O sanhaço e o sabiá-poca
De manhãzinha, saí no quintal, as aves estavam fazendo festa.
Umas cantando, outras piando, parecia uma orquestra — como já diziam os poetas.
Fiquei ali pensando e apreciando aquele cenário.
Era época de muitas frutas, e tinha um pé de mamão carregado bem no alto!
Então avistei um sanhaço. Ele bicava o mamão maduro. Já dava para entrar dentro do buraco feito por ele.
Foi aí que avistei um pássaro maior!
Um sabiá-poca pousou ao lado do mamão que estava sendo consumido pelo sanhaço.
Mas fiquei surpreso com o que vi: o sanhaço bicava o mamão e servia ao sabiá-poca!
Como se fosse filhote!
Parece mentira?
Sim!
Por um bom tempo fiquei impressionado com aquele acontecimento.
Permaneci ali tentando entender, e vi que o sanhaço chegava a entrar dentro do mamão — este já mole, parecia que ia cair no chão.
Mas como o sanhaço é menor e leve, o mamão maduro apenas balançava.
O que me veio à imaginação?
O gesto desta pequena ave.
A natureza nos surpreende. O sabiá, para não derrubar o mamão, por ser talvez mais pesado, ficava ali do ladinho, e o sanhaço, fazendo boas amizades e com amor no seu coraçãozinho, bicava e dava ao sabiá-poca.
Assim, pude ver na natureza a bondade e a gentileza, que o nosso Senhor vem mostrando em pequeninas coisas — as quais os humanos deixam a desejar, e muito.
Se nem uma folha, que é tão leve, cai sem a permissão de Deus, o que dizer deste mamão maduro e mole no pé, que o sabiá-poca espera pela bondade do sanhaço para poder se alimentar sem derrubar no chão?