Opinião

Nossa História – Sebastianismo

Por Leondenis Vendramim - Professor de Filosofia, Ética e História

O artigo anterior mostrou como os portugueses eram um povo crente na sua santidade. Frei Bernardo de Brito disse que Deus desceu do Céu e conversou pessoalmente com o rei D. Afonso 1º sobre a criação de Portugal. O Frei forjou uma certidão oficial em 1597 chamada “Actas da Corte de Lamego” para comprovar o milagre. Esse documento falso foi tido como Carta Magna de Portugal até o século 18. Nesse tempo o rei era considerado divino pelos filósofos como Hugo Grotius, Thomas Hobbes, Maquiavel, e muitos outros. Padre Antônio Vieira (1608-1697) disse “Todos os reis são de Deus, os outros reis são de Deus feitos pelos homens, mas o rei de Portugal é de Deus feito por Deus e por isso mais propriamente Seu”. Ilustres poetas como Lopes de Veja e Luis Vaz de Camões louvavam ao rei português. No “Lusíadas” escreveu que se devia cessar os relatos das viagens gregas e troianos, de Alexandre e de Trajano, porque ele cantava sobre o reino lusitano ao qual até os deuses Netuno e Marte obedeceram, e “cesse tudo o que a Musa antiga canta, que outro valor maior se levanta”. A crença no sebastianismo, afetou a história do Brasil. D João 3º morreu algumas semanas antes do nascimento do seu filho D. Sebastião em 1554. O governo foi administrado por Da. Catarina e D. Henrique, até a maioridade de D. Sebastião, declarada, aos 14 anos de idade. A educação fez dele um fanático inimigo dos árabes e judeus. Com 19 anos saiu à guerra contra os mouros no Marrocos (África) e foi morto. Os portugueses não podiam aceitar a morte do seu rei divino pelos “hereges”, inimigos de sua religião divina. Ninguém dizia que ele morrera, pois seria condenado à morte. O Abade de Beira pregou que D. Sebastião havia escapado e regressaria ao país.
Gonçalo A. Bandarra, um sapateiro, escreveu um folheto sobre a volta de Jesus Cristo e espalhou pela cidade de Lisboa. Foi preso e condenado, porém o povo interpretou os escritos como referentes à volta de D. Sebastião. Bandarra foi considerado um profeta pelos intelectuais, o Abade de Lisboa mandou colocar uma imagem de Bandarra no altar da cidade. Um bispo português vendia mapas mostrando um palácio entre árvores, guardado por leões, entre os quais passeava o rei. (Ver Hist. de Portugal. José H. Saraiva, p, 171). Essa crença ficou conhecida como Sebastianismo.
Quando o rei D. João 4º assumiu o reinado em 1640 e teve de se comprometer a devolver o trono quando D. Sebastião voltasse. Renomados escritores como, Ariano Suassuna e o jesuíta Antônio Vieira (73 anos depois da morte do rei) e Fernando Pessoa em 1900 (333 anos) ensinaram o sebastianismo baseados nos versos de Bandarra. Antônio Conselheiro, seguidor de Vieira, em 1897 (343 anos após a morte de D. Sebastião), ainda pregava que o Brasil devia aguardar pelo rei. O beato pregava sobre o paraíso, contra a república, contra os impostos. Fugiu para o sertão baiano onde fundou Canudos, e chegou a contar com mais de 30.000 seguidores. Os canudenses desfizeram-se dos seus bens a fim de ajudar na conquista do paraíso prometido por Conselheiro, cuja capital, Canudos, seria governada pelo rei D. Sebastião. Houve então, a conhecida Guerra dos Canudos entre o exército republicano e os fiéis do Padre Conselheiro. Na quarta batalha, o exército derrotou os sertanejos; foi uma carnificina, a destruição da “Jerusalém” nordestina até mesmo seus últimos quatro defensores, contando uma criança, em 5 de outubro de 1897.
A crendice da classe culta (quase 400 anos de sebastianismo) levou milhares de pessoas à esperança de viver no paraíso governado por um rei deus imortal, paraíso cujas riquezas proporcionariam vida longa e libertação da miséria que viviam.
Na Sua ascensão, Jesus disse que voltaria para buscar os Seus fiéis para morar com Ele (João 14:1-3). Ao ladrão convertido prometeu que ele estaria no paraíso (Luc 23:43). A Bíblia descreve o paraíso: animais mansos (Isa 11:6-8); pessoas perfeitas e felizes, clima ótimo, terra fértil (Isa 35:5-10); plantam, edificam, recebem visitas de anjos, não terão mais filhos (Isa 65:21-25); terão reunião todos os sábados e todo final de mês com Deus (Isa 66:23); Não haverá mais pecado, dor, enfermidade, morte. (Apo 22:3-4). João escreveu ao encerrar o Apocalipse: Aquele que dá testemunho destas coisas diz: ‘Eis que cedo venho’! E acrescentou: “Ora Vem Senhor Jesus”! 22.

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Jornal O Semanário

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