Jesus e a viúva
Um dia em que Jesus com Simão Pedro andava, junto a Genesaré, margeando o lago, à brava refulgência estival da áurea luz meridiana, enxergou no caminho, ao pé de uma cabana, sentado no limiar, inda cheia de dor, uma obre mulher, viúva de um pescador, baloiçando em silencia o berço do filhinho, e finado ao mesmo tempo uma estriga de linho.
Sob um curvo dossel de amplas figueiras, Cristo contemplava com Pedro a mulher, sem ser visto. Em que chega um mendigo, um velhinho arquejante, carregando à cabeça um grande vaso; diante da viúva para, exausto, e seu auxílio implora: “Mulher, devo levar, sem nenhuma demora, este vaso de leite ao próximo povoado. Tu bem vês como estou, bem vês; desajudado, não posso lá chegar. Já muito pouco valho, e é por ganhar o pão que inda, às vezes, trabalho.”
Ela não deu resposta ao velho miserando; tomou-lhe a grave bilha e seguiu-o, deixando o filho que chorava e o restante da estriga. Pedro, espantado, então, dessa bondade amiga, volvendo-se a Jesus, disse: “Vê, Mestre, aquela abandona a morada e o filho, sem cautela, somente para servir ao primeiro que passa. Necessário não é que tal trabalho faça: o infeliz acharia aqui mesmo bem perto um caminheiro bom que o ajudasse, decerto.”
Responde-lhe Jesus: “Pedro, quando algum pobre tal afeto de irmão por um irmão descobre, Meu Pai, que tudo vê, lhe ampara o humilde teto. Essa mulher fez bem.”
E com sereno aspecto, Cristo deixa o dossel das figueiras, caminha, vai sentar-se, a sorrir, junto à velha casinha, e pelas próprias mãos, numa ternura mansa, fia o linho na roca e baloiça a criança…
Depois, Cristo partiu. Regressando, cansada, a viúva compassava achou, maravilhada, – sem suspeitar quem fosse o bom desconhecido, – fiada a estriga inteira e o filho adormecido.