O que você precisa deixar para trás?
Em um mundo cada vez mais apressado, digitalizado e, por vezes, insensível à dor alheia, somos convidados nesta semana a pausar. A refletir. A silenciar o ruído do cotidiano e mergulhar no verdadeiro significado da Páscoa — uma celebração que transcende religiões e tradições, tocando o coração humano em sua essência mais profunda: a capacidade de renascer, de acreditar e de se renovar.
A Páscoa, em sua raiz cristã, é a celebração da ressurreição de Jesus Cristo, o ápice de uma história marcada por dor, sacrifício e, sobretudo, amor incondicional. Representa a vitória da vida sobre a morte, da luz sobre as trevas, da esperança sobre o desespero. Mas muito além da tradição religiosa, a Páscoa nos entrega uma mensagem universal: a de que é possível recomeçar, mesmo depois das maiores perdas; que todo sofrimento pode, em algum momento, encontrar um sentido mais profundo; e que a fé é a chama que nos guia mesmo nas noites mais escuras.
Renascimento é a palavra que mais ressoa nesse tempo. Em um mundo tão machucado por guerras, crises sociais, econômicas e ambientais, todos buscamos um novo começo. E esse renascimento precisa ser mais do que simbólico. Ele precisa acontecer dentro de cada um de nós. É preciso renascer em atitudes, em pensamentos, em gestos cotidianos de compaixão e empatia. Precisamos renascer como sociedade, reconhecendo que o individualismo e a indiferença jamais construirão um mundo melhor.
Vivemos tempos em que a fé tem sido posta à prova. Seja pela dor das perdas na pandemia que ainda deixa cicatrizes abertas em tantas famílias, seja pela descrença nas instituições, pela desesperança frente às injustiças ou pela dificuldade de encontrar um propósito em meio a tanta informação desencontrada. Mas talvez justamente por isso a mensagem da Páscoa se faça ainda mais necessária. É no deserto que a fé se fortalece. É na escuridão que a luz se revela mais potente.
Celebrar a Páscoa é também celebrar a resistência da espiritualidade em um tempo de excessos materiais. É lembrar que não somos apenas corpo e consumo, mas também alma e propósito. Que existe algo maior do que nós mesmos guiando os caminhos da humanidade. Que a vida, por mais frágil e fugaz que seja, é sempre um milagre. E que cada dia que amanhece é uma nova chance de sermos melhores.
Aqui em nossa região, marcada por tradições religiosas, pela força das comunidades e pela fé que move famílias há gerações, a Páscoa tem um sabor ainda mais especial. Vemos igrejas cheias, celebrações comunitárias, famílias reunidas, partilhas sinceras. Mesmo diante das adversidades, ainda há espaço para o sagrado, para o espiritual, para aquilo que não se explica com palavras, mas que se sente no coração.
É bonito ver como, mesmo em meio às dificuldades, as pessoas continuam encontrando maneiras de celebrar a vida. Os gestos de solidariedade se multiplicam: cestas básicas distribuídas, visitas a idosos, ações sociais em comunidades mais vulneráveis. É como se, intuitivamente, compreendêssemos que a verdadeira essência da Páscoa está na partilha e no cuidado com o outro.
Religião, quando vivida em sua pureza, nos aproxima uns dos outros. Em vez de nos dividir, ela nos une por aquilo que é comum: o desejo de paz, a busca por sentido, o anseio por amor. A Páscoa é um convite para redescobrirmos o que de mais nobre existe na fé: a humildade, a entrega, a confiança no bem. E isso não é exclusividade de uma crença ou doutrina. É um chamado para toda a humanidade.
Neste editorial, queremos lançar um olhar para além das palavras e dos rituais. Queremos convidar você, leitor, a fazer uma pausa real. A pensar em quais áreas da sua vida precisam de renascimento. O que você precisa deixar para trás? Que atitudes precisam morrer para que novas possam florescer? O que está impedindo sua esperança de brotar?
Talvez seja hora de perdoar alguém. Ou de se perdoar. Talvez seja hora de recomeçar um projeto que ficou guardado, de retomar um relacionamento, de se reconciliar com sua história, com sua cidade, com seus sonhos. Talvez seja hora de parar de reclamar e começar a agir. De parar de julgar e começar a escutar. De parar de temer e começar a confiar.
Cada pessoa, à sua maneira, é chamada a viver a Páscoa não apenas como um feriado, mas como uma experiência de transformação. E transformação exige coragem. Exige abrir mão do que é velho, conhecido, confortável, para dar lugar ao novo, ao incerto, ao que ainda está por vir.
A renovação que a Páscoa nos propõe não acontece de um dia para o outro. É um processo. Um passo de cada vez. Uma escolha diária por valores mais elevados. Pela verdade, pela justiça, pelo amor. E quando mais pessoas escolhem caminhar nessa direção, os dias melhores que tanto almejamos deixam de ser apenas uma promessa distante — tornam-se realidade possível.
Como jornal, temos o compromisso de noticiar os fatos, de informar com seriedade, mas também de abrir espaço para reflexões como esta. Afinal, informar é também formar. E neste tempo de Páscoa, queremos ser instrumento de esperança, de inspiração e de fé. Queremos lembrar aos nossos leitores que, apesar de todas as dores, ainda vale a pena acreditar.
Acreditar na força da comunidade. Acreditar na superação das dificuldades. Acreditar em novas oportunidades. Acreditar que dias melhores virão — e que não virão apenas do alto, mas da ação de cada um de nós, em nosso cotidiano, em nossas escolhas, em nossos pequenos grandes gestos de amor.
Finalizamos este editorial com a certeza de que a Páscoa é, sobretudo, uma convocação à vida. Vida plena, vida consciente, vida comprometida com o bem comum. Que este tempo sagrado nos inspire a olhar menos para as telas e mais para os olhos. A julgar menos e acolher mais. A temer menos e amar mais. A viver com mais verdade.
Desejamos a todos os leitores e suas famílias uma Páscoa de luz, de fé, de reencontros e de recomeços. Que, juntos, possamos renascer como indivíduos e como sociedade. Porque sempre é tempo de se renovar. Sempre é tempo de acreditar.
Boa Páscoa. Boa vida.