Opinião

O passe e o conceito de cura

Artigo | Por Sandro Morete*

A Organização Mundial da Saúde considera que a saúde é o completo bem estar físico, mental e social. Nós, espíritas, anuímos a essa definição; só que admitimos que toda doença de alguma gravidade tem uma origem espiritual. A ação moral desequilibrada do Espírito afeta o perispírito; e estando o perispírito intimamente ligado ao corpo físico, seu desajuste vibratório afeta-o, e ele adoece.

Em sua essência profunda, o passe é a mobilização ativa de nosso amor em favor do bem do semelhante. Jesus, o Divino Modelo, ensinou-nos a fazê-lo em diversas e bem conhecidas passagens de sua vida. Na página que fizemos figurar como introdução destes apontamentos, por exemplo, Emmanuel comenta o caso de Jairo, que procurou Jesus, movido por ardente fé, implorando pela filha, em estado de morte aparente. Atendendo-lhe ao pedido, Jesus vai até sua casa e, convocando-a à vida, restaura-lhe prontamente a saúde.

No versículo 9 do décimo capítulo de seu Evangelho, Lucas registra importante recomendação de Jesus aos discípulos: “E curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: É chegado a vós o Reino de Deus.” Entendemos que o Mestre se reportava aqui a dois tipos de cura:

1. Os recursos fluídicos benéficos, restauradores do corpo: o passe.

2. Os recursos do esclarecimento, que propiciam a cura integral e definitiva do homem, sobrepondo-se a todas as terapias que se têm criado no mundo.

A começar por Allan Kardec, praticamente todos os grandes autores espíritas dedicaram muita atenção ao passe e à questão da saúde integral do ser humano. Eis algumas passagens significativas a esse respeito:

O passe não é unicamente transfusão de energias anímicas. É o equilibrante ideal da mente, apoio eficaz de todos os tratamentos. (André Luiz, Opinião Espírita, cap. 55, p. 180.)
Para evitar essas recidivas, é necessário que o remédio espiritual ataque o mal em sua base […], é preciso tratar, ao mesmo tempo, o corpo e a alma. (Abade Príncipe de Hohenlohe, Revue Spirite, outubro de 1867.)

O maior milagre que Jesus operou, o que verdadeiramente testa a sua superioridade, foi a revolução que os seus ensinos produziram no mundo, mau grado à exigüidade dos seus meios de ação. (Kardec, A Gênese, cap. 15, § 63.)

Sabemos que essa “revolução” a que se refere Kardec é o ensino e a exemplificação do amor, do bem, da fraternidade e todas as demais virtudes nascidas desses belos sentimentos, que estabelecem o Reino de Deus em nosso Espírito, adornando-o com as lindas e perfumosas flores do jardim do Evangelho.

Como almejar à cura total dos nossos desequilíbrios orgânicos e espirituais, se ainda agasalhamos em nosso ser o orgulho, o egoísmo e todas as mazelas deles decorrentes?
Como sararmos da úlcera, da alergia desconfortável, da artrite deformante, do coração em descompasso, se a ira e o grito de cólera ainda ecoam em nossa alma?

Como almejarmos o fim da ansiedade, da depressão e todas as distonias anímicas de múltiplas nomenclaturas, se ainda nutrimos ódio, rancor, mágoa, ciúme, inveja, pensamentos sombrios? Como, se a excelsa virtude a mansidão cantada por Jesus em suas bem-aventuranças (Mateus 5: 5-12) ainda não se instalou em nossos corações?

Como pretendermos ter o equilíbrio físico e psíquico, se vivemos em guerra com a sociedade, com o vizinho menos evoluído, com os familiares em processo de reajuste, com o nosso grupo de trabalho? Quantas vezes até mesmo em nossas lides na casa espírita nos deixamos envolver por sentimentos contrários àqueles que Jesus nos ensinou: mágoas, revoltas, melindres, que constituem sombras densas em nossos corações, enfermando-nos?

Como poderemos ser felizes e saudáveis, se a ganância das posses materiais nos absorvem todo o tempo e as energias? Como, se nos esquecemos da busca dos tesouros imperecíveis que não são consumidos pelas traças, pela ferrugem e pelos ladrões? Além de se constituírem libertação das dores, dos sofrimentos, das enfermidades, os tesouros espirituais são também passaporte para as moradas celestes, como prometeu Jesus, que partiria para nos preparar o lugar no “céu” para aquele que seguisse os seus ensinos (João 14: 1-3).

Onde buscar a saúde, se sorvemos os venenos dos tóxicos, do álcool, do tabaco, entregando-nos ainda aos excessos da alimentação, do sexo e tantos outros? Como seguir o preceito sublime de Jesus – amar o próximo -, se não somos capazes de amar a nós próprios, mantendo vícios e paixões que desgastam a nossa harmonia orgânica?

Serão de pouca valia os recursos da medicina da Terra e do Céu, enquanto não aprendermos os caminhos de Jesus. Palmilhando esses caminhos, teríamos menos necessidade de hospitais, de hospícios, de presídios, de creches, de asilos…

A grande Cura proposta pelo Espiritismo deve ser o cumprimento de um sério e amplo programa de iluminação interior, apoiado na prática do bem, na vivência cristã constante.

*Sandro Morete é presidente do Centro Espírita Lázaro José.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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