J.R. Guedes de Oliveira

Poesia singela

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Escritor J.R. Guedes de Oliveira (Foto: Divulgação)

A figura do Dr. Erício Álvares de Azevedo Gonzaga jamais poderá ser esquecida, principalmente pelas novas gerações de sua terra natal, Capivari nascido em nossa cidade no ano de 1901, filho dos itaboraienses Dr. Francisco Luiz Gonzaga e de Dona Carlota Luísa Álvares de Azevedo Gonzaga, que, sem a menor sombra de dúvidas, fizeram história nesta cidade.

Ele que foi brilhante Promotor Público e um grande poeta, nos legou uma extraordinária folha-corrida de louváveis iniciativas no Ministério Público e lindíssimas páginas escritas em sonetos e discursos, em cidades como Iguape, Itapira e Jaboticabal, por onde passou exercendo a sua nobre profissão.

Logramos êxito, buscando o acervo que ele deixou guardado após o seu falecimento, em 1974. Assim pudemos organizar duas volumosas obras, com o título de “Sonetos de Erício Gonzaga – in Memoriam”, volumes I e II que, evidentemente, serão publicados, assim que esta pandemia passe e as coisas voltem ao seu normal.

Constatamos, ao buscar todo este material para pesquisa, uma profusão de belos e bem compostos sonetos, todos eles líricos e bem próprio de uma alma que compunha com dedicado amor à arte.

Erício Gonzaga foi, em vida, um apaixonado por sua terra natal, Capivari. Jamais esqueceu a sua origem e sempre enalteceu as suas figuras, quer na poesia, quer em seus inúmeros discursos e palestras por onde esteve à serviço do Ministério Público.

Nos tempos escolares, ainda na tenra idade, recebeu ele uma correspondência de uma sua admiradora que, depois, se tornou a sua mulher. Com o título de “Uma Cartinha”, reproduzimos esta peça maravilhosa de uma infância cheia de carinho, amor e companheirismo:

UMA CARTINHA

Erício Gonzaga

Nós frequentávamos a mesma sala
Deste grupo escolar. Eu, pela tarde;
Maria, de manhã. E, certa vez,
De tão surpreso, eu me senti sem fala;
Depois, contente, eu fiz tamanho alarde
E nem sei mais o que minhalma fez.

Aconteceu que, dentro na gaveta
Da carteira, busquei meu livro, vi
Um envelope pequenino e branco.
Numa caligrafia linda e preta,
Todo o meu nome, mui nervoso, li
E tive um riso alvissareiro e franco.

Dentro, uma folha de papel florido
Continha apenas uma frase breve:
– Ercílio, eu gosto muito e você.
E o nome dela num febril tremido.
Já contei tudo. Nada mais se escreve.
Tão simples isso. Escrever mais porquê?

Não teve data aquela carta; entanto,
Nunca mais prescreveu aquele saque
Ao meu amor, por toda a minha vida.
No meu passado é o delicioso encanto
Da minha infância, – o mais gentil ataque
À minha alma feliz e enternecida.

Eis, pois, aqui, a nossa homenagem ao poeta que também estudou no Grupo Escolar “Augusto Castanho”, ainda lá da Rua XV de Novembro com a Rua Barão do Rio Branco.

ARTIGO escrito por J. R. Guedes de Oliveira, ensaísta, biógrafo e historiador. Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal. São de inteira responsabilidade de seus autores.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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