se abrem trazem história, paixão e muito da minha família. Tudo começou há 100 anos, no mesmo lugar, do mesmo jeitinho.
Entrar ali me traz aquela nostalgia gostosa dos sábados que eu ganhava, escondido do meu pai, os doces do meu avô e me perdia entre as prateleiras com meu carrinho de compras vermelho, sem fazer ideia do que tudo aquilo significava.
São dez décadas de história que se materializam nos caixotes de madeira para produtos a granel, no piso de ladrilho hidráulico, no balcão, nos baleiros de mais de meio século, nas cadernetas de anotação e na balança analógica, que por muitas vezes eu brinquei.
A venda, como meu avô chamava, passou por momentos que vão desde a ferrovia até a chegada dos supermercados, recebeu ali pessoas ilustres nacionalmente como Tarsila do Amaral até muitas e muitas famílias de fregueses que passam de geração em geração a tradição de comprar no armazém dos Purgato.
O tempo foi passando e eu fui entendendo o significado de tudo aquilo para o meu avô e para o meu pai, era mais que um trabalho, era uma paixão.
Por um acaso do destino, no ano em que esse lugar tão icônico comemora 100 anos o meu avô nos deixou, dois marcos que se entrelaçam, um faz parte do outro e, com certeza, a cadeira que ele sentava e cada canto desse lugar sempre terão um pouquinho do seu Mário.
A menina dos olhos do meu avô se tornou patrimônio de Mombuca e um orgulho pra mim, que pude viver quase trinta desses cem anos de história!”
Grato pela leitura. Se Deus deixar, semana que vem eu volto.