O catador de reciclagem
Passeando com meu cachorrinho, todos os dias eu via aquele senhor de roupas sujas, barba por fazer e cabelo todo desarrumado.
Revirava o lixo sem nenhuma preocupação com quem estivesse passando ou chegando para descartar seus cacarecos.
Cheguei até a ajudar a tirar coisas da sujeira.
Ele usava uma bolsa tiracolo imunda. Dava para sentir o mau cheiro.
Mas todos os dias ele estava lá, e ainda tirava coisas dessa bolsa e dava para os cachorros, que acabaram se acostumando com isso.
Esse senhor, ninguém nunca disse o nome. Talvez nem tenham perguntado, mas podia estar chovendo, lá estava ele: revirando o lixo, coisas velhas e catando latinhas.
Eu achava estranho esse homem.
Um dia, ele tirou o lenço do bolso de um modo que me chamou a atenção. Foi aí que aumentou a minha desconfiança.
Ao amanhecer de um certo dia, resolvi:
Não vou sair com meu cachorrinho.
No mesmo horário, peguei meu carro e fui até a esquina onde esse senhor ia todos os dias pegar coisas do lixo.
Estacionei, mas não saí do carro.
Alguma coisa contra?
Nenhuma.
Mas o meu pressentimento era forte. Nesse dia, parece que foi muito boa a coleta.
Com um saco nos ombros e as mãos cheias, ele seguiu seu caminho. Fui acompanhando com todo cuidado para não parecer que o estava seguindo.
Até que o senhor chegou perto de um carro. Parecia que estava esperando ele!
Um moço desceu, abriu o porta-malas e ajudou o homem.
Entraram no carro e saíram. Fui atrás.
Passaram por algumas ruas e entraram num bairro bonito, de belas casas.
O motorista, com o controle, abriu o portão e entrou na garagem, mas deixou aberto.
Pude ver uma linda casa.
Aquele senhor foi dando ordens para o motorista, que tirava as coisas do porta-malas.
No meu celular, busquei a rua e o número, e descobri que o homem era o empresário mais rico da cidade!
Mas por que então catava reciclagem disfarçado?
Ou escondido?
Fiquei sem saber, pois não tive coragem de perguntar.