Arnaldo Divo Rodrigues de CamargoColunistas

Por que meu filho é assim?

Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é especialista em dependência química pela USP/SP-GREA

Uma mãe nos procurou para ajudar na internação de seu filho, agora com 22 anos, dependente de álcool e cocaína.

E me disse: “Meu outro filho, com menos de 30 anos, dependente dessas drogas, se suicidou, deixando-nos um imenso vazio e amargura. Ele abortou o tratamento, ficando apenas alguns dias. Eu acreditei quando ele me disse que iria parar com o uso e pediu que o levasse embora, que iria se tratar com o médico da empresa e frequentar o grupo… E nada disso aconteceu, e tivemos a imensa surpresa de encontrá-lo já sem vida em minha própria casa”.

“E agora é o filho mais novo, mesmo vendo o que aconteceu em nossa casa, mesmo com nossa dor… Acreditei que ele não experimentaria essas coisas, que passaria de longe. Mas também se viciou. E não dá certo no estudo, no trabalho e no relacionamento com ele no uso das substâncias. Arnaldo, por que, meu filho é assim?!”…

Primeiro é preciso saber que você não tem culpa, e ele também não, por desenvolver a doença. Muitas outras pessoas experimentam e usam recreativamente e não desenvolvem a doença da adicção (ser “adicto” é ser “escravo de” algo, como o álcool, a cocaína, o cigarro, o sexo, as emoções descontroladas). Quem se torna adicto poderia ter escolhido outros caminhos para ser feliz, mas buscou a porta falsa das drogas, que tira a coisa mais importante da vida: a liberdade de escolha.

Porém, não sendo “culpado” da doença, por outro lado o dependente químico deve tomar consciência de que é responsável por sua recuperação, que tem de se propor à abstinência, só por hoje, para permanecer sóbrio.

E se nós, pais, somos sovados por Deus com filhos em dificuldades temporárias, é para nosso crescimento: quanto maior a dificuldade, mais mérito teremos e mais próximos do Criador estaremos.

Deus nos concede por graça duas bênçãos: a vida e o livre-arbítrio.

O filho que se suicidou não morreu, porque suicídio não é morte – a vida continua na outra dimensão. Desfrutando do livre-arbítrio, fazemos a escolha, quando a fazemos equivocada, vamos responder por ela. Mas Deus tem muito, muito para nos doar em compaixão e misericórdia; Ele não é um Pai carrasco, é um Pai generoso.

Lembro aqui o ensinamento de uma personalidade que viveu entre os séculos VI e V antes de Jesus, com uma filosofia e moral próprias: Buda. Para nós, no Ocidente, Jesus Cristo é a figura religiosa mais conhecida e fonte de muitas luzes e aprimoramento acerca de sua vida e feitos; no caso do Oriente, Buda detém essa posição.  Ele ensinou: “Eu sou o resultado de meus próprios atos, sou herdeiro de atos; os atos são a matriz que me trouxe, os atos são o meu parentesco; os atos recaem sobre mim; qualquer ato que eu realize, bom ou mau, eu dele herdarei. Eis em que deve sempre refletir todo o homem e toda mulher” – em busca de sua paz e felicidade.

ARTIGO escrito por Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é especialista em dependência química pela USP/SP-GREA
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Jornal O Semanário

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