Leondenis VendramimOpinião

Marechal Rondon II

29/04/2016

Marechal Rondon II

Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Leondenis Vendramim/Arquivo pessoal)
Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História (Foto: Leondenis Vendramim/Arquivo pessoal)

ARTIGO | Rondon foi chamado para um trabalho mais árduo. O Ministro da Guerra Marechal Mallet enviou-o para estender a rede telegráfica nas fronteiras entre Brasil, Paraguai e Bolívia à Cuiabá e Capital Federal. Assim ele ficou mais sete anos na mata (de 1900 a 1906) com atividade insana para estender 1.746.813 m de fios telegráficos que ajudou o Brasil a conseguir sua segurança fronteiriça. Rondon entrou em contato com os Terenas e Quiniquinaus, que tinham sido espoliados de suas terras junto ao rio Aquidauana. Tinha o lema: “Podemos morrer, matar, nunca”. Proveu ferramentas e utensílios domésticos aos índios. Muitas vezes sua comitiva se viu cercada pelos autóctones que lhe atiravam flechas. Em resposta punham as armas no chão, Rondon abria os braços e se dirigia a eles como amigo e se faziam entender por mímicas. Rondon expunha aos seus subordinados que eles eram invasores, desconhecidos a entrar na casa dos índios e corriam o risco de serem mortos. “Estão no direito”, dizia, “de defender sua propriedade. Se reagirmos praticaremos crime, se matarmos, seremos assassinos… Quando aparecerem na nossa frente ponhamos nossas armas no chão. Poderemos morrer! Matar, nunca!”. Mandou colocar cartazes avisando que quem atacasse os Bororós responderia pelo crime. Dava costumeiramente presentes aos indígenas e ordens para não tirar uma folha sequer, pois tudo lhes pertencia.
O Brasil havia anexado o Acre ao seu território e projetou ligá-lo à Capital Federal via Cuiabá – mais 3.000 quilômetros cortando matas, rios, montes e vales. Mais uma vez apelaram para o agora General. O Presidente Afonso Pena finalizando a entrevista com Rondon perguntou da possibilidade de realizar tal façanha.
“-Para ser possível basta querer!” Foi a resposta do General.
Além da rede construiu 50 estações com moradias, escolas para os índios, uma estrada margeando todo trajeto entre (7/6/1907 e 25/12/1909). Escreveu sobre os acidentes geográficos, mineralogia, botânica e sobre os índios.
Conta o próprio Rondon que dois Nhambiquaras (orelhas furadas) atiraram-lhe flechas que lhe passaram muito próximo à cabeça (1 dessas flechas encontra-se no Museu Nacional). Ele atirou para o alto ao ver os dois índios. Seus homens foram impedidos de perseguir aos fugitivos: “Eu só penetro no sertão com paz, não com guerra”, disse. Concluída mais essa tarefa, voltou à Capital. Em 7 de setembro de 1910 nova empreitada, a convite do Ministro da Agricultura Rodolfo Miranda. Ele receberia uma diária de 20 cruzeiros e seus auxiliares 15. Como houve uma grita por parte dos jornais, eles abdicaram dessa soma, mas não da empreitada. Ele, seu tio Miguel com 76 anos e seu primo Belarmino tiveram um encontro com os Nhambiquaras. Os temidos índios os receberam com “Naru-caguinindê” (refresco de ananás), larvas assadas, beijus de mandioca, milho, batata, peixe e carne de macaco. Um índio surgiu oferecendo-lhe cigarro. Tendo declinado da oferta, o índio colocou à força na boca do desbravador. À noite deitaram em folhas de coqueiros e Rondon deitou a cabeça nos joelhos de um índio e dormiu. O cacique levou-os a conhecer outras aldeias. Rondon nomeou a região de “Campos 14 de Abril”, data do aniversário de sua esposa para homenageá-la, e à estação telegráfica de “José Bonifácio”.
Em 1913 Rondon foi nomeado para chefiar a comissão que conduziria o Presidente Teodoro Roosevelt a uma viagem de pesquisas pelo sertão do Moto Grosso. Ao voltar Roosevelt elogiou a rede telegráfica brasileira como monumento mundial. Em janeiro de 1915 Rondon inaugurou a rede telegráfica entre Cuiabá Madeira. Entre 1934 e 1938 Rondon interveio como diplomata em Letícia e pacificou a questão de fronteira entre Peru e Colômbia. Quase cego pelo glaucoma, com o soldo recebido construiu em Mimoso uma escola modelo para os índios em maioria. O General Rondon deu 50 anos de sua vida para o engrandecimento de nossa Pátria, para ampliar os horizontes das ciências no Brasil e revelou outra parte de nossos irmãos brasileiros – os índios. Faleceu no Rio de Janeiro aos 92 anos, em 19 de janeiro de 1958.

 

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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