Marcel Capretz

O paliativo Jair Ventura no Corinthians

Marcel Capretz, colunista esportivo

Não sou contra demissão de técnico de futebol. O que sou contra é a análise pobre e rasa de trabalhos e a interrupção de processos sem o conhecimento necessário para tal avaliação. E aqui no Brasil isso acontece muito: dirigentes estatutários que pouco sabem de metodologia de treinamento, de conceitos táticos operacionais e até mesmo de gestão de pessoas descontinuando trabalhos com uma justificativa que quase sempre é carregada de uma imensa falta de conhecimento: “precisamos dar uma resposta para a torcida”. Ou tem aquele outro argumento: “precisamos de um fato novo”. Balela…

O que aconteceu agora no Corinthians foi uma junção de erros administrativos e técnicos. Evidente que o trabalho de Osmar Loss não foi bom. Ele, que nas categorias de base, sempre foi vitorioso e conhecido por armar sólidas defesas e rápidos ataques não conseguiu dar solidez a equipe.

Loss sofreu naturalmente comparações e mais comparações com Fábio Carille. Porém o contexto de quando ambos assumiram eram completamente diferentes. Carille chegou após as frustrantes passagens de Cristovão Borges e Osvaldo Oliveira e com um elenco apontado por todos como a quarta força de São Paulo. E bem ou mal ele ainda teve uma pré-temporada para trabalhar. Já Osmar Loss assumiu de supetão: foi informado que seria o técnico do profissional em uma terça-feira, concedeu entrevista coletiva na quarta e na quinta já dirigiu o time. E se Carille teve perdas no elenco apenas na passagem de 2017 para 2018, Loss enfrentou saídas em meio a disputa de campeonatos.

Fiz questão de pontuar todo esse cenário para só assim poder falar de Jair Ventura. E para a alegria do corintiano acredito que como uma situação emergencial Jair pode dar exatamente o que o clube precisa neste momento.

Jair tem dois trabalhos como técnico profissional: um excelente no Botafogo e outro muito fraco no Santos. E o contexto que ele terá hoje no Timão se assemelha muito mais com o que ele enfrentou no Botafogo do que ele teve no Peixe; no Santos, ele era obrigado pelo ‘DNA ofensivo’ que a história do clube carrega a propor o jogo em pelo menos todos as partidas como mandante. É inadmissível para o santista ver sua equipe jogando no contra-ataque na Vila Belmiro. Mas no Botafogo, sem dinheiro, sem estrutura, com jogadores limitados e com o fantasma do rebaixamento sempre rondando era totalmente coerente e até óbvio ter um modelo de jogo que privilegiasse a organização defensiva e que o jeito de atacar fosse mais direto e vertical do que apoiado e construído.

No Corinthians atual, Jair poderá repetir o que ele fez de melhor até aqui na carreira. O corintiano espera ver o quanto antes uma defesa mais organizada, nem que marque de maneira individual, que é mais simples do que marcar por zona. O ataque direito, com poucos toques até chegar ao gol adversário, também será bem aceito.Ou seja, Jair Ventura poderá ser em Itaquera a sua melhor versão. No curto prazo, sua chegada tem tudo para ser eficaz. Entretanto quando for solicitado um jogo mais elaborado e mais sofisticado, a longo prazo, Jair ainda não mostrou se também pode ser o profissional ideal.

ARTIGO escrito por Marcel Capretz
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Jornal O Semanário

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