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Instituto Arka, de Capivari, promove palestras sobre a história e a cultura africana nas escolas estaduais

16/11/2015

Instituto Arka, de Capivari, promove palestras sobre a história e a cultura africana nas escolas estaduais

Eventos fazem parte do calendário de comemorações pelo Dia da Consciência Negra e ocorrerão entre os dias 16 e 19 de novembro

CAPIVARI – O Instituto Internacional de Integração e Desenvolvimento Humano (Instituto Arka) vai realizar entre os dias 16 e 19 uma série de palestras em comemoração ao Dia da Consciência Negra – 20 de novembro. Os eventos serão liderados pelo professor angolano Victor Lutunguissa Ngquiovani Mata e ocorrerão em dois períodos nas escolas estaduais Padre Fabiano, Professora Maria Januária Vaz Tuccori e Padre José Bonifácio Carretta.

O Instituto Arka é uma organização não governamental (ONG) voltada ao atendimento de imigrantes africanos e seus descendentes em situação de risco, visando à inclusão social e à integração do indivíduo na sociedade brasileira. A entidade procura ainda facilitar a participação plena e digna do imigrante no mercado de trabalho, contribuindo tanto para o desenvolvimento do Brasil quanto do país de origem.

De acordo com Mata, a ONG decidiu investir nas palestras porque, apesar de a inclusão de conteúdos relacionados à história e à cultura afro-brasileira no currículo oficial das escolas ter se tornado obrigatória há mais de 12 anos (Lei Federal nº 10.639), as instituições de ensino do país nunca deram a devida atenção a esses temas. “As escolas têm resistência. Num ano fazem uma coisa, no outro dão só uma pincelada”, diz.

A lei, de 2003, prevê que as escolas públicas e particulares, de ensino fundamental e médio, abordem a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição desse povo com a História do Brasil nas áreas social, econômica e política. Os conteúdos devem ser trabalhados especialmente nas aulas de Artes, Literatura e História.

“Essa lei foi uma das recomendações da ONU [Organização das Nações Unidas] durante uma reunião que aconteceu em 2001”, explica Mata. “Além dos cursos, a ONU indicou que fossem abertas vagas para afrodescendentes nas universidades. Então, o Brasil teve de se adaptar a essas recomendações, mas fez de maneira errada, colocando na lei como ‘afro-brasileira’, e isso começou a dar problema.”

Para Mata, que é presidente do Instituto Arka, as escolas do país deveriam ensinar a história e a cultura dos africanos, assim como outros países fazem. “Do jeito que está hoje, tem professor de História que convida comunidades afrodescendentes para falar sobre a cultura deles, causando confusão. Os alunos começam a achar que a cultura envolve [somente] candomblé, umbanda”, conta. “Nossa ONG veio para ensinar da maneira correta, para voltar a fazer como sempre deveria ter sido feito.”

Em Capivari, neste ano, as atividades serão voltadas para o ensino médio. “O conhecimento é muito pesado para o ensino fundamental. Não dá tempo de explicar tudo.” No Padre Fabiano, as palestras serão na segunda-feira, 16, às 19h30, e na quinta-feira, 19, às 8h. Na Januária, o evento ocorrerá na terça-feira, 17, às 8h e às 19h30. Depois, na quarta-feira, 18, as palestras serão no Carretta, às 8h e às 20h.

As palestras serão patrocinadas pelas empresas Sicad do Brasil, Associação Comercial e Industrial de Capivari (ACIC), Microsal e Supermercado Armelin. Além disso, têm apoio da Igreja Adventista do Sétimo Dia de Mombuca, que cedeu todo o material didático que contém os fatos bíblicos relacionados ao tema. Segundo Mata, tudo isso acontecerá no 1º Ano da Década Internacional dos Afrodescendentes.

Como parte da programação, a ONG também está apresentando o programa África Sempre África (ASA) todos os domingos de novembro, das 13h às 15h, na rádio Alternativa FM. “Quando se fala em Dia da Consciência Negra não quer dizer que é só falar do negro. No último programa eu falei sobre o abolicionista Rui Barbosa, por exemplo. Tem que falar da África, de tudo o que está acontecendo lá.”

O calendário de eventos poderá ser bem mais recheado em 2016, afirma o professor. “Neste ano, não tivemos apoio do governo federal, porque nossa ONG ainda não completou dois anos”, explica. “No dia 20, queríamos ir para São Paulo, mas também não conseguimos fechar patrocínio, então vamos deixar que a Prefeitura faça alguma coisa na data”, completa. “O normal seria colocar mais negros para falar com a Prefeitura no dia, discutir, conversar com os vereadores, mas ninguém nos procurou.”

Outra ideia do angolano é, futuramente, poder levar os alunos das escolas de Capivari a São Paulo, para conhecerem a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, construída pelos negros e para os negros. Ao longo da história, a irmandade ergueu várias igrejas pelo país, incluindo uma em Ouro Preto (MG), denominada Nossa Senhora do Rosário do Caquende (ou dos Pretos, como é mais conhecida).

E, antes da semana dedicada à Consciência Negra, haverá ainda um culto em ação de graças a Angola, neste sábado, 14, às 9h, na Igreja Adventista do Sétimo Dia de Mombuca (Rua D, 148, Vila Nova). A celebração, que contará com a participação do Coral Adventista de Angolanos de Hortolândia, visa lembrar os 40 anos da Independência de Angola, completos na última quarta-feira, 11.

Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, construída por escravos em Ouro Preto (MG), para ser frequentada por eles; a obra teve início em 1785 e demorou 65 anos para ser concluída (Foto: Laila Braghero/O Semanário)
Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, construída por escravos em Ouro Preto (MG), em 1785, para ser frequentada por eles; demorou 65 anos para ser concluída (Foto: Laila Braghero/O Semanário)

Teatro

Para encerrar as comemorações, a Secretaria de Cultura e Turismo de Capivari vai apresentar nesta sexta-feira, 20, às 19h30, a peça O Rei Leão, no Platô da Praça Central. De acordo com a professora Vivian Ui, a história original foi adaptada e seu figurino, danças, pinturas e religiões fazem referência à África, a fim de homenagear e reconhecer a importância da cultura afrodescendente no Brasil.

O elenco é formado por mais de 50 atores do Espaço da Arte e Cultura, que oferece aulas gratuitas de teatro, música, dança, pintura e artesanato. O núcleo, mantido pela Prefeitura, completou um ano em agosto. “Os investimentos em cultura estão dando resultado”, afirma o prefeito Rodrigo Proença (PSDB). Segundo ele, a realização de eventos como esse é fundamental para fortalecer a cultura na cidade.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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