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No tempo das costureiras

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Foto ilustrativa

Desde criança sou fascinado por máquinas. Quando mudamos de Itapeva, meu pai trabalhou em uma tecelagem que o Nono Quibao e Loatti montaram aqui em Rafard, no ano de 1972. Eu corria para lá depois das aulas pra ver os teares funcionando e poder operar as máquinas, que enrolavam as linhas nos tubetes que iam nas lanças dos teares. Naquela época, segurança era luxo e as maquinas eram ligadas com uma chave faca trifásica sem cobertura alguma.

Um dia, ao subir a chave, bati a mão e dei um sonoro grito quando tomei o choque. Era horário de almoço e os teares estavam parados, então o grito ecoou na fábrica, e vieram ver o que tinha acontecido. Eu, firme, disse que não foi nada, que assustei ao prender o dedo nos tubetes. Não deve ter colado, mas pude continuar brincando de trabalhar naquela máquina.

Mas, voltando pra costura, não lembro que meu nono foi fazer na fábrica do Vitorinho Chiarini, que é sobrinho dele, e vi uma máquina novinha que ele nos mostrou. Era uma caseadeira, que além de costurar, ao final cortava a casinha do botão. Pra mim aquilo era mágico!

Lembro da nona Angelina perdendo um tempão pra fazer a casinha dos botões nas camisas e calças que fazia para doação. Mas eu gostava que ela demorasse pra cortar, pois dava tempo pra eu pilotar a máquina de costura, naquela hora, transformada no carro do Emerson Fitipaldi.

Alguns anos depois, em 1975, minha mãe montou uma fábrica de costura aqui em casa, adquirindo uma máquina reta, da Lila do Armando Garcia. Antes ela usava uma Singer Zig Zag doméstica e para ela, foi como a compra de um carro. Para ele presar o serviço pra uma confecção de Capivari, emprestaram uma máquina overloque de duas agulhas. O irmão do dono veio trazer a máquina e mesmo vendo o manual, não conseguiu passar as linhas, que era um verdadeiro quebra-cabeças. Depois de passar quase a tarde toda, foi embora pra voltar no outro dia e tentar de novo.

Como sou curioso, peguei o manual antes de ir dormir e fiquei estudando, aproveitei pra testar algo que tinha lido em um livro do ano da Biblioteca de seleções Reader´s Digest, obter a maior quantidade de informações sobre algum problema que deve ser resolvido, jogar no subconsciente e ir dormir. No outro dia, ao acordar, fui na máquina e consegui passar os fios e fazer costurar.

Pela pequena fábrica de minha mãe passaram várias pessoas, sendo uma fonte de renda para a nossa casa e dessas pessoas que trabalharam para ela. O tempo das costureiras talvez nunca acabe, pois quantas pessoas até hoje tem pequenas fabricas dentro de casa, muitas vezes trabalhando em família, que é uma forma de estreitar mais esses laços.

Deixo aqui minha homenagem á todas as costureiras de ontem, de hoje e de sempre!

Jr. Quibao
Rafard 25/03/2020 21:15

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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