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Pescaria e correria

Certo dia, um saudoso amigo me convidou:
— Vamos pescar?

Até que eu gosto. Mas não me convide para ir na beira do rio à noite.

Quando fomos, era dia ainda.

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Eu não conhecia o lugar, mas era pertinho.

E para chegar na beira do rio?

Primeiro, tivemos que passar a pé num carreador de cana. A planta toda deitada no caminho.

Saindo do canavial, foi pior: o mato tinha a altura de uma pessoa.

Eu não sabia se olhava ao meu redor para ver se tinha cobra ou outro bicho mais feio.

Achava que nem peixe tinha naquela lagoa.

Com tanto pernilongo, eu mal conseguia ficar firme com a vara de pescar.

Então, meu amigo me convidou para ir embora.

Eu concordei na hora!

Pegamos uns peixinhos. Foi bom até.

Seguimos até a estrada onde o carro estava.

Ele sempre na frente. Até que, de repente, começou a pular e a gritar de um jeito que eu não sabia se voltava para o rio ou ia ajudá-lo.

Na hora eu corri também. Ele não dizia nada!

Só pulava e gritava para Deus e todos os Santos!

O alcancei, mas ele não parava de tentar tirar a calça.

Achei por bem continuar correndo. Deixei ele para trás.

Não tinha como ajudar.

Passamos correndo pelo carreador de cana e chegamos num lugar limpo.

Meu amigo, apavorado, segurava a barra da calça com tanta força, que eu voltei e disse:
— Tira a calça de uma vez, homem!

Ele respondeu:
— Não dá!

— Mas tem alguma coisa aí! — insisti.

Com tanto custo, ele desceu a calça. Foi o maior susto essa pescaria!

De tanto que gritou e apertou, esmagou o rato que subiu numa das pernas.

Subiu e mordeu também.

Coitado do meu amigo!

Perdeu os peixinhos, a vara e os aviamentos naquela correria no meio do mato.

Eu olhei para aquilo tudo e só consegui dizer:
— Coitado do rato!

Tive que correr mais um pouco. Quase me deixou lá naquele lugar feio.

No carro, meu amigo foi se acalmando:
— Depois você limpa os peixes. Eu quero eles limpos — disse.

Ainda mais essa!

No caminho acabamos rindo muito do que aconteceu.

Agora fico imaginando: e se fosse de noite? Íamos cair no rio?

Melhor comprar o peixe mesmo.

Do que sair da pescaria nessa correria.

Ainda que foi um rato. Poderia ter sido pior.

Toninho Junqueira

Toninho Junqueira é locutor há mais de 40 anos, escritor e restaurador de cadeiras antigas e imagens sacras. Desde 2021, conduz sua própria rádio, a São Gonçalo, com 24 horas de programação sertaneja raiz. Fale com o autor por telefone ou WhatsApp: (19) 99147-8069.

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